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Aramis

Um fórum para debater porque o cinema latino-americano vai mal

Salvador - A presença de realizadores de países como o Chile - com uma delegação liderada pelo cineasta Silvio Caiozzi, Argentina, Peru e Cuba, no encontro com brasileiros que, direta ou indiretamente estão ligados ao cinema e vídeo proporcionou que uma das mais produtivas conseqüências desta XVIII Jornada de Cinema fosse o Fórum Latino-americano de Cinema e Vídeo, que aconteceu durante três dias, na sede da Associação Baiana de Imprensa, com debates esclarecedores. Ouvindo-se as explicações de representantes do governo federal - como Vera Zagerosha, do Instituto Brasileiro de Ação Cultural e ex-coordenadora do Centro Audiovisual da extinta Embrafilme, no confronto de opiniões de profissionais que enfrentam os maiores problemas para realizarem filmes e vídeos, o fórum teve resultados objetivos, contidos no documento a ser entregue na próxima semana ao ministro Sérgio Paulo Rouanet, secretário da Cultura do governo Collor. Por exemplo, o desvirtuamento das funções do CTAV (criado a partir de um convênio entre a extinta Embrafilme/Governo do Canadá), que vem, por força das dificuldades financeiras impostas ao país, servindo de base de apoio à produção comercial em prejuízo dos trabalhos independentes mereceu uma moção de repúdio. Detalhes da Lei Rouanet - Com sugestões para pontos a serem incluídos no substitutivo a ser encaminhado à Secretaria de Cultura também ocupará grande parte dos debates, incluindo questões antigas mas que atrofiam a produção audiovisual no Brasil, como a distribuição, exibição e intercâmbio com outros países. Neste aspecto, a presença de cineastas como os chilenos Silvio Calozzi - presidente da Associação dos Produtores Cinematográficos do Chile, do peruano Andres Malatesta, Eduardo Sepulveda, do Conselho Nacional de Cultura e Arte do México, da produtora peruana Maria Del Pillar Rocca, do diretor de fotografia Marcelo Iagarrido - entre outros - proporcionou uma salutar e estimulante troca de informações. Especialmente os relatos das situações igualmente difíceis pelas quais passam as produções cinematográficas foi significativa. O Chile, que em 1967 implantava o prestigiado festival de Vina Del Mar - de onde nasceu o movimento do Novo Cinema Latino-americano (mas que acabou sendo suspenso com o golpe de setembro de 1973, levando a maioria dos realizadores ao exílio) teve sua produção reduzida a números mínimos. Nos últimos três anos, entretanto, houve um revigoramento, especialmente do cinema político, conforme a mostra informativa (e trabalhos em competição) demonstram (alguns dos títulos levados a Bahia, foram também exibidos em outras cidades, inclusive em Curitiba, no projeto "Americanicidad"). O cineasta argentino Fernando Solanas ("Tangos", "El Sur"), homenageado com a projeção de seu corajoso "La Hora de los Hornos" (1966/68), e que teve a solidariedade da jornada pelo atentado que sofreu há alguns meses em Buenos Aires, encaminhou fax a Guido Araújo, transmitindo sua gratidão pelo apoio "que me lhicieram llegar con motivo del atentado que sufriera poco despues de haber denunciado los grupos amiosos que saquean el patrimonio nacional y desprecissam la democracia". A experiência dos 11 brasileiros que já fizeram o curso regular na Escuela Internacional de Cine Y TV, em Santo Antônio de los Banos, em Cuba - traduzida inclusive na exibição de filmes por ele realizados (em próxima coluna, falaremos com detalhes deste projeto), também mereceu uma atenção especial dentro do lado didático da jornada - que inclui mostra de trabalhos de alunos da ECA/SP e da Universidade Fluminense. LEGENDA FOTO - Thomas Farkas, veterano participante das Jornadas de Cinema da Bahia, homenageado com uma exposição (foto Paulo C. Munhoz).
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
29/09/1991

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