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Aramis

Telmo e Elomar, dois cantadores de raízes

"Ouço cantigas, é o Minuano me pedindo que os caminhos vão se abrindo prá passar minhas canções rogando ao mundo que a maior fraternidade seja o elo da bondade prá todos os corações Vento Minuano eu te peço que prossigas nesta cantiga da fraterna comunhão" ("Prece ao Minuano", Telmo de Lima Freitas) O que há de comum entre Telmo de Lima Freitas, gaúcho de São Borja, 59 anos, e Elomar Figueira de Melo, baiano de Vitória da Conquista, 50 anos? Aparentemente nada, a não ser que ambos são compositores e intérpretes de suas músicas. Nunca tiveram suas canções promovidas pela mídia eletrônica (leia-se trilhas sonoras de telenovelas), seus discos não se encontram nas lojas, raramente aprecem na televisão e ouvir suas gravações em rádios, nem pensar! Entretanto, cada um, a sua maneira, representam raízes das mais puras e autênticas na simplicidade, sinceridade e beleza da música que fazem. Elomar Figueira de Melo, formado em arquitetura, prefere criar bodes em sua fazenda no agreste baiano do que a selva de concreto dos "humanóides", como diz. Raramente aceita fazer shows - só quando precisa muito de dinheiro para obras em sua fazenda. Com exceção do primeiro elepê ("... nas Barrancas do Rio Gavião", Polygram, 1973), todos seus discos são produções independentes, que ele mesmo vende em seus (raros) shows ou através do correio. Telmo de Lima Freitas, funcionário recém aposentado do Ministério da Justiça, morou durante anos em Uruguaiana e outras cidades do Interior do Rio Grande do Sul, num contato com populações indígenas, homens do campo, pescadores, gente simples que povoa suas canções. Em 1979, o seu grupo Cantores dos Sete Povos, do qual fazia parte Edson Otto, venceu a Califórnia da Canção, pioneira mostra nativista do qual participou por 13 anos, desde sua criação. A canção foi "Esquilador", uma homenagem ao homem que, por mais de dois séculos, fazia o duro trabalho de, manualmente, tosar as ovelhas no verão - antes de equipamentos modernos terem substituído este trabalho. Harmonia belíssima - o que já permitiu inclusive um tratamento semi-sinfônico feito numa das oito gravações existentes, esta canção é um símbolo do que há de melhor no nativismo. E, quando ouvida com atenção, encanta o público - o que fez com que Rubimar Ferreira, o incluísse em seu repertório que apresenta no "Fogo de Chão" quando o ambiente da churrascaria fica mais tranqüilo e permite mostrar músicas de maior nível. Assim como as canções do baiano Elomar exigem um mini-glossário para se entender as letras trabalhadas, repletas de expressões típicas e regionais, também as composições de Telmo de Lima Freitas, com a força das palavras de homem do Sul precisam, muitas vezes, uma tradição - o que se encontra no encarte de "Alma de Galpão", seu segundo elepê, que em produção independente, financiada pelo grupo Olvebra (quando ainda existia a Lei Sarney) está saindo agora - com distribuição apenas nas lojas de Porto Alegre mas que pode ser pedido através de Edson Otto (Rua General Rondon, 1627, CEP 91.900, Porto Alegre). Vale a pena ouvir Telmo: autor de mais de 100 músicas, há 7 anos fez o seu primeiro elepê ("O Canto de Telmo de Lima Freitas", Polygram, 1973, produção de Ayrton dos Anjos), hoje um colector's na discografia nativista. Agora, com participações especiais como a do acordeonista Borghetinho ("Morena Rosa"), cantores José Cláudio Machado ("Pega de Potro"), Edson Otto ("Prece ao Minuano"), João de Almeida Neves ("Catcho Cunha"), e a cantora Lomma ("Preto Velho Celestino"), Telmo fala de valores humanos e sociais no Rio Grande do Sul - num universo abrangente e que precisa - e deve - ser melhor conhecido. LEGENDA FOTO - Telmo de Lima Freitas, o grande compositor nativista, num álbum independente com canções que falam do homem do Sul.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
25/04/1990

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