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Aramis

Tonico-Tinoco em livro

Publicada há menos de um mês, a "Bibliografia da Música Popular Brasileira", do professor Alceu Schwaab (edição do autor, capa de Álvaro Borges), já surgiu sem que dela constasse quase uma dezena de novos títulos sobre a nossa MPB. Explica-se: após anos de jejum total em termos de bibliografia sobre nossa música, o cardápio é apetitoso: ensaios, biografias, teses ou simples depoimentos sobre compositores, intérpretes, instrumentistas e períodos sobre a nossa música tem aparecido regularmente. De princípio, há o trabalho que o sempre incansável Hermínio Bello de Carvalho desenvolve há anos na Funarte, como diretor da divisão de música popular do Instituto Nacional de Música. O projeto Lucio Rangel de Monografias, em seu sétimo ano de existência, tem estimulado dezenas de pesquisas anualmente, as melhores dos quais tem merecido edições da Funarte. Paralelamente editoras têm também acreditado no gênero, publicando livros que, no passado, seriam simplesmente recusados, com a desculpa de "falta de interesse do público". Interesse existe, pois, se assim não fosse, a Atica não estaria lançando agora "Tonico e Tinoco: A Dupla Coração do Brasil" (168 páginas, Cr$ 9.000,00). Tonico (João Salvador Perez, São Manuel, SP, 2 de março de 1917) e Tinoco (José Perez, Botucatu, SP, 19 de novembro de 1920), formam a dupla que há 50 anos está como um sinônimo de resistência da música rural brasileira. Centenas de gravações, uma imensa popularidade em todo o País e o justo reconhecimento de chegarem ao Municipal de São Paulo, razão aliás do subtítulo do livro ("Da Beira da Tuia ao Teatro Municipal"), fazem com que mereçam esta publicação. Anteriormente, um livro menor já contava a vida desta dupla popular mas agora, o trabalho e enriquecido com a discografia completa - 61 lps e 170 discos 78 rpm, num total de 1.0582 músicas. Participaram também de seis filmes - "Lá no meu sertão", "Obrigado a matar!", "Luar do sertão", "A marca da ferradura", "Os três justiceiros" e "Menino jornaleiro". A dupla também tem 25 peças teatrais representadas em circos, teatros e ginásios de todo este imenso Brasil. xxx Cantando a vida sertaneja ao longo de quase meio século, Tonico e Tinoco construíram uma trajetória singular na MPB. Muitas de suas modas de viola estão hoje incorporadas à memória de nosso povo, traduzindo a alma caipira em seu apego à terra, na manifestação singela do bem-querer ou narrando acontecimentos marcados pela emoção como na toada "Chico Mineiro". Esta longa carreira justifica, portanto, uma obra informativa como "Da beira da tuia ao Teatro Municipal", com texto de Mitsue Morissawa e Nelson dos Reis, revisado por Cecília Bittencourt Thesbita, Ivany Picasso e Renato Wagner Bacci. A parte inicial do livro é formada por depoimentos de Tonico e Tinoco, revelando detalhes de suas vidas, desde a infância - quando já ponteavam a viola rústica, alegrando as festas na roça - até a consagração definitiva no rádio, disco, cinema e televisão. Assim, a vida na lavoura, os primeiros amores, a animação dos bailes da tuia (ou tulha, galpão onde se armazena a colheita), além de fatos marcantes de seu itinerário artístico, são descritos por eles de maneira simples e envolvente, em relatos cheios de surpresa. A seguir, "Da beira da tuia ao Teatro Municipal" traz a discografia completa da dupla - com as letras das músicas e histórias sobre a origem de cada uma delas. Esta parte é duplamente significativa: aos pesquisadores e estudiosos de nossa MPB, por informações que raramente são registradas; ao grande público, por se constituir numa antologia da poética rural - o que pode ampliar a faixa de venda desta livro para pontos de vendas mais populares, como as bancas de revistas em estações rodoviárias e ferroviárias. No final, há um "Álbum de fotografias" com fotos de vários momentos da dupla, constituindo-se numa expressiva documentação de sua carreira. Contratados há anos da Continental / Chantecler, a dupla Tonico e Tinoco representa um dos sustentáculos para a sobrevivência da cinquentenária fábrica de discos da família Bynghton. Assolada por constantes crises, a Continental tem no seu elenco rural a forma de enfrentar as multinacionais do setor. E Tonico e Tinoco estão entre os que mais vendem discos. xxx Nelson Gonçalves, 65 anos, gaúcho de Livramento, mais de 40 de vida artística, promente há 10 anos um livro (e um filme) sobre a sua vida. Talvez agora, estimulando por este exemplo dos irmãos Perez, anime-se a contar a sua estória. Luis Gonzaga, o imenso "Lua" de nosso cancioneiro, há alguns anos já mereceu uma obra - só que sem tão pormenorizada como é esta "Da Beira da Tuia ao Teatro Municipal".
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Leitura
20
18/11/1984

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