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Aramis

Teresa x Roberta na briga do som

No momento em que a Múltipla - Propaganda e Pesquisa, distribui o excelente lp "Onze Cantos", com Marinho Galera interpretando suas composições em parceria com Paulo Vítola (um dos 10 melhores discos de 79, em nossa opinião, conforme lista que publicamos ontem no suplemento "Fim de Semana"), é de se indagar porque razão que até agora a Umuarama Publicidade não editou o elepê com as vinhetas e jingles belíssimos que o casal Walter-Teresa Souza criou em 1977, para uma das mais belas campanhas de rádio produzidas nos anos 70, institucional do Bamerindus. Na época, a Umuarama era dirigida por Sergio Mercer, hoje o presidente da Fundação Cultural de Curitiba, e o disco deveria ser o brinde de fim de ano de 1977, sendo, posteriormente transferido para 1978. Poty Lazarotto fez a bela capa, as músicas foram gravadas em estúdio mas até hoje o disco permanece inédito. Mas Teresa e Walter [Souza], que nos anos 60 chegaram a ter bonitas composições gravadas por artistas expressivos (Walter chegou a fazer o belo lp "Caminho", na RGE), acabaram trocando a música popular pelo lucrativo ramo da publicidade, criando jingles, spots, vinhetas, etc de altíssimo nível. No ano passado, pensaram em produzir um lp alternativo, com selo próprio - mas que se foi realizado, permanece em segredo. Em compensação, Teresa está irritadíssima com a utilização de músicas estrangeiras em comerciais de televisão - como "The Closer I Get Yo You" e outros temas, usados principalmente nos filmes publicitários da Souza Cruz. Em carta enviada ao "Jornal do Brasil", a compositora faz colocações precisas, que merecem inclusive transcrição para conhecimento de quem não as leu no JB. Teresa concorda com os argumentos do fagotista Airton Barbosa, defendendo o mercado de trabalho do músico-compositor brasileiro e combatendo o colonialismo cultural. Em compensação, com relação aos argumentos dos srs. Oscar Santiago e Lawrence Klingel, que tentam justificar a utilização de músicas estrangeiras como fundo da propaganda de cigarros, Teresa esbraveja: "o primeiro, o Oscar, é gerente da Souza Cruz, sábia empresa que manteve o brasileiríssimo nome, talvez por considerar que o povão (nenhuma vez considerado nos argumentos dele) prefere comprar cigarro de um Souza do que de uma American Tabbacco qualquer. Ele discutindo o problema, não vê cultura, não vê mercado de trabalho para os músicos, só vê números, lucro. Tá na dele. Acha até um absurdo que o músico brasileiro tendo já uma parte do mercado, queira ter o todo. A que ponto chegamos. O fato do músico querer ter direitos na própria terra e visto como absurdo por um gerente de uma multinacional. Sr. Oscar, em qualquer país do mundo há uma lei que obriga a pagar o mesmo custo aos nacionais quando se importam cantores e músicos estrangeiros, mesmo para gravações comerciais. Até aqui no Brasil existe semelhante lei, com um dos itens da criação da Ordem dos Músicos do Brasil, em 1960. O incrível é que a lei não se cumpra. E é só por isso que Roberta Flack sai mais barato do que uma produção brasileira. Se a lei saísse do papel, os músicos brasileiros iriam receber um cachê da cantora e de tantos músicos quanto os que gravaram "The Closer I Get To You". Todos nós somos contra a repressão cultural, só que somos a favor dos direitos mínimos do profissional do nosso País. E não estou falando em produtores, mas em músicas. Produtores não ganhariam um tostão a mais se esses direitos fossem respeitados, e mr. Lawrence Klinger, diretor de criação da DPZ ? Diz que, por enquanto, são poucas as propagandas com músicas estrangeiras. Sobre essa questão era melhor ouvir algum extinto tapuia ou qualquer outro indígena que, em 1500, sendo mais de dois milhões, viram um magotinho de portugueses chegando e pensaram: "tudo bem, muita terra". E hoje ? Bem talvez mister Klinger ache normal a invasão cultural porque ele prefere ligar a TV e ouvir músicas de sua terra, matar as saudades. Então, Law, não é justo que 120 milhões queiram também ter o prazer de ouvir canções de sua própria terra ?"
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Tablóide
6
12/01/1980

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