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Aramis

Tom grava Noel Rosa para o songbook que Almir produz

Num ano de escassas edições musicais de bom nível - no qual será difícil fazer os tradicionais destaques da área fonográfica - uma das esperanças maiores se concentra no álbum duplo que o produtor Almir Chediak está realizando em homenagem a Noel Rosa (1910-1937). Depois do exaustivo estudo de João Máximo e Carlos Ridier - "Noel Rosa: uma biografia" (Editora da Universidade de Brasília, 1990), é a Lumiar Editora quem vai reverenciar aquele que para muitos continua sendo o nosso maior compositor popular. Assim Almir Chediak, 41 anos, violonista, professor e arranjador que se revelou o grande editor de song-books, decidiu que um livro de canções do poeta da Vila não poderia acontecer isoladamente. Para tanto está investindo muitos mil cruzeiros na realização de gravações com alguns dos maiores nomes de nossa MPB - a começar por Antônio Carlos Jobim, que pela seriedade do projeto se dispuseram a participar do mesmo. Além de Tom, João Bosco, Djavan, Moraes Moreira - entre outros - estão fazendo registros de sambas de Noel, em interpretações e arranjos personalíssimos, que comporão o CD - previsto inclusive para ser duplo, tal a quantidade de composições antológicas que não podem ficar fora deste projeto. A aceitação que os song-books que vem editando já há dois anos - iniciados com o volume dedicado a Caetano Veloso - veio comprovar que mais do que a simples musicalidade improvisativa de milhares de brasileiros existe uma séria e louvável preocupação de interessados em executarem corretamente as suas canções favoritas. Assim como revistas que trazem sucessos cifrados - como a "Coro de Cordas", que a brava Olenka Braga edita há 7 anos em Curitiba (*) tem um público fiel, os song-books da Lumiar Editora também estão tendo uma notável aceitação. Afinal, apesar de toda a difusão de nosso cancioneiro inexistem edições organizadas das obras dos grandes compositores, cujas músicas, por falta de partituras revisadas, eram muitas vezes modificadas pelos intérpretes. Com sua experiência de professor de violão que já viu passar por sua tradicional academia, como alunos ou mestres, nomes como Turibio Santos, Carlos Lyra, Ricardo Silveira, Gal Costa, Marina, David Tygel entre outros - Almir Chediak acertou na mosca ao se propor em fazer no Brasil um projeto com o mesmo nível do que ocorre em países europeus e Estados Unidos: volumes de cuidadosa apresentação, enriquecidos com entrevistas e textos sobre cada autor (ou tema) escolhido e acompanhado das partituras - todas cuidadosamente revistas pelos próprios autores ou especialistas (no caso dos falecidos). A coleção iniciada com o volume dedicado a Caetano Veloso, prosseguiu no final do ano passado com os song-books dedicados a Cazuza, em dois volumes, com prefácio do professor Nelson Motta e um ensaio do professor universitário Muniz Sodré (baseado na canção "Faz Parte do Meu Show") e uma seleção de trechos de entrevistas do cantor feita pelo jornalista Ezequiel Neves. No segundo volume, Rita Lee assinou o prefácio, o jornalista Jamari França escreveu a biografia de Cazuza e há ainda um depoimento de Léo Jaime. Antônio Carlos Jobim, que há anos desejava ter um song-book de sua obra, mereceu três volumes nos quais se distribuíram 110 canções (delas, 28 trazendo também a versão feita para o inglês). Textos de Chico Buarque, Sérgio Cabral, Tarik de Souza, Dorival Caymmi, além de uma entrevista ao próprio Chediak e um depoimento de Gal Costa fazem destes volumes obras referenciais para se entender melhor a dimensão do compositor brasileiro mais conhecido no mundo. Na linha diversificada da Lumiar, dois volumes foram dedicadas a Rita Lee - com prefácios de Gal Costa e Gilberto Gil, além de uma biografia escrita pela jornalista Regina Echeverria. Este cuidado de fundamentar a parte técnica (as partituras e letras) a estudos e informações teóricas marca também os cinco volumes dedicados a Bossa Nova - que dentro dos lançamentos feitos pela Lumiar estão entre os mais procurados. Lançados simultaneamente ao "Chega de Saudade" de Ruy Castro (Companhia das Letras) - que há um ano continua entre os livros mais vendidos - a coleção dedicada a BN chegou, justamente 30 anos depois do movimento ter eclodido, como o referencial definitivo. Para 1991, Chediak, programou os Song-books dedicados a Gilberto Gil (anteriormente planejado para o ano passado) e Noel Rosa, além de uma coleção dedicada ao rock brasileiro - com textos dos jornalistas Joaquim Ferreira Santos, Jamari França, Tarik de Souza, Okky de Souza e um artigo inédito deixado por Raul Seixas (1945-1989). Programado para 5 volumes - reunindo 320 músicas - só Song-books do rock (brasileiro, bem entendido) se estenderão, a exemplo do que aconteceu com a coleção da Bossa Nova, por vários meses. Outro projeto carinhosamente tratado por Chediak é o Song-book de Vinícius de Moraes - programado para 2 volumes, com 130 músicas - que terá uma entrevista feita por Sérgio Cabral e texto especial de João Máximo. Ao lado dos Song-books, Chediak preocupa-se em lançar livros teóricos e didáticos, escritos por músicos: "Batucada de Samba" do percussionista Marcelo Salazar, "Escola Moderna do Cavaquinho" de Henrique Cazes e "O Livro da Música" de Antônio Adolfo, editados em vários idiomas ("Batucada do Samba", que ensina tocar todos os instrumentos de percussão que compõe uma escola de samba, saiu com textos em seis línguas. As obras de Chediak já começam a alcançar o mercado externo. Nota (*) Olenka Braga cantora e editora, publica há nove anos a revista "Coro de Cordas", trazendo músicas cifradas. Com circulação nacional, esta publicação - atingindo o número 102 - é uma das mais bem feitas no Brasil e sua edição é totalmente bancada por Olenka, que também vem editando "Voz & Violão".
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
27/10/1991

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