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Aramis

Um encontro dos que ainda acreditam em nossa música

Juca (José) Novaes, 31 anos, paulista de Avaré - onde organiza há 7 anos o mais sério festival de música popular do Estado de São Paulo - e cuja importância foi reconhecida pelo prefeito Fernando Pimentel, que o confirmou no cargo de coordenador deste evento, pela primeira vez esteve em Cascavel, de cujo festival há muito tinha notícias. Participou em duas composições que chegaram à finalíssima: ao piano e como vocalista, ao lado de sua irmã, Lucila, defendendo "Sintonia", dos irmãos Jean e Paul Garfunkel - que ficou com o 2º lugar (NCz$ 950,00 e mais troféu) e como intérprete de "Oração ao Amor", de Sérgio Augusto, paulista, que na quinta e sábado abriu as apresentações, e mesmo não sendo premiada estará no elepê (selo Quero-Quero, produção de Gilberto Carvalho), com as 12 finalistas. Independente da satisfação de ter-se saído muito bem nesta sua primeira experiência no Fercapo, o que lhe trouxe maior alegria foi poder ver iniciado um projeto que há muito acalentava: reunir todos os coordenadores de festivais de música popular espalhados pelo Brasil numa espécie de diretório ou associação que há muito se faz necessária. A idéia nasceu na noite de quinta-feira, 27, quando conheceu o secretário René Dotti, da Cultura, e Cláudio Ribeiro, diretor da recém criada divisão de música popular. No sábado, durante ampla reunião-debate realizada no auditório do Centro Cultural Gilberto Mayer, paralelamente à elaboração de uma "Carta de Cascavel" (ver texto específico nesta mesma coluna) a semente de reunir os animadores musicais ganhou maior objetividade. Assim, no próximo dia 24 de agosto, quando a Divisão de Música Popular da Secretaria da Cultura do Paraná for oficialmente instalada, possivelmente estarão reunindo-se na Sala Janguito do Rosário, pela primeira vez organizadores de, pelos menos, uma dezena de eventos musicais competitivos ou não, que se espalham por vários estados. xxx Embora há 24 anos venham acontecendo festivais de música popular em todo o Brasil, inexiste qualquer arquivo organizado a respeito. Nem mesmo a Divisão Popular da Funarte, ao qual o incansável Hermínio Bello de Carvalho dedicou-se por 13 anos, teve, até hoje, condições de inventariar os festivais de MPB que aconteceram a partir daquele promovido pela saudosa TV Excelsior de São Paulo (Guarujá, São Paulo, abril, 1965), quando "Arrastão" (Edu Lobo / Vinícius de Moraes), defendida por Elis Regina, foi a grande vencedora e multiplicaram-se de forma impressionante. Se os festivais maiores, promovidos pelas estações de televisão - a Record realizou cinco, a partir de 1966; a Globo promoveu o FIC, a partir de 1966, e posteriormente, outros eventos - ao longo dos anos 70/80; a Tupi, também hoje saudade, realizou uma dezena de outros, tiveram registros amplos na imprensa e foram perpetuados em discos (inclusive porque revelaram uma geração de compositores e intérpretes), aconteceram mais de mil outros festivais em todo o país. Festivais municipais, colegiais, regionais, nas mais distantes cidades, com os mais diferentes resultados vem acontecendo nestas duas décadas e meia. Muitos - como os do Rio Grande do Sul (que chegou a ter 60 eventos competitivos por ano) ficaram registrados em elepês, mas a grande maioria se perdeu: muitas vezes nem os próprios participantes lembram-se das músicas com as quais chegaram às finalíssimas. xxx Apesar de ser uma fórmula hoje praticamente abandonada pelas networks (a Globo, ainda insistiu nas três edições do MPB - Shell), os festivais continuam a acontecer, das mais diversas formas, Brasil afora. Só no Sul existem pelo menos 100 manifestações, ainda com a liderança gaúcha. Mudaram-se muitas regras, os eventos mais importantes e solidificados ficam registrados ao menos em elepês com as finalistas e, grande parte tem mídia pela televisão (como o Fercapo), mas infelizmente, poucas revelações artísticas tem ocorrido, em plano nacional, saídos dos festivais. Ao contrário, criou-se até a categoria "ratões dos festivais", formada por compositores-intérpretes talentosos, que garantem (parte de) sua sobrevivência percorrendo o ciclo dos eventos que oferecem bons prêmios em dinheiro (e que inspiraram a Ignácio de Loyola o romance "O Ganhador", lançado há dois anos), mas que, apesar de todo o esforço, só chegam aos discos independentes. Mesmo os elepês com as finalistas de cada festival, em tiragens que variam de 2 a 10 mil exemplares, patrocinados pelas entidades que organizam cada evento, não conseguem motivar os disc-jockeys e programadores de emissoras de rádio das próprias cidades a divulgarem as músicas vencedoras, que permanecem, assim, ignoradas do público. xxx A idéia de reunir organizadores dos festivais que tem resistido às dificuldades - como o Fercapo, em Cascavel, a Feira da Música Popular, de Avaré, a Califórnia e o Musicanto, das cidades de Uruguaiana e Santa Rosa, no Rio Grande do Sul, ao lado dos que acontecem no interior de Minas Gerais, Espírito Santo, Santa Catarina e Paraná (para ficar apenas nestes, já que trazer representantes de todo o país seria difícil e oneroso) poder dar forma a idéia nascida em Cascavel - e que tomara forma em Curitiba - informações preciosas. Assim como nasceu em Curitiba, há 14 anos, a Associação dos Pesquisadores de MPB, aqui também poderá surgir uma entidade que aglutine os idealistas que fazem das tripas coração para realizarem eventos em favor da música, tentando abrir espaços aos novos talentos.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
03/08/1989

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