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Aramis

Sexo e drogas entre as sete boas estréias

Sete estréias numa mesma semana - das quais pelo menos três dignas de verificação - trazem novamente aquela velha reclamação dos cinéfilos que não podem se "dedicar" em tempo integral aos filmes em exibição - que, muitas vezes, nem chegam a segunda semana. Assim, numa semana em que já está em exibição aquele que se afigura como um dos melhores do ano - o visceral e atualíssimo "Radio Talk: Verdades que Matam" (desperdiçado no distante Cine Guarani, com público de 3 a 5 espectadores por sessão), estréiam os aguardadíssimos "Febre da Selva", nova provocação criativa de Spike Lee e "Os Commitments - Loucos pela Fama", que trouxe a São Paulo, para promovê-lo melhor, o diretor Alan Parker. Agora estes dois pesos-pesados - e que, se torce, ultrapassem uma semana - há haviam estreado na segunda-feira na comédia "Romuald & Juliette", da francesa Coline Serreau ("Três Homens e um Bebê"), brincadeira livremente shakespereana que, salvo engano, já havia motivado um filme do ator-diretor Peter Ustinov com John Gavin há mais de 25 anos. Richard Benjamin, que começou como (medíocre) ator mas vem se revelando um diretor de comédias razoáveis assina "Minha Mãe é uma Seria" (Astor), sobre uma mulher excêntrica (Cher), que vive se mudando de cidade em companhia de suas filhas adolescentes (Wynona Ryder / Christina Ricci). A ação se passa em 1963 e no elenco um ótimo ator - Bob Hoskins. A trilha sonora (Jack Nitszche) tem um recomendação. Por favor não confundam "A Casa Assassinada" [?] (La Maison Assassinés) - estréia no Groff - com "Crônicas da Casa Assassinada" [??], o dramático, tenso e inesquecível filme de Paulo César Sarraceni, da obra de Lúcio que teve uma trilha imortal de Antônio Carlos Jobim. Esta "Casa Assassinada" é um filme de mistério, de Georges Lautner (que fez uma série de policiais com Alain Delon), com Patrick Bruel e Anne Brochet. John Le Carné, autor de "O Espião que Veio do Frio" - um clássico sobre espionagem & guerra fria (transformado num ótimo filme por Martin Ritt) publicou recentemente "A Casa da Rússia", que em dois tempos foi levado a tela pelo austríaco (radicado nos EUA) Fred Schepsi, com um esplêndido elenco: Roy Scheider, James Fox, Klaus Maria Brandauer, Sean Connery e Michele Pfeiffer. Estréia no Palace Itália. A Vez dos Negros - A coincidência na estréias de duas recentíssimas produções que abordam personagens negros - "New Jack City - A Gang Brutal", de Mário Van Peebles (São João) e o badaladíssimo "Febre na Selva", de Spike Lee (Condor) oferecem excelentes condições para se apreciar uma nova tendência que cresce dentro do cinema americano deste final de década: a ascensão de jovens cineastas negros, marginalizados por décadas em Hollywood, o que constitui tema para profundas análises. O esperto Lee, após o sucesso de "Faça a Coisa Certa" e "Mais e Melhores Blues" - nos quais desenvolveu notáveis colocações dos negros dentro da comunidade americana - vai ainda mais a fundo ao contar agora o relacionamento de um arquiteto negro, Flipper Purify (Wesley Snips) e Ângela (Annabella Sciorra), sua secretária ítalo-americana, e a discriminado que sofrem. Lee, embora com mão leve, coloca o dedo na ferida dos preconceitos e neste novo filme - em cujo elenco ele, como sempre acontece, também tem papel de destaque (Cyrus) e no qual estão Anthony Quinn, Ossie Davis e a cantriz Rudy Dee - traça um microcosmos da Nova Iorque intolerante. A trilha sonora é de Stevie Wonder / Terence Blanchard (já lançada pela Barclay), está, em nosso entendimento, entre os melhores discos internacionais do ano. Só pela música, "Jungle Fever", justifica a imediata visão. O mesmo Wesley Snipes de "Febre na Selva" está também na cabeça do elenco de "New Jack City - A Gang Brutal", mas num personagem totalmente diferente: é Nino Brown, jovem, galante, forte e rico americano que é o "barão das drogas" nos bairros negros nova-iorquinos, líder da "Cash Money Brothers" - e que através de um amigo de infância, "Gee Money" (Allen Payne) passa a traficar crack - a droga mais letal surgida nos últimos anos. Este mundo de drogas levou Mario Van Peebles - também ator (faz Stone, um policial), a oferecer uma visão no qual apesar da violência, declarou no Rio, em 9 de setembro último (quando veio para a estréia do filme, na 3ª Mostra do Banco Nacional), se preocupou em denunciar para os jovens, os riscos das drogas. Rodado em locações no Harlen Bronx, "New City" utiliza uma autêntica fauna junkie para dar veracidade às imagens do fotógrafo Francis Kenny e no elenco o segundo nome é do Rapper Ice-T. Outro filme de visão obrigatória. Alan Parker ("Fama", "Mississippi em Chamas", "O Expresso da Meia Noite") foi a Irlanda para contar a história da formação de um grupo de rock. Com um elenco desconhecido - mas obtendo resultados elogiadíssimos - "Os Commitments - Loucos pela Fama" (Itália) é a sétima grande estréia da semana. Com público alvo na juventude, não deixa porém de ser um filme de verificação pelos que aprenderam a respeitar o trabalho do inglês Parker pelos seus (bons) filmes anteriores. Vale conferir. LEGENDA FOTO - Um elenco basicamente negro - incluindo o rapper "Ice T"- em "New Jack City": abordagem sobre o mundo das drogas pesadas em Nova Iorque.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Nenhum
17
01/11/1991

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