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Aramis

Um encontro da Bossa para ajudar ao Lúcio

Lúcio Alves não grava há quatro anos. Poucos de seus fãs conseguiram seu último elepê, "Romântico", gravado num show no restaurante Inverno & Verão, de São Paulo, e que foi uma iniciativa de Romualdo Zanoni, ex-dono daquela casa (e que hoje reside em Florianópolis) em homenagear o grande cantor dos anos 40/50. Em catálogo da Odeon - e possível de ser encontrado em lojas como a de Leon Barg (Rua Barão do Rio Branco, 28), que valorizam a nossa MPB - existe uma reedição do elepê com músicas de Dolores Duran (Adília Silva da Rocha, 1930-1959), que Lúcio fez há 30 anos, com a renda em favor da família da autora de "A Noite do meu Bem". Esta reedição foi uma sugestão nossa, logo após a fundação da Associação de Pesquisadores da MPB, e para a qual fizemos a contracapa. O grande Lúcio Alves - a quem reconhecidamente, a Bossa Nova deve muito, deveria ser um homem rico. Mineiro de Cataguases - a mesma cidade em que nasceu o cineasta Humberto Mauro (1897-1983) às vésperas dos 63 anos - a serem completados no próximo dia 28 de janeiro, Lúcio tem agora sua importância na renovação da MPB contada por Ruy Castro em "Chega de Saudade". Assim não é preciso falar do estilo contido e elegante de interpretação, que como recordou o jornalista Luiz Carlos Mansur, lhe valeu o apelido de "Voz de Travesseiro". Ele e Dick Farney (Farnésio Dutra e Silva, 1921-1987) foram precursores no estilo suave e intimista de cantor, que eclodiria depois na Bossa Nova com João Gilberto. Hoje, doente, necessitando fazer uma cara operação, sem poder se apresentar há nove meses, Lúcio motiva que alguns dos mais importantes nomes da MPB reunam-se num dos mais badalados endereços noturnos do Rio de Janeiro - o Scala, na segunda-feira, 17 - para um show beneficente. Antônio Carlos Jobim, apesar de estar em São Paulo, com espetáculos que o seguram até o dia 16, prometeu que comparecerá. João Gilberto, amigo de Lúcio há quase 40 anos, embora tenha prometido que compareceria, na última quinta-feira teria voltado atrás, alegando uma "proibição" por parte da Polygram, de não fazer shows antes que saia o seu tão aguardado elepê. Mas com João tudo é imprevisível e, na última hora, pode aparecer (afinal, nesta semana surpreendentemente foi a programas de madrugada nas Rádios Globo e Jornal do Brasil, homenagear Noel Rosa, por seus 80 anos de nascimento). Caso João Gilberto vá ao Scala, será a primeira vez em que estará no mesmo palco com Antônio Carlos Jobim - pois juntos só fizeram o histórico "Encontro", produzido por Aloysio de Oliveira no "Au Bon Gourmet (no qual estavam também Vinícius de Moraes e Os Cariocas) em 1962. Certo, será a presença de Tito Madi, Bebel Gilberto, Maurício Einhorn, Luís Cláudio, Carlinhos Lyra, entre outros nomes que fizeram a história da Bossa Nova. Quem está organizando é Alberto Chimelli, pianista que acompanha Lúcio há mais de 20 anos, e que com ele esteve em Curitiba sempre que veio fazer apresentações em nossa cidade. Em 1972, Lúcio dividiu com Aloysio de Oliveira uma noite histórica no Paiol. Dentro de um inédito curso-show que ali organizamos sobre a Bossa Nova e - lá se vão 18 anos e naquela época ainda havia hostilização local à Bossa Nova - mostrara as belezas do período mais fértil de nossa MPB. Depois, Lúcio retornou, lotando o Paiol algumas vezes, outras nem tanto. No folclore musical dizem que Lúcio Alves é um homem azarado. Ao longo de sua vida, enfrentou inúmeros problemas e colecionou aborrecimentos - o que, entretanto, nunca lhe retirou uma extraordinária simpatia e o fez sempre ter um repertório de bom astral. Sofrendo problemas de saúde já há alguns anos, o grande Lúcio merece o reconhecimento que seus companheiros lhe fazem agora - num preito a quem, há quase 50 anos, já era moderno e avançado em suas interpretações - e por isto mesmo, tantas vezes incompreendido. Hoje e amanhã, no Paiol, comemorando os 18 anos de casa, uma presença que dispensa adjetivos: Nana Caymmi. Simplesmente a maior cantora dramática brasileira. Em seu estilo, ninguém a supera. LEGENDA FOTO - Nos anos dourados, Lúcio Alves, sentado, ao lado de Tito Madi. Norma Benguell, de maillot preto - no auge de sua beleza - logo atrás. O desafio é identificar as outras pessoas que estão na foto.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
24
15/12/1990

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