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Aramis

Um disco profissional com gente competente

Na tarde de quarta-feira, 9, horas antes do coquetel de lançamento oficial do seu elepê, Paulo Hilário, dizia ao seu amigo Reinaldinho (Reinaldo Godinho, 34 anos, violonista e arranjador), - Este disco é 50% meu; 50% teu. Realmente, nesta demonstração de humildade, Paulo Hilário reconhecia uma verdade: a extraordinária colaboração que Reinaldinho deu para o bom resultado do disco. Se as músicas de Hilário tem forte características, os arranjos felizes de Reinaldinho tem também a cara desta suave presença de nossa música. Afinal, Reinaldinho é da mesma geração de Paulo, tocou em grupos de ingênuos rock dos anos 60, compõe e canta bonito. Um palavra marca Reinaldinho, como artista e como pessoa: ternura. Uma ternura que marcou seu elepê independente (1982, lançado durante o evento "Brasil de Todos os Cantos") e que coloca até nos trabalhos mais comerciais, como as centenas de Jingles que produziu em seus quase 15 anos de trabalho profissional. Assim, ao se falar de lp "Músicas de Paulo Hilário com coro e orquestra" é indispensável reconhecer, em destaque, os arranjos que Reinaldinho criou para todas as faixas. O uso dos instrumentos, a perfeição dos vocais - Angela Molpeni, Paulo Chaves, Ivo Júnior, Rosalidia - a competência de Paulo Teixeira (guitarra), Tatá (pistão), Mauro Carneiro (clarineta e flauta), Orlando Comandulli (sax-tenor), Eduardo Coelho (guitarra) e a valorização da flautista erudita Zelia Brandão - conjugaram-se para permitir um excelente resultado musical. Suavidade, embalo e ternura. Características que Reinaldinho conseguiu colocar nos arranjos, valorizando extremamente as músicas de Paulo Hilário - desde o chamado "jazz de abertura" - bela homenagem a "Curitiba, Curytyba" (com "Y") até a enternecedora valsa "Lembranças de um Palhaço", um dos mais felizes momentos, com inspirada letra: Estou vestindo minha fantasia De palhaço de outros carnavais Desbotou o seu cetim vermelho Mas deixou muitas lembranças mais. Pode parecer condenável, o exemplo do colomialismo cultural, a inclusão de letras em inglês - como "Lovers Paradise" e "Quero só um sorriso" (a song to her), cujas versões para o inglês foram feitas pela musa de Paulo, a esposa Dorotéa. Entre tanto, entende-se este recurso, pois afinal HIlário teve uma formação musical influenciada po Presley e Beatles - mas, consciente, acrescenta aos trechos em inglês, versos em português - dando o seu recado. Duas homenagens a John Lennon - "Hey John" e a regravação de "Tributo a John Lennon e outros Camaradas Maravilhosos", enquanto o amigo Dirceu Graeser é reverenciado em "Minha espada contra o vento", uma das canções lentas neste disco que traz também a versão em espanhol de "El Pajaro". O que colaborou muito para o equilíbrio musical e o resultado feliz foi a utilização de músicos ajustados. Além dos que acima citamos, também participaram Marcos Damm, Guêgo, Misael Passos, Paulo Sergio Mossurunga, Silvanira, entre os vindos da área sinfônica - e mais Dino (guitarra), Dante (piano), Cuco (baixo/bateria), Mauro Bach (percussão), Mario Clovis (teclados/violão), Neto (bateria) e Paulo (flauta transversa). Enfim, um álbum realizado com alto nível profissional, competência técnica e que pode (e deve) ser trabalhado em nível nacional. Se não houver má vontade dos veículos nacionais - normalmente fechados para produções de sabor regional - a música de Paulo Hilário deve chegar aos grandes circuitos. E se não chegar, azar de quem não quiser conhecê-la.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Nenhum
7
13/07/1986

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