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Aramis

A Stiletto chega cortando fundo no som hard do rock

A Stiletto, um dos mais ágeis selos da área pop/rock, com sede em Londres, é o exemplo de como funciona o mercado específico para esta faixa. Em 1987, Laurence Brennan, 41 anos, fundador do selo, firmou um acordo com o Estúdio Eldorado (ligado ao grupo "O Estado de São Paulo") para prensagem e edição de sua produção. Apesar de todo o poderio do Eldorado (que também tem sofrido muitas modificações em sua orientação artística), o contrato não seria renovado e no segundo semestre de 1988 a Stiletto fazia um acordo com a BMG/Ariola, pelo qual seriam prensados e distribuídos um mínimo de 30 discos. Agora, cada vez mais autônoma, a Stiletto está associada, apenas para distribuição e vendas, como a ex-CBS, hoje Sony do Brasil, cujo representante territorial é o experiente Caetano. Sua divulgação, porém, é de um disc-jockey com larga quilometragem nas discotecas e danceterias da cidade: Marcos Carneiro da Silva, 30 anos, que atua principalmente na promoção direta dos produtos junto a discotecas e danceterias com o "1250 Studio", "Moustache", "Sistema X", "Zoom", "Amnésia", "Aeroanta" e outras casas que tem uma freqüência jovem. FMs, com programação voltada ao rock/pop - como a Caiobá, Transamérica, 104, Stúdio 96, Stúdio 98 e Estação Primeira, também abrem muito o espaço para o som pesado que os artistas da Stiletto fazem. Distribuindo um jornalzinho bem impresso - "Stiletto News" - e tendo na recente vinda ao Brasil, para o Rock in Rio II, do grupo Information Society, um ativador de sua presença no mercado, a Stiletto está confiante em ampliar sua participação no mercado. Naturalmente, a ponta de lança é o grupo metálico Information Society, cujo novo elepê - "Hack" - foi aqui lançado simultaneamente aos Estados Unidos. Anteriormente, a Information Society havia emplacado 300 mil cópias de seu elepê só nos Estados Unidos. Para dar uma idéia deste produto, interessante transcrever o que um especialista em rock, Jean Yves de Neupfille, escreveu na "Folha de São Paulo": "O título do disco significa o ato de acender nos programas e na memória de um computador alheio. Às 15 faixas armadas por Paul Robb (programador, produtor e compositor), Kurt Valaquca (vocal) e James Cassidy (baixo) devem alterar todos os programas existentes na média, pois mexem profundamente na memória do pop, reformulando todas as certezas musicais adquiridas com ferramentas digitalizadas como o sempler". Curiosidade: na original capa deste elepê (atenção Ivens Fontoura, que como designer está acompanhando o mercado para escolher, no final deste ano, os 10 melhores projetos visuais), vem a inscrição "This is not art" (Isto não é arte). Ou seja, os garotos do Information Society são honestos: assumem a descartabilidade de seu produto, "inventando uma forma de fazer durar o máximo possível a síntese do lixo pop que produz", como disse Neupfille. Poise Noire é uma banda belga, criada em 1984, e que tem uma coleção ("Complicated - Complet 84-89") agora lançado pela Stiletto. Suas influências vão desde a música eletrônica até a gótica, passando por grupos como The Cure, The "The", Lou Reed e Nick Cave. Outra mostra de que os belgas fazem pop: "Marc Icz e Chrismar Chayell" tocam juntos em 1980. Ambos se interessavam pela música eletrônica e, em 1986, juntaram-se para fazer "Split Second", que teve hits como "Flesh" e "On Comand". A barulheira era tão diferente que um DJ (Fat Ronnie) da discoteca "Ghent" o tocou na rotação de 33 rpm ao invés de 45 rpm. Resultado: surgia aquilo que se chamaria de "new beat". Os discos sucederam-se: "Ballistica Statues" (1987), "Smell of Buddhal", "Scandinavian Bellydance" (1988) e "From the Insid", "Colosseum Crash" e "Kiss of Fire". Agora o grupo aterrizou no Brasil com a coletânea "Lay Back and Join", que reúne os maiores hits da banda nestes seus 5 anos de existência. Outro grupo que a Stiletto traz ao Brasil é o TKA, através do elepê "Louder than Love". Formado por Joey Gardner, Tom Richardson e Kevin Laffey, com um repertório próprio - e chamando amigos vocalistas e instrumentistas para participações especiais - a banda traz, naturalmente, um som pesado, na filosofia auditiva da própria etiqueta. Bandas Nacionais - O fundador da Stiletto, Lawrence Brenhan, há três anos, através de sua empresa Rio Records, vem distribuindo discos de artistas brasileiros, de diferentes etiquetas, para o Japão, Alemanha, Áustria, Suíça, Austrália, etc. Em 1989 anunciava que sua intenção era "descobrir e gravar novas bandas brasileiras". Pelo visto, a promessa está sendo cumprida: sai agora o elepê "Time will Burn", com a paulista Pin Up. Formada em agosto de 1988, a banda Pin Up, integrada com Luís G. Gustavo (baixo / vocais principais), Zé Antônio (guitarra / vocais) na liderança e criação das músicas principais, naturalmente reflete toda uma formação de som colonizador - que vem desde o que chamam de "Sabores da Class of 86" (movimento inglês de bandas independentes, inspirado em arquétipos dos anos 60) com toques de pop soft-psicodelia. Como diz Fernando Naporano, outro jornalista especializado em rock, no release, "o grupo adentrou a selvageria primal dos Stooges e MC-5, o lado crítico dos Byrds e o espírito despojado das garage-bands. Após terem atravessado esta imaculada concepção, tomaram excessivas doses de algumas das bandas mais infernais da atualidade, tais como Birdland, Spaceman 3, The Telescopes, My Bloody Valentine, Loop, Sonic Youth e Jesus and Mary Chain". Ou seja: uma salada russa para deixar ouvidos ensurdecidos. Quem quiser que se arrisque... E a Stiletto tem planos amplos, pois já lançou vários outros álbuns, como o "Bil Pritchard / 3 Months, 3 Weeks & 2 Days", a antologia "The Best of Eurodance" (3 volumes), "The PWL Remises - 1990" (I), Jason Donoan ("Between the Lines"), Force Mo's ("Step to Me") e, uma outra banda nova, brasileira, Novas Tendências. LEGENDA FOTO 1 - Information Society: a banda de rock que está catipultando a Stiletto em sua nova fase. LEGENDA FOTO 2 - Cláudio Condé, presidente da Sony Music (ex-CBS), no Brasil, assinando o contrato com Lawrence Brenhan, da Stiletto, para a distribuição dos discos desta etiqueta especializada em rock/pop.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Música
4
03/03/1991

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