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Aramis

As teses do Paraná (I)

Lenta, mas conscientemente, uma nova geração de estudiosos sobre o Paraná, em seus diferentes aspectos políticos, econômicos e sociais está surgindo dentro da Universidade Federal, numa primeira etapa, ma que se espera atinja também as outras instituições de ensino superior do Estado -a Católica, a de Londrina e Maringá. São jovens professores na faixa dos 30/40 anos, que como teses para seus cursos de mestrado e doutorado, vem se voltando a uma temática regional, levantando preciosas informações, fazendo estudos comparativos e oferecendo, como resultado material da maior importância, não apenas no nível universitário, como pontos para seus curriculuns na justa ascensão de carreira, mas, principalmente, dando uma contribuição aos próprios órgãos de planejamento e desenvolvimento do Estado e do País - tão falhos e carentes em seus arquivos e bibliotecas. A mais nova contribuição é a tese "O Ramal da Fome - A Pequena Produção Agrícola e o Capitalismo" (250 páginas, edição limitada de 30 exemplares), tese com a qual a professora Veraluz Zicareli Cravo, 32 anos, obteve 9,6 no Programa de Estudos Pós-Graduados em Ciências Sociais da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. A tese de Veraluz Zicarelli Cravo vem se somar a mais de duas dezenas de outros trabalhos do mais alto nível, em várias áreas, que professores da UFP tem defendido e aprovado - mas que, lamentavelmente, permanecem até hoje restritos a pouquíssimos exemplares, financiados pelos seus próprios autores, única e exclusivamente pela inexistência de uma editora atuante dentro da Universidade Federal do Paraná. A tese "O Ramal da Fome - A Pequena produção Agrícola e o Capitalismo", dissertação apresentada ao Programa de Estudos Pós-graduados em Ciências Sociais da PUC-SP, como requisito parcial para obtenção de grau de Mestre em Ciências Sociais, na área de Antropologia defendida há uma semana, em São Paulo, representa mais do que o estudo específico de um aspecto regional da economia paranaense, mas um approach sobre um setor a respeito do qual, até hoje, inexistia qualquer trabalho de referência. Razão suficiente para a banca examinadora, formada pelos professores Cândido Procópio Ferreira de Camargo, doutor em Sociologia pela Universidade de Colúmbia, EUA; Edgard de Assis Carvalho, doutor em Antropologia pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Rio Claro, SP e, finalmente, pela professora-orientadora Carmem Junqueira, coordenadora do Programa de Estudos Pós-graduados em Ciências Sociais da PUC, aprovar a [candidata] com uma média alta, acompanhada de observação que merece ser transcrita: "Seu trabalho não apenas coligiu fatos, mas revelou uma realidade. Modesto do ponto de vista da ambição teórica não deixou de tratar alguns dos problemas mais importantes da Ciência Social contemporânea: seja a questão de como se rearranja o modo de produção simples de mercadorias com exploração capitalista do [tipo] monopolista, seja o problema de consciência de classe ou da situação de classe destes colonos-fumeiros. Resultado de quase dois anos de levantamento e interpretação - desenvolvidos paralelamente ao seu curso de pós-graduação na PUC-SP, a tese da professora Veraluz teve sua pesquisa realizada em Irati, analisando as relações de exploração que se estabelece entre o pequeno produtor e as empresas de fumo. Sem cair nas grandes generalizações e escapando as malhas do empirismo, a professora paranaense fez uma análise de como estas unidades familiares - os colonos - fumeiros - constituem-se em uma força de trabalho barato para as multinacionais do fumo. Partindo deste aspecto este trabalho, realizado com toda independência e seriedade que deve caracterizar uma tese universitária, possibilita que o assunto tratado venha a se constituir em material importante subsídio para futuros estudos, pronunciamentos, planejamentos, etc., que se proponham na área. Motivo para justificar que a tese, sofrendo a necessária adaptação, seja editada em forma de livro, já que os 30 exemplares com texto em xerox, ilustrados com fotos coloridas (utilizando cópias) executadas pelo médico Marco Aurélio Cravo, marido da autora, restringe-se evidentemente até agora apenas a um pequeno círculo. E, por certo, extraindo os aspectos mais herméticos e técnicos no desenvolvimento da tese, "O Ramal da Fome" (o título já é aliás apropriado a um livro) pode vir a enriquecer grandemente a nossa Biblioteca de ciências sociais. De quase uma centena de teses universitárias sobre assuntos do Paraná, elaborados nos últimos 10 anos, e quase todas de grande interesse, nem 0,5% chegou a ser editado e lançado nacionalmente, permanecendo inéditas - o motivo pelo qual temos insistido na necessidade do reitor Ocyron Cunha transformar em realidade a Editora da Universidade Federal do Paraná. Por exemplo, duas professoras do setor de Ciências Sociais da Universidade de São Paulo mas formadas pela UFP há 11 anos passados foram as únicas paranaenses nesta última década, a conseguirem editar suas teses de mestrado, mas por casas publicadoras privadas: "Intervencionismo Estatal e Ideologia do Desenvolvimento" (Coleção Ensaio e Memória, Editora Símbolo, 233 páginas, 1977), em que Maria Helena Oliva Augusto fez um estudo sobre a ação da Codepar/Badep na economia paranaense e "Desenvolvimento e Marginalidade" (Livraria Pioneira Editora, 1974) no qual Maria Célia Pinheiro Machado Paoli, agora fazendo cursos em Londres, desenvolveu estudos sobre problemas sociais na baixada Santista. Só no curso de Mestrado em História Demográfica da UFP - um dos centros de excelência de ensino no País - já foram defendidas 27 teses sobre temas paranaenses, dos quais, um único editado - "Abranches, Um Estudo de História Demográfica" (84 páginas, 1976) do professor Ruy Wachowicz, 40 anos, da cadeira de História Antiga e Medieval da UFP, e que custeou a edição da obra. Mas o assunto é amplo e comporta maiores detalhes no decorrer da próxima semana, inclusive, com citações de alguns dos pontos mais importantes da tese "O Ramal da Fome" de Veraluz Zicarelli Cravo.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Tablóide
4
29/10/1978

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