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Souto busca nobreza e descobre as telas

Francisco Souto Neto, 43 anos, advogado e bancário - assessor da Diretoria de Crédito Rural do Banestado, é um exemplo de que a perseverança vence os obstáculos. Há mais de um ano ao visitar o Cemitério do Catumbi, no Rio de Janeiro, horrorizou-se ao ver o estado de abandono em que se encontrava aquele campo santo, onde repousam os restos mortais de seus antepassados - ao lado de outros vultos eméritos, como o Duque de Caxias. Souto Neto moveu céus e terras, fez mais de 30 cartas a diferentes autoridades, foi notícia nacional e, finalmente, viu recompensados seus esforços. Em 29 de setembro último, encaminhou uma carta ao monsenhor Abílio Ferreira da Nova, procurador da venerável Ordem 3ª dos Mínimos de São Francisco de Paula, responsável pelo Cemitério do Catumbi, dizendo que agora as alamedas foram limpadas e restauradas com cimento, "o que impedirá o crescimento de ervas daninhas" e assim louva o trabalho do sr. Norberto Porfírio Ferreira, administrador daquele campo santo. xxx Em sua preocupação pela restauração do Cemitério do Catumbi, Francisco Souto Neto embrenhou-se na genealogia de sua família e descobriu que o título de visconde está vago. Embora seja o "secundogênito varão" na família - mas como conta com a desistência formal de seu irmão, Olímpio, mais velho, Francisco iniciou o lento, difícil mas estimulante processo de reivindicar o título nobiliárquico. A documentação já foi enviada ao Conselho de Nobreza, em Portugal e dias atrás, recebeu um telefonema do próprio duque de Bragança, comunicando que o processo terá uma recomendação especial. Assim, é possível que em breve, Souto Neto possa ostentar um título de visconde em seu curriculum e cartões de visitas. xxx Junto ao Banestado, do qual é funcionário há mais de 20 anos Souto Neto tem se preocupado em dinamizar atividades culturais. Foi, por exemplo, o idealizador do Salão Banestado de Novos Talentos, já em sua terceira edição e que tem revelado alguns talentos. Mas o projeto maior que Francisco Souto Neto conseguiu ver aprovado foi a criação do Museu Banestado, cuja comissão de implantação vem presidindo com entusiasmo. E graças ao faro de Francisco para reunir tudo que se relaciona à história de nosso banco oficial, acabou descobrindo oito telas de Theodoro De Bona, com retratos de ex-presidentes do banco, que há anos estavam jogadas nos depósitos da instituição. Foram tão maltratadas, que a professora Maria Ester Teixeira Cruz, do ateliê de restauro do Solar do Barão, está às voltas para conseguir recuperá-las. Para tanto, terá que substituir os chassi das molduras (infestadas de cupins), nivelamento das telas, reentelamento (devido ao descolamento da camada de pintura), limpeza, retoques e camadas de proteção, sem falar na recuperação dos diversos furos que as obras apresentam. Também as molduras que estão danificadas e quebradas, serão reconstituídas, limpas e pintadas. xxx A história da garimpagem para descobrir estas telas está contada por Souto Neto no último número de "Todos Nós", órgão de divulgação dos funcionários do Banestado. Valendo uma média de Cz$ 150 mil cada um destes quadros - afinal, o velho De Bona, 81 anos, doente e praticamente sem mais pintar é hoje um dos mais valorizados artistas paranaenses - estas telas foram feitas nos anos 40 e até agora não se sabe quem teve a idéia de encomendá-los. Dos oito retratos, um inclusive não foi sequer identificado - o que prova a falta de documentação e memória do Banestado, justificando plenamente o projeto histórico que Francisco Souto Neto vem empenhando-se em realizar. As telas identificadas trazem o primeiro presidente do banco, Pretextato Taborda Ribas e outros paranaenses que ocuparam as mesmas funções: David da Silva Carneiro, Gustavo A. de Carvalho, Bertholdo Hauer, Ivo Abreu de Leão, Rivadávia de Macedo e Acrcésio Correia Lima. xxx O abandono destas telas, que somente foram localizadas graças ao empenho de Souto Neto, mostra de como o Estado sempre ignorou o seu acervo artístico. Por exemplo, estas telas, quando foram retiradas da sala da diretoria (Quando? Por decisão de quem?), acabaram tratadas como entulho, servindo de base para caixotes a julgar pelos danos causados às mesmas, furadas e rasgadas, diz Souto Neto. Por ocasião da inauguração do Centro Administrativo Banestado em 24 de novembro de 1978, os diversos setores foram sendo, aos poucos, transferidos para Santa Cândida. E as telas de De Bona vieram, por acaso, acondicionads numa grande caixa de papelão. Entretanto, ninguém delas sabia, ao menos oficialmente. - "Mas havia uma espécie de lenda a respeito de diversos quadros de alto valor, esquecidos em algum ponto" - diz Souto Neto. Este ano, Souto Neto tentou encontrá-las na caixa forte do banco. Claro que não estavam lá. Finalmente, no dia 12 de junho de 1986 (por coincidência, véspera do aniversário de De Bona) um funcionário humilde, Otto Florentino, mexendo em velhas caixas de papelão no depósito do seu setor de trabalho, encontrou as oito telas. Identificando-as e presumindo o seu valor, comunicou o fato à diretoria e com isto Souto Neto exultou: afinal, localizava uma preciosidade para o acervo do Museu Banestado.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
13
04/11/1986

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