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Trapalhões & Xuxa contra o baixo astral das rendas

A explicação simplista seria de que o frio desanimaria reuniões formais. O fato é que durante os 7 dias do Festival de Gramado não aconteceram os tradicionais encontros do Coletivo das Mulheres, das seccionais das Associações Brasileiras de Documentaristas e mesmo de cineastas e técnicos com executivos da Embrafilme/ Fundação Brasileira de Cinema - cujos diretores, Fábio Magalhães e Afonso Beatto, ficaram apenas dois dias - ou mesmo com Roberto Farias, presidente do Concine, que só não esperou para assistir o encerramento do Festival, porque havia se comprometido, no sábado, 25, a comparecer a uma reunião do sindicato dos profissionais de cinema em São Paulo. Em compensação, as mulheres - que há tanto tempo vinham reclamando de uma marginalização estiveram presentes com mais de 30% dos filmes concorrentes, desde admiráveis curtas-metragens até dois longas - o polêmico "Eternamente Pagú" de Norma Benguel e o decepcionante "Sonhos de Menina Moça", de Tereza Trautman. Problemas não faltariam para ser discutidos. A crise de público para os filmes brasileiros é grande e embora o ex-presidente da Embrafilme, ao sair tenha anunciado o "saneamento" e "recuperação" da empresa, o pessimismo em relação a estatal é total. Inclusive da parte de muitos realizadores que já assinaram contratos para novas produções - muitas delas em fase de pré-realização, como, em Curitiba, a Dokumenta, de Berenice Mendes vem fazendo com "O Drama da Fazenda Fortaleza". Na manhã de quinta-feira, 23, esbanjando otimismo chegava a frente de uma equipe de mais de 20 pessoas, entre artistas e divulgadores - todos por conta da produção - uma das mais otimistas presenças, Marco Aurélio Marcondes, 38 anos, ex-cineclubista, ex-diretor de comercialização da Embrafilme até 1982 (quando insistiu para que "Pra Frente Brasil, Brasil!", fosse exibido em Gramado, provocando a crise política que levou toda a diretoria a ser demitida), hoje executivo dos mais bem pagos no mercado cinematográfico. Braço-direito de Ugo Sorentino, presidente da Art Filmes. Marco Aurélio é um dos poucos homens de cinema que não vê crise de público para os filmes com os quais está envolvido: com 15 cópias de "Os Heróis Trapalhões", lançados nacionalmente há dez dias em 120 salas nas principais cidades brasileiras, Marco Aurélio procurava passar aos jornalistas o otimismo de que será possível superar com este 19º filme dos Trapalhões (e 30º de Renato Aragão) o record dos "Saltinbancos Trapalhões" que há sete anos levou 5.400.000 espectadores nos cinemas. Só que nestas férias, além das atrações internacionais ("Mestres do Universo", "O Milagre Veio do Espaço", "Loucademia de Polícia-V"), há todo o merchandising de "Super Xuxa Contra o Baixo Astral", produção de US$ 1.200.000 (US$ 800 mil cobertos antecipadamente por dezenas de patrocinadores) e que estreou ontem, também em 93 cinemas do país. Sem minimizar a força de Xuxa em seu filme infantil, primeira direção de Anna Penido e que como "Os Heróis Trapalhões - Uma Aventura na Selva", utiliza ao máximo os efeitos especiais e buscou todos os recursos de produção para compensar a fragilidade do roteiro e o excesso de veiculações comerciais - Marco Aurélio confia nas potencialidades do novo filme dos Trapalhões. A experiência de aproximá-los com um projeto de maior inteligência ("O Auto da Compadecida", da peça de Ariano Suassuna, direção de Roberto Farias), fracassou nas bilheterias e a fórmula foi voltar a simplicidade de situações que fizeram "Os Trapalhões na Serra Pelada", "Cangaceiros Trapalhões" etc., faturarem tanto. Como o veterano J.B. Tanko, 81 anos, não dispõe mais de saúde para coordenar as trapalhadas, Renato Aragão confiou no seu mais esperto assistente, José Alvarenga Jr. 27 anos, carioca, filho [de] um pioneiro produtor, José Alvarenga (dos tempos da Atlântida) e que após trabalhar em muitas produções, faz o seu primeiro filme. Em "Os Fantasmas Trapalhões", dirigiu muitas seqüências e agora desenvolveu toda a estrutura, embora, nos créditos, conste como co-direção, Wilton Franco, amigo de Aragão desde os tempos da TV-Excelsior (1965). Se a modelo Luma de Oliveira ou o grupo Dominó não puderam comparecer a Gramado - para badalar a pré-estréia, que na fria manhã de sexta-feira, superlotou o Cine Embaixador, espertamente Marco Aurélio levou a ninfeta Angélica, 14 anos, 1,75m que com a supervigilante mãe presente, dona Angelina Ksyvikts, acabou ocupando todos os espaços possíveis: foi a madrinha no jogo de futebol entre artistas & cineastas contra a crítica (quando o pessoal da imprensa perdeu de 4 a 2), subiu ao palco do Cine Embaixador a noite como já tem um crescente fã-clube, pela sua participação no programa "Clube da Criança", na televisão, assinou centenas de autógrafos. Completou o trio das ninfetas em Gramado - aliás, muito bem comportadas: a cada vez mais bela Mariana de Moraes (que estava no elenco do tocante curta "História do Cotidiano", de Noilton Nunes e Regina Abreu); e Flávia Monteiro ("A Menina do Lado" e "Sonhos de Menina Moça") - esta também, sempre sob olhares atentos da mamãe Rosa. Marco Aurélio Marcondes, que não esconde "ter ganho muito dinheiro" como produtor delegado de "Beth Balanço" e "Rock Estrela", de Lael Rodrigues, já tem na cabeça um novo projeto capaz de faturar bastante: um longa-metragem com a dupla Chitãozinho & Xororó. - "Depois do rock, o brega sertanejo, por que não?" - diz, acrescentando: "o business do cinema é a fortuna. Nós não temos o cinema melhor do que o país é. Mas temos que aproveitar as chances do mercado". LEGENDA FOTO - Marco Aurélio (abraçando a atriz Betty Faria): ele sabe como ganhar dinheiro com filmes brasileiros (foto Guerreiro).
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
01/07/1988

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