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Aramis

Um filme vai denunciar os males que a dívida externa traz para o Brasil

Depois de ter registrado o Brasil numa série de curtas e longas - especialmente a mais profunda discussão da cultura popular em "Memória Viva" (1987) e a violência urbana em "Uma Avenida Chamada Brasil" (1988), o cineasta carioca Octávio Bezerra volta seu olhar crítico para um tema do mais atuais: a dívida externa (*). Há 40 dias, no comando de uma pequena equipe - na qual se destaca um dos pioneiros-mestres da fotografia, Hélio Silva, Octavio e sua assistente (também esposa) Elisabeth, percorrem uma rota no brasil, iniciada no rio de janeiro - Belém, Brasília, Goiânia, Recife - e que prosseguirá em Londres e Washington, na busca de imagens e entrevistas para mostrar "as conseqüências do endividamento internacional sobre as crianças e a destruição do meio ambiente no Brasil" como nos dizia, há três semanas quando o encontramos em Brasília - ali fazendo algumas seqüências. Para quem conhece seus oito curtas e, especialmente os dois longas - infelizmente, todos inéditos em Curitiba - pode-se apostar: "A Dívida da Vida" será uma nova porrada em termos de documentário, tão intensa quanto foi "Memória Viva" - na qual partindo da obra de Aluísio Magalhães (**), realizou a mais profunda reflexão sobre questões ligadas ao patrimônio e cultura popular, num filme que merece ser levado a universidades, simpósios, etc. para visões e debates. Também o estudo da violência urbana do Rio de Janeiro, que capturou em "Uma Avenida Chamada Brasil" realizada em 1988, mostraram, um documentarista de nosso tempo, cujas câmeras buscam a realidade oferecendo uma visão das favelas, em sua violência, código de honra dos traficantes & bicheiros, a prostituição, etc. - num filme que encontrou grande repercussão internacional. Justamente por ter se credenciado como documentarista reconhecido no Exterior - já que, infelizmente, no Brasil, nem [mesmo] seus longas conseguiram lançamento nos circuitos comerciais - bezerra, 45 anos completados no último dia 25 de julho, foi convidado no ano passado pelo Channel Four, da Inglaterra, para realizar um documentário de 52 minutos, sobre ecologia e a questão indígena, rodado na Amazônia - "Amerindia/Hlating the Fires", que já conquistou premiações no Exterior mas continua inédito no Brasil. Como conseqüência daquele bom trabalho, a mesma, Channel Four, mais canais de produção da Finlândia e Alemanha, lhe deram condições para montar uma (reduzida) equipe, com o fotógrafo inglês Brian Cesswell e realizar filmagens em três países, num trabalho que deverá resultar em documentário de 92 minutos, a ser apresentado no próximo ECO-92 - evento internacional que, a julgar pelos projetos de filmes e vídeos em andamento, terá uma impressionante presença de imagens contundentes sobre este final de século no planeta Terra. Notas (*) Apesar da atualidade da questão da dívida externa, até agora poucos cineastas voltaram-se ao tema. O documentarista Eduardo Coutinho, diretor de "Cabra Marcado para Morrer" (1962/84), fez uma média metragem para a televisão. "O Jogo da Dívida", que participará da mostra "Documentários de Criação da América Latina" no 39o. Festival Internacional de San Sebastian (Espanha), entre 19 a 28 de setembro. (**) Aloisio Magalhães, pioneiro do designer no brasil, foi um dos mais brilhantes intelectuais brasileiros, voltado a questão da cultura popular. Foi quem estruturou o organismo que ensejou a criação do Ministério da Cultura. Faleceu em Veneza, ai quando ali participava de um encontro de animadores culturais. LEGENDA FOTO 1 - Octávio Bezerra (ao centro, de boné) dirige em várias partes do Brasil - e também em Washington e Nova York - seu novo documentário de tema atualíssimo: "A Dívida da Vida". LEGENDA FOTO 2 - As câmeras de Octávio Bezerra vão mostrar as conseqüências da Dívida Externa até sobre os índios brasileiros.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
28/07/1991

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