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Aramis

Tangos

Há dois anos, um dos maiores sucessos no campo de espetáculos populares, no Brasil, foi o show "Uma Noite em Buenos Aires que num roteiro pelas maiores cidades brasileiras reunia, de forma quase circense, músicos, cantores, bailarinos, grupos folclóricos, malabaristas, etc., entre nomes populares das boates porteñas (Michelangelo, Canõ 14, El Viejo Armazen, Karina'S), que os brasileiros acostumaram-se a [freqüentar] no doce período da desvalorização do peso e que permitiu a invasão de compristas tupiniquins nas terras argentinas. A fórmula funcionou tanto que outros espetáculos foram improvisados, mas sem alcançar o mesmo resultado de público - já que seus organizadores passaram a arregimentar artistas de menor nível e, afinal, o brasileiro pode gostar muito de fazer compras na Calle Florida e beber vinho no Micheangelo, mas não é trouxa ao ponto de aceitar empulhações artísticas. Com "Buenos Aires Tango Show" (teatro do Sesi, até domingo, 21 horas, ingressos a Cr$ 100,00), unem-se produtores brasileiros e argentinos para apresentar um espetáculo menos pretensioso, mas montado com razoáveis critérios artísticos - e que agrada a quem curte a música porteña. Dirigido por Júlio Calaço Júnior, seguindo um roteiro simples, "Buenos Aires Tango Show" tem o mérito inicial de se restringir ao gênero musical que identifica com a Argentina. Ao contrário das promoções anteriores, não se perde em tentativas de abarcar o folclore de outros países ou misturar números que cabem mais num circo do que num espetáculo destinado a teatros e casas noturnas. O cenário concebido - um bar bem decorado, onde o cantor Luís Alberto Pleitas, numa espécie de mestre-de-cerimonias, procura desenvolver um panorama histórico do tango, a partir dos temas mais conhecidos (La Cumparsita", "Caminito", "Madreselvas", "A Media Luz", "Mano a Mano", "Garufa") até chegar a Astor Piazzolla, o grande renovador da música argentina - e que possibilita ao grupo formado por Omar Gomes (órgão, cravo), Carlos Ayala (baixo), Reinaldo (percussão) e, principalmente Hugo Arbelo e Caruso, nos bandoneons - os instrumentos-básicos da música argentina, mostrar competência. Além de Luiz Alberto Pleitas, mais ligado ao repertório tradicional, o espetáculo tem Animal Omar, como intérprete das belas músicas de Piazzolla - inclusive as difíceis "Balada Para Mi Muerte", e "Balada para un Loco", cujas vocalizações são sempre identificada com a ex-mulher de Piazzolla, a cantora Amelita Balzar. Blanquita, uma mulher bonita e de voz cheia, também interpreta alguns tangos - suprindo inclusive a ausência de Silvia Lema, que, por motivos de saúde, não pode acompanhar o grupo ao Brasil. Dividindo as duas partes do espetáculo, Pedro Jaico - que atua como uma espécie de garçom no bar-cenário, mostra habilidades de mágico, mas embora divertindo a platéia nada acrescenta. conhecido como o"Cantinflas Peruano", Jaico ficaria melhor num show de variedades. Em compensação, Anibal mar, surpreende ao tocar no cavaquinho dois choros brasileiros (um deles o indispensável "Carinhoso"), numa homenagem a platéia brasileira". Oscar Paiva e Malena, bailarinos, dança, alguns números - com boa coreografia "Buenos Aires Tango Show" é um espetáculo despretensioso, e simples. Não tem nenhuma intenção didática - o que poderia ocorrer, por exemplo, com Luís Fleitas dando algumas informações sobre o surgimento do primeiro tango ("El Chiclo", que Angel Viloldo compôs em 1890 e que só viria a receber letra de E.S. Discepolo em 1947) ou mesmo referência aos dois maiores nomes deste gênero - o cantor Carlos Gardel (Toulousse, França, 1887 - Medelin, Colômbia, 1935) ou o violinista-maestro - compositor Francisco Canaro (1888-1964). Mas a intenção da produção é oferecer um show apenas capaz de agradar ao público menos exigente e que curte o tango. E afinal, para quem gosta, "Buenos Aires Tango Show" vale os Cr$ 100,00 do ingresso.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Tablóide
4
28/10/1978

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