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Aramis

Sucesso de Fernandinha ajuda exibição das fitas nacionais

A excelente bilheteria de "Com Licença, Eu Vou a Luta!" (terceira semana, cines Lido 1/Ritz) é importante por várias razões. Em primeiro lugar por confirmar que para um bom produto existe público. Em segundo lugar mostra que o filme do jovem Lui Farias, baseado igualmente num texto de uma jovem (Eliane Maciel) e tratando das relações entre pais e adolescentes pode criar uma empatia com amplas faixas de espectadores. Assim, mais do que a presença de nomes conhecidos como Fernanda Torres e Marieta Severo, "Com Licença, Eu Vou a Luta!" é forte - inclusive com toques de neo-realismo pelos cenários despojados da baixada Fluminense, onde foi rodado - e que permanecerá, com certeza, mais uma semana no Ritz. E o êxito do filme de Lui Farias animou a João Aracheski a programar duas outras produções nacionais - "O Rei do Rio", de Fábio Barreto e "Marvada Carne", de André Klotzel, que há dois anos esperavam a vez e hora para chegar em nossas telas. As produções nacionais são os destaques nesta semana - no Groff, está em exibição o documentário "A Igreja da libertação", de Sílvio Da-Rin. Das estréias, há um thriller interessante, com um argumento original - "FX - Assassinato sem Morte" (FX Murder By Illusion), do estreante Robert Mandell, com um elenco de novos intérpretes - Bryan Brown, Brian Dennehy, Diane Verona e Cliff de Young. No cine Plaza. xxx A Marvada Carne O grande premiado no Festival de Gramado, há dois anos, o filme de estréia de André Klotzel, "A Marvada Carne" demorou para chegar aos circuitos comerciais. Há mais de um ano, teve uma única projeção na inauguração no Cine Luz, mas na ocasião a Tatu Filmes, produtora da fita, impediu que o filme ali tivesse lançamento. É que entusiasmado pelas premiações em Gramado - direção, roteiro, filme (júri oficial/popular), atriz (Fernanda Torres), fotografia, montagem, cenografia, música, mais o prêmio da crítica, menção de coadjuvante para Dionísio Azevedo, Kodak de fotografia e prêmio Vasp, Klotzel impôs muitas exigências para a exibição do filme. Assim, enquanto o mesmo era levado há uma dezena de mostras - no Canadá, Estados Unidos, Havana, México, Alemanha, Rússia, Espanha, Itália, França e Bélgica - permanecia inédito no Brasil. A premiação de Fernandinha Torres em Cannes por "Eu sei que vou te amar" - e a sua transformação na estrela-86 - fez com que, agora, "A Marvada Carne" ganhasse maior impulso e após seu lançamento no Rio e São Paulo, chegue a Curitiba, só que, infelizmente, num cinema de público acostumado a pornofitas e filmes de violência - o São João, onde, na semana passada, fracassou o interessante "Asas de Fogo" de Sidney J. Furie (agora, no Cinema I). Filme assumidamente caipira, "A Marvada Carne" é, entretanto, obra deliciosa. Por coincidência, a temática abordada não poderia ser mais atual nesta época em que a carne desapareceu dos frigoríficos e açougues. Afinal, a história é de uma extrema simplicidade: Nhô Quim (Adilson Barros), que vive lá nos cafundós e leva aquela vidinha besta no meio do mato em companhia do cachorro e da cabra de estimação, só tem dois sonhos: arranjar uma boa moça para o casório e comer a tal de carne de boi, um desejo que fica ruminando sem parar dentro dele. Nas suas andanças Nhô Quim vai dar na casa de Nhô Totó (Dionísio Azevedo) e Nhá Policena (Geny Prado), cuja filha, Sá Carula (Fernandinha Torres), está em conflito com Santo Antonio que não anda colaborando para ela arranjar um bom partido. Bem, o resto da história será visto no filme que tem estréia programada para o dia 8, no São João, mas precedido de pré-estréia, possivelmente com a presença de Fernanda Torres e do diretor Klotzel, em promoção do colunista e candidato a vereador (em 88), Ruy Barroso. xxx O Rei do Rio Como "A Marvada Carne", também "O Rei do Rio demorou para chegar às telas. E agora está em exibição no São João. Só que este filme de Fábio Barreto, a promissora estréia de "Índia", não teve carreira de prêmios em festivais e, em seu lançamento no eixo Rio/São Paulo, não encontrou também sucesso de público. Seu argumento é urbano: o mundo do jogo do bicho no Rio de Janeiro, com violências, traições e, naturalmente, Carnaval. Com roteiro de Jorge Duran, José Joffily Filho e Fábio Barreto, baseado em idéia original de Dias Gomes (que desenvolveu o tema num musical de Chico Buarque/ Edu Lobo e, também, na telenovela "Bandeira Dois"), "O Rei do Rio" aborda a ascensão de Nico (Nelson Xavier) e Tucão (Nuno Leal Maia), amigos desde a infância vivida no subúrbio e que trabalhando no jogo do bicho para Mestre Cacareco (Milton Gonçalves), sonham com uma vida melhor e se associam para fazer frente ao grande banqueiro e ocupar seu lugar. A ação se passa em 1964, quando uma perseguição aos bicheiros tradicionais permite que Nico e Tucão se projetem em seus negócios mas iniciem, entre si, uma disputa pelos "pontos" mais lucrativos. Naturalmente, isto conduz a violência e a um final dramático. Caçula de uma família cinematográfica - avó (Lucilia) e pais (Luís Carlos e Luci) produtores; irmão (Bruno) diretor, Fábio Barreto, 29 anos, mostrou muito talento ao estrear no longa- metragem em "Índia, a Filha do Sol", baseado em romance de Bernardo Elis e que motivou a Caetano Veloso, autor da trilha sonora, uma das mais belas canções dos anos 70. "O Rei do Rio" tem direção musical de Sérgio Sarraceni, com composições de Eduardo Duzek e Luís Carlos Góes. No elenco, entre belas mulheres, o lançamento de uma sensualíssima atriz venezuelana, Amparo Grisales, que deveria ter se transformado em sex-simbol em 1984, mas que acabou foi nas páginas policiais. O que é outra história... xxx Os filmes que permanecem "A Cor Púrpura", de Steven Spielberg - seguramente entre os dez melhores filmes do ano -, permanece no Astor. Uma obra profunda e belíssima, com toda a sensibilidade de Spielberg (de quem, "E.T.", em versão dublada, voltou no cine Lido II) esta obra injustiçada pela Academia merece, mesmo, ser vista e revista. "Karatê Kid II - A Hora da Verdade", de John G. Avildsen, com sessões lotadas no Vitória, também tem presença garantida por mais algumas semanas. "Os Bostinianos - Um Triângulo Diferente", belo filme que James Ivory realizou com base no romance de Henry James, publicado em 1886, está atraindo um bom público no Cine luz. Vamos ver se, desta vez, Francisco Alves dos Santos segura o filme em cartaz, evitando substituí-lo quando cresce a bilheteria, o que tem, infelizmente, acontecido naquela sala. Justiça seja feita: o bom Chico busca sempre prestigiar os filmes nacionais e, portanto, empenhou-se em promover o documentário "A Igreja da Libertação" de Silvio Da-Rin, que encerrando a mostra Cinema e Religião, terá, no mínimo, mais seis dias de exibição no Groff. Abordando um assunto da atualidade - a presença política da Igreja, especialmente o enfoque na Teologia da Libertação, o filme de Da-Rin proporciona que se conheça melhor esta questão e focaliza personalidades importantes, inclusive o frei Leonardo Boff, que, entretanto, não fala nada - já que na época das filmagens estava proibido pelo Vaticano de abrir a boca. A aviação - tema que já rendeu centenas filmes ao cinema americano, volta em dois filmes: "Ases Indomáveis" (Top Guns), de Tony Scott ("Fome de Viver") , a maior bilheteria nos EUA neste primeiro semestre (cine Condor, 3ª semana) e "Águia de Aço", de Sidney Furie, (Cine São João). Para quem gosta um prato duplo... xxx Cine Especial Em horários especiais, dois bons programas: amanhã a meia noite e domingo, às 10h30m, no Cine Groff, "As Noites de Cabiria", belíssimo filme que Federico Fellini realizou há 30 anos e que mereceria relançamento normal. Por que será que Chico Alves não dá esta chance aos fãs do grande cineasta italiano? No Astor, amanhã, em pré-estréia (meia-noite), "Nove Semanas e Meia de Amor", de Adrian Lyne ("Flash Dance"), com a nova sex-simbol americana - Kim Basinger e um novo ator que começa a explodir, Mickey Rourke, que também pode ser visto no movimentado "O Ano do Dragão" (Year of the Dragon), de Michael Cimino ("O Franco Atirador", "Portal do Paraíso"), que estreou, inesperadamente no Palace Itália. E que merecerá, no decorrer da semana, em nossa coluna "Tablóide", maiores referências. LEGENDA FOTO - Fernanda Torres em "Com Licença , eu vou à luta!" - na cena, aparecem também Marieta Severo e Yolanda Cardoso - também estrela de "A Marvada Carne", próximo lançamento no São João.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Cinema
10
26/09/1986

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