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Aramis

Tempô desaparece com o crescimento da C&A

Quem aprendeu a gostar da deliciosa comida japonesa carnes preparadas com técnicas milenares do velho Oriente - está perguntando para onde foi a "Churrascaria Tempô", que funcionava no prédio 37 da primeira quadra da Rua Marechal Deodoro. Como aquele prédio, junto como o de número 31, foram adquiridos por Cr$ 140 milhões pelo grupo C&A, a churrascaria fechou e, temporariamente, só restam dois restaurantes japoneses em Curitiba: o excelente Kamikaze, em Santa Felicidade e outro, mais modesto, nas imediações do Mercado Municipal. Quanto ao "Tempô", seu proprietário estaria procurando uma bola localização, de preferencia no centro da cidade. O vereador Jorge Yamawaki, consultor indispensável de todos os negócios da colônia japonesa, está mantendo em segredo o endereço, não revelando nem mesmo aos amigos mais íntimos. "Só vou dizer quando chegar a hora da inauguração", explica o político nissei. Xxx O prédio 37 da Rua Marechal Deodoro um velho sobrado construído há mais de 40 anos, pertencia ao Sr. Susuka Hara, enquanto o vizinho, número 31, está cadastrado na Prefeitura em nome de Marçal Chunti e Hiroshi Hara. Consta, entretanto, que o mesmo pertence ao Sr. Chuniti hara, irmão de Sisuka, que era também o proprietário da Churrascaria "Tempô". Os imóveis já estão desocupados e estarão demolidos em breve. Ali, a multinacional CA construirá um prédio de 8 andares, transferindo então sua loja atualmente na Rua XV. Só então aquele prédio de 4 andares será demolido, para uma nova edificação com 5 andares, e no térreo do qual haverá uma área reservada a um cinema de 300 lugares, já chamado de "Cine Ritz". O espaço será doado à Prefeitura, em troca da autorização que teve para utilizar o miolo de quadra que, legalmente, seria obrigada a preservar. Com estas transações imobiliárias, modifica-se mais um pouco da fisionomia urbana, o que torna válido que se volte a insistir na necessidade de que se faça uma documentação fotográfica e mesmo cinematográfica dos prédios que, pouco a pouco, vão sendo demolidos ou tendo suas fachadas e funções adulteradas. Por exemplo, o prédio vizinho aos sobrados de hara, que agora serão demolidos, é o de número 21, esquina da Marechal Deodoro/Dr. Murici, e que tem muitas histórias. Ali já funcionou um diretório estudantil e, até 1965, abrigou um dos maiores night-clubs da cidade, a Marrocos, onde Paulo Wendt (1914-1964), o gordo e poderoso "goodfather' da noite curitibana nos anos 50, promovia grandes shows musicais. Mesmo após Wendt ter sido assassinado na boite, a mesma continuou a funcionar até agosto de 1965 quando uma companhia de teatro do Rio, dirigida por Flávio Rangel, veio a Curitiba, fazer a estréia nacional de "O Sr. Puntilla e o seu criado Matti", de Brecht. O astro da peça, Jardel Filho foi à boate, bebeu e acabou brigando. Foi jogado escada abaixo e fez um escândalo tão grande que apesar da proteção que a boite tinha, o alvará foi cassado e a mesma não mais reabriu. Mas o destino de boêmia do prédio continuou: uma loja de móveis (Troib) que ali se instalou não chegou a fazer freguesia e hoje a parte superior está alugada ao "Snooker 21". No térreo há uma farmácia, uma pequena loja ("Casa Gemma") e um fabricante de chaves ("A Cópia Exata"). De momento, não consta que este prédio esteja também para ser demolido. Mas nunca se sabe... afinal os milhões sempre contam muito. *** Na esquina das Ruas São Francisco e Riachuelo, outro velho casarão também vai ser demolido. E com isto uma das mais antigas lojas daquela rua, a Casa Sulamericana, já está fazendo "liquidação para fechamento definitivo". Ao menos o luminoso da velha loja deveria ser preservado, como uma lembrança de um comércio que desaparece cada vez mais, substituído por impessoais magazins e lojas-de-departamentos, pertencentes a multinacionais, corporações poderosas ou mesmo empresários insensíveis, como o da "Paulistana", que só à custa da força da lei, retirou o monstrengo que havia edificado defronte à loja da Rua 15 de Novembro, num atentado à estética e ao bom gosto.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Tablóide
9
08/11/1980

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