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Aramis

Um alternativo "porno-caipira" na Vídeo Trade

Na quente tarde de domingo, 6, segundo dia da I Vídeo Trade Show, há menos de 50 metros da entrada para o Palácio dos Eventos, um senhor meio calvo, de bermudas usando uma T-shirt da peça "Cyrano de Bergerac", com dois vídeos nas mãos, anunciava: "Vídeo pirata/ compre aqui em cruzados contra os dólares lá dentro". O produto oferecido era "Férias de Laura", apresentado como "o primeiro pornocômico do Brasil". Na verdade, não se tratava de um vídeo-pirata: selado, era oferecido a Cz$ 2.500,00 (quando, normalmente os vídeos estão custando de Cz$ 4 a Cz$ 5 mil), apenas numa alternativa em que o produtor-distribuidor deste vídeo, Paco Sanchez, 48 anos, paulista que viveu muitos anos em Arapongas, procurava, a sua maneira, também aproveitar a feira para fazer negócios. Sua alegria não durou muito! Informado de que havia vendas de "fitas piratas", o próprio diretor do Vídeo Trade, Cyro Del Nero, foi verificar o que acontecia. Entendeu como legítimas as fitas oferecidas - mas, obviamente, não permitiu que Paco continuasse na frente do pavilhão. Alguns momentos mais tarde, reunido com jornalistas, Del Nero, explicava este como "o primeiro incidente policial do Festival". Ator de pornoproduções e mesmo algumas grandes montagens teatrais - no elenco original de "Cyrano de Bergerac" - e dos filmes "Marvada Carne", de André Klotzel (o grande premiado no Festival de Gramado, 1986) e o ainda inédito "Beijo 2348/78", Paco Sanchez é mais um exemplo de produtor alternativo de vídeos: com dois sócios, realizou este pornocaboclo, "Férias de Laura", com um elenco de "atrizes" escondendo-se atrás de pseudônimos como Márcia Ferro e Pricila Presley, do qual já vendeu mais de 500 cópias. Agora, prepara-se para uma segunda produção, "Piadas em Black Tie", no qual reunindo quatro atores, "bons contadores de anedotas" _ Walter Breda, Walter Mendonça, Amauri Alvarez e Fernando Benini - apresentará nada menos que 120 "piadas para fazer qualquer pessoa morrer de rir". xxx Paco Sanchez é mais um exemplo de como o mercado de vídeo, nesta primeira etapa, comporta (va) as mais diferentes formas de atuação. Sem ser um pirata - afinal, oferece um produto original, embora de discutível qualidade - faz com que o seu vídeo chegue as locadoras. O dono por exemplo de um vídeo-clube de Assis, presente no Vídeo Trade, quando ele ofereceu o produto, informou-lhe: - Eu já adquiri este vídeo. E, pode saber que teve boa procura. xxx As facilidades na produção de um vídeo, quase sempre rodada com aparelhagem amadora, com reduzido custo de produção, faz com que se estimule a colocação no mercado de fitas com baixíssimo nível técnico e artístico. Evidentemente, a médio prazo haverá uma seleção natural, com a redução dos que estão realmente em condições de se profissionalizarem no trabalho e os picaretas e aventureiros, que no vídeo - como em qualquer atividade, aproveitam um momento que lhes pode proporcionar lucro fácil. A área do vídeo é ampla, possibilitando múltiplos aproveitamentos - desde o vídeo educacional a especificidade cada vez maior, que começam a serem preenchidas - com produtos como a coleção "microtraining" da Abril Vídeo, as dicas de beleza de Luiz Brunet ou de receitas de Pepita Rodrigues - entre tantos e tantos títulos cujo direcionamento mostra, antes de tudo, o crescimento do mercado. xxx Ao contrário do que acontece no FestRio, no qual a área do mercado visa intercambiar as compras de títulos, o vídeo Trade tem um fim específico de vendas diretas - basicamente entre consumidor (locadoras) e distribuidores. Apesar disto, dois estandes foram ocupados por representantes de empresas estrangeiras - uma da Radio/Televisão Portuguesa, com mais de 100 títulos, a espera de um distribuidor brasileiro interessado e do Soviexport, que conseguiu negociar o lançamento, entre outros filmes, de "Solaris", um clássico de André Torkovski. Cyro Del Nero, diretor da exposição, acredita que na segunda edição - já com reservas de mais de 150 expositores garantidos - as vendas deverão ser intensificadas. E dezenas de empresas, inclusive de multinacionais como a Columbia (que este ano não participou) darão ao evento uma dimensão ainda maior. Para a segunda edição do Vídeo Trade Show também serão ampliadas as promoções paralelas. Este ano, as projeções dos documentais vídeos musicais da Fundação Rio, na série "As Cantoras de Rádio" (Isaura Garcia, Ademilde Fonseca), Maria Callas, a Solidão do Mito (de Tâmara Laftel) e "Marina, Sexo é Bom ao Vivo", de Valério Burges (este já no mercado) tiveram reduzido público mas, nem por isto desanimaram a Del Nero. Também três mesas redondas foram realizadas - "Panorama do Vídeo - Arte dentro e fora da televisão", "Vídeo Educativo, a estratégia dinâmica do ensino" e "O Cinema Nacional em Vídeo", este contando com a presença de cineastas de expressão como João Batista de Andrade e Sérgio Toledo, atores John Herbert e Dionísio Azevedo, produtor Aníbal Massaini e o distribuidor-exibidor (agora também em vídeo) Francisco Lucas Neto. LEGENDA FOTO - Cyro Del Nero, idealizador da I Vídeo Trade Show e Goular de Andrade, produtor independente que lança agora em VHS suas reportagens apresentadas na televisão (foto de Paulo Minoru Ochai).
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
10/03/1988

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