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Sérgio Ricardo, agora pintor, quer mostrar suas telas aqui

Sérgio Ricardo esteve no início da semana em Curitiba. Veio não apenas para assinar o contrato de autorização para que o Ballet Guaíra apresente "Flicts", com sua música (temporada de 4 a 9 de outubro), mas aproveitou para fazer contatos também numa nova área: a de artes plásticas. É que há alguns anos o autor de "Zelão" vem se dedicando a criar esculturas, óleos e desenhos - que, finalmente, agora decidiu mostrá-las de forma mais profissional. Sérgio acaba de concluir o seu 40º óleo, dentro de uma linha muito própria, com toques de um fino erotismo, que já constituem material para exposições. Antes de chegar as galerias do Rio de Janeiro, pretende expor em Curitiba e São Paulo. Tanto é que já manteve os primeiros contatos e quem viu as fotografias de seus quadros reconheceu que assim como na música e no cinema, também em artes plásticas, ele sabe o que faz. Ou seja, tem a qualidade que o caracteriza há 30 anos como uma das grandes presenças da vida cultural brasileira. xxx Sérgio Ricardo - no registro civil João Mansur Lufti, paulista de Marília, 57 anos completados no último dia 18 de junho tem deixado a marca de seu talento em inúmeras atividades. Foi radialista numa emissora de um tio em São Vicente, ator nos pioneiros tempos da televisão (quando ganhou o nome artístico) e, como músico, em 1953 substituía Antônio Carlos Jobim numa boate em Copacabana e logo depois trabalhava na gravadora Continental. Mesmo sem enturmar-se com o chamado grupo carioca da Bossa Nova, seria um dos compositores mais importantes, naquela fase, inovando antes mesmo do movimento eclodir no final dos anos 50. Quando estudava orquestração na Escola Nacional de Música começou a compor e cantar e ouvido pelo produtor Nazareno de Brito gravou um primeiro 78 rpm com "Cafezinho". Mas seria Maysa (1936-1977) ao gravar em 1958 seu samba-canção "Buquê de Isabel", que lhe daria a primeira projeção. Dois álbuns históricos ("A Bossa Romântica de Sérgio Ricardo", 1960, e "Depois do Amor", 1961, ambos na Odeon) mostrariam o seu lado de compositor ("Zelão", "Pernas", "Não Gosto mais de Mim", etc.) e intérprete músico. Sempre eclético, fez a trilha sonora de "Deus e o Diabo na Terra do Sol" de seu amigo Glauber Rocha e se lançou no cinema, com um curta, "O menino de Calça Branca", que tinha, entre os atores, Ziraldo. Depois vieram os longas "Esse Mundo É Meu" (1963), "Juliana do Amor Perdido" e "A Noite do Espantalho" (1974, rodado na fazenda Nova Jerusalém, em Pernambuco). Viagens ao exterior (no Líbano, fez um premiado curta em 1964, "O Pássaro da Aldeia"), músicas para a peça "O Coronel de Macambira" ) de Joaquim Cardoso`), corajosos elepês nos quais passava o protesto nos anos mais duros da ditadura militar ("A Grande Música de Sérgio Ricardo", "Um Senhor Talento" e, especialmente, "Arrebentação", 1971) o marcaram como um dos mais autênticos compositores de protesto. Para o grande público, entretanto, ficou a imagem do compositor irado que, em outubro de 1967, ao apresentar no II Festival de MPB / TV Record, seu incompreendido "Beto Bom de Bola" (uma homenagem a Garrincha), em protesto às vaias, que quebrou o violão e abandonou o Festival. Até hoje já quem o identifique apenas por este ato, ignorando uma obra imensa, consciente e maravilhosa. xxx Afastado dos estúdios há mais de 10 anos, descrente com o comercialismo que nivelou por baixo a nossa música, nem por isto Sérgio Ricardo deixou de compor. Tem centenas de músicas inéditas, dedicando-se, nos últimos anos, a trabalhos de maior fôlego, como a criação da música de balé "Estória de João-Joana", baseado num cordel do poeta Carlos Drummond de Andrade, desenvolvido a partir de 1982 e que até hoje teve uma única apresentação no palco, em maio de 1985, no Teatro João Caetano, com o grupo Nós da Dança, dirigido por Sônia Dias. A convite do secretário René Dotti e do superintendente Constantino Viaro, esta obra deveria ter sido montada no ano passado pelo Ballet Guaíra, mas por razões nebulosas, isto não aconteceu. Com isto, quem perdeu foi o grupo oficial de danças, já que se trata de um trabalho de primeira categoria - com a música com arranjo de Radamés Gnatalli e o livreto do poeta maior Carlos Drummond de Andrade. Como espetáculo musical, "João-Joana" já teve apresentações em Brasília, com orquestra Sinfônica e num disco independente, editado há 4 anos, a música foi perpetuada com bonitas interpretações, com voz do próprio Sérgio e Alexandre Gnatalli regendo a orquestra. xxx Na tranqüilidade de quem tem consciência de uma obra segura, mesmo sem o reconhecimento imediato, Sérgio não parou. Tem novas composições na linha que chama de "popular erudita", aguarda que a Embrafilme retome aos financiamentos para realizar um novo filme - "João-Joana" (o roteiro foi considerado o melhor dos que tiveram análise da empresa no ano passado), a ser rodado no Centro-Oeste e um projeto anterior, "Zelão" - sobre a resistência dos moradores da favela do Vidigal (experiência da qual participou diretamente) foi transformada numa premiada peça ("Bandeirantes de Retalhos"), ainda inédita nos palcos. Enquanto não há condições de fazer seu novo longa (que custará entre US$ 700 a US$ 1 milhão), Sérgio vem realizando elogiados curtas (a disposição junto a Filmoteca Shell, mas inéditos em Curitiba): "Copacabana", inspirado num poema de Vinícius de Moraes (1985); "Zaluar e Cor" (1986), "Ferreira Gular - A Voz do Poeta" (1987), "O Espetáculo Continua" (1988), sobre um circo de periferia, além do registro filmado do movimento comunitário que participou em "Balanço do Vidigal" (1984). Este ano, Sérgio desenvolveu dois novos projetos: a convite do Tuca (Teatro da Universidade Católica - São Paulo) fez um painel de 17 x 3 metros (com a temática Esporte e Cultura) no restaurante daquela unidade e, estimulado pelo diretor Geraldo Jordão Pereira, da Salamandra, escreveu e ilustrou um livro infantil, "O Elefante Dorminhoco", que está tendo excelente aceitação. Dependendo de ultimar alguns detalhes, é possível que Sérgio faça uma tarde de autógrafos deste livro em Curitiba, em outubro, quando aqui voltará para assistir a estréia do balé "Flicts".
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
23/09/1989
TENHO DUAS MARINAS ADQUIRIDAS EM 1993 . ATRIBUIDAS AO PERIODO DE EXÍLIO. GOSTARIA DE ENVIAR IMAGENS DESTAS PEÇAS PARA TER CERTEZA DA VERACIDADE. QUAL O ENDEREÇO VIRTUAL A SER ENVIADO. GRATO

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