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Tempeski, uma vida em defesa do verde

Lei 2.682/56. Eis uma dica para as entidades preservacionistas - tantas e tão atuantes - procurarem nos arquivos e se inteirarem do seu conteúdo. Isto porque, há exatamente 32 anos, o então deputado Edwino Tempeski apresentou - e consegiuu aprovação - uma lei que criava o Instituto de História Natural do Paraná e destinava uma área de 1.600 alqueires, nos chamados Mananciais da Serra, municípios de Piraquara e Morretes, do Jardim Botânico Paiquerê - homenagem ao historiador Romário Martins. Antes, muito antes, de ecologia ter virado bandeira política e hoje indentifcar, inclusive, movimentos de grupos de interesse e pressão, o médico Edwino Tempeski se preocupava, na prática, em criar mecanismos capazes de preservar as reservas naturais do Paraná que, já na época, vinham sendo destruídas devido a ambição dos homens - derrubando matas, poluindo rios e dando condições a que a erosão que viria nos anos seguintes transformasse antes regiões em verdadeiros desertos. xxx Edvino Tempeski fez mais do que criar, legislativamente, o Instituto de História Natural do Paraná e o Jardim Botânico Mananciais da Serra. Através de contatos com órgãos diversos - e apoio, inclusive, da iniciativa privada - desenvolveu todo um instrumental para fazer daquela área uma grande atração turística,sem, entretanto, o menor comprometimento da natureza - ao contrário, valorizando cada árvore ali existente e até formando um grande viveiro, de 15 alqueires, com vegetação representativa de todo o Brasil. Um projeto magnífico que, recebido com entusiasmo na época, foi sendo esquecido, de forma que praticamente nada se fez - e o próprio Instituto mudou de nome e filosofia. Hoje, é a Sanepar que tem a responsabilidade pela preservação dos Mananciais da Serra, mas, possivelmente, nem o seu novo presidente, Didio Rocha Loures, conhece o que o deputado Edvino Tempeski idealizou há quase quatro décadas - e que se tivesse merecido o mínimo apoio dos governos, teria dado à região metropolitana de Curitiba um dos mais belos parques do país - integrado inclusive às atividades turísticas disciplinadas. xxx Por ver muitas de suas iniciativas frustradas devido a incompetência e politicagem dos donos do poder, em 1958, ao encerrar o seu segundo mandato legislativo Edvino Tempeski também deu por concluída sua vida política, passando a dedicar-se apenas ao seu consultório de clínico geral, autêntico médico da família - profissão, que desde sua formatura em 1937, pela Universidade do Paraná, jamais deixou de exercer, mesmo quando a política o ocupava muito. Uma das pesoas mais respeitadas da comunidade de origem polonesa no Paraná, Edvino Tempeski, gaúcho de Erexim, 75 anos a serem completados no próximo dia 13 de setembro, desenvolveu sempre múltiplas atividades ao lado de sua dedicação à medicina, exemplo daqueles médicos croninianos que, sem se importar com o dinheiro, procurou sempre honrar o juramento de Hípocrates e fazer da medicina um verdadeiro sacerdócio. Tanto é que em 1946, ainda modestamente começando sua clínica em Curitiba, foi lançado como candidato a vereador pela nascente UDN e numa legislatura que tinha candidatos da expressão de Adeodato Volpi, Antenor Pamphilo dos Santos, Roberto Barroso, João Kracik, Othon Mader, David Carneiro e Aloisio França, foi o mais votado. Quatro anos depois, 14 dos 20 vereadores de Curitiba lançaram-se por 10 diferentes partidos para a Assembléia Legislativa. Tempeski foi o único eleito, com uma expressiva votação - surpreendente para quem era ainda visto como um "filho de polacos", sem tradição maior na ainda conservadora sociedade curitibana. Mas seu eleitorado humilde, representado pela clientela que sempre atendeu lhe foi fiel - e o teria reeleito por muitas legislaturas, se ele, há 30 anos passado, enojado com a política, com a falta de caráter de tantos homens que chegam ao Poder, não tivesse, voluntariamente decidido voltar-se ao seu consultório - mas sem, entretanto, abandonar suas pesquisas da história, do folclóre, das tradições - dos quais resultaria quase uma dezena de livros, inclusive biografias de Edmundo Saporski - considerado o grande pioneiro da imigração polonesa para o Paraná; do médico Júlio Chiminski, do escultor Zaco Paraná, do pintor Paulo Assumpção, um estudo sobre a passagem de Dom Pedro II pelo Paraná, além do ensaio "Quem é o polonês?" - um dos primeiros estudos, de profundidade, sobre a presença do imigrante eslavo na formação do Paraná. xxx Durante mais de quatro horas, num depoimento sincero e revelador, Edvino Tempeski falou para o projeto Memória Histórica do Paraná, patrocinado pelo Bamerindus e que vem ouvindo pessoas que, em seus diferentes campos profissionais, deram uma notável contribuição ao Paraná - mas nem sempre lembradas em sua dimensão. Edvino Tempeski é um exemplo. Sem jamais deixar que a política obrigasse a fazer concessões a sua consciência de médico e cidadão, honrou os mandatos de vereador (1946/50) e deputado estadual (1950/1958), orgulhando-se de ter sempre levado até o limite de suas forças as idéias em que acreditou. Assim foi um dos mais combativos críticos da multinacional americana que explorava o fornecimento de energia elétrica em Curitiba, um movimento de grande penetração na opinião pública. Um dos primeiros - talvez até o primeiro - deputado a perceber a importância de medidas preservacionistas, autor de leis estimulando a manutenção de áreas florestais e, em 1956, pela lei 2.447, criando a Política Florestal do Paraná. Voltado também à importância do turismo, deu suporte legal para que o remanescente do antigo Departamento de Imprensa e Divulgação local, dos tempos do Estado Novo, se transformasse no Departamento de Turismo e Divulgação - num trabalho que, lembra com destaque, teve a grande colaboração do ornalista Colbert Malheiros. Home de visão, Tempeski sempre soube ver a possoibilidade do preservacionismo conviver com o turismo - e lamenta que, tal como em várias outras de suas iniciativas, ao transformação do antigo DTD na Paranatur "tenha apenas aberto novos cabides de empregos". xxx Ao longo de uma vida de pesquisas em diferentes partes do Paraná, com a preocupação maior de sempre valorizar as etnias que aqui se fixaram - afetivamente, voltado especialmente à colonização eslava, Tempeski reuniu um dos maiores acervos referentes à comunidade polonesa - que vai desde uma mapoteca com 130 exemplares até uma completa ferraria Material que estaria disposto a ceder para um grande Centro de Estudos Polono-Brasileiros, que, imaginou, seria instalado no Parque do Papa - mas que, infelizmente, teve as casas típicas (trazidas da colonia Thomaz Coelho) ali instaladas desvirtuadas de uma finalidade cultural mais ampla. Assim, um acervo precioso, único em suas características, continua sob sua guarda, esperando que surjam condições realmente confiáveis para merecer sua doação. xxx Como médico - que pelos seus méritos, de primeiro aluno de sua turma - recém-formado, ganhou uma bolsa de estudos por dois anos em Varsóvia e Berlim, entre 1937/39, Edvino Tempeski foi também um dos parlamentares que mais se empenhou na luta para obrigar a pasteurização do leite fornecido à população - e que apresentava até os anos 50, altíssimos riscos para a saúde tal a contaminação. Em 3 de março de 1953, pela lei 1.128, consegui ver aprovada lei obrigando aos produtores de leite a pasteurizarem o produto. Um homem de muitas lutas, conservando a simplicidade dos tempos de estudante pobre ("durante os 6 anos de faculdade fui 4 vezes ao cinema e apenas a um baile... o deminha fomatura"), Edvino mantém aquela garra de aceitar desafios. Há 10 anos, numa revisitação sentimental ao município de Erexim, onde nasceu, chocou-se não só com a poluição dos rios em que, quando criança, nadava e pescava, como com o estado de saúde dos índios caigangues, que ali semrpe viveram. Começou a ajudá-los e com auxílio de uma indiazinha aculturada, Rosemary (que viria a ser primeiro caigangue a se formar em enfermagem, em Curitiba), realizou um misto de dicionário e gramática da língua Caingangue, editada há três anos, graças ao auxílio de seu amigo Otto Bracarense Costa, então secretário do Planejamento. Uma obra inédita, que hoje já auxilia até a formação de monitores, dentro da filosofia da Funai de tentar uma integração maior da cultura das nações indígenas. Homens como Edvino Tempeski - que em sua modéstia jamais buscaram vantagens e interesses pessoais - fazem parte de um Paraná que muitos esquecem, mas que o projeto Memória Histórica, felizmente, preservará, em imagens e palavras, para o futuro. LEGENDA FOTO - Tempeski: um pioneiro da ecologia.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
14/08/1988
Nesse texto, foi mencionado que Edvino Tempeski publicou um dicionário caingangue. Vasculhei pela internet em busca de tal livro, mas não consegui encontrar... Alguém poderia me informar a editora em que foi publicado?

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