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Aramis

Um homem descasado

Com << Encontros e Desencontros >> (Cine Condor, hoje, último dia em exibição) tem seqüência uma nova voga do atual cinema americano: a análise das (crise) relações conjugais. Realizado menos de um ano após << Uma Mulher Descasada >> (Na Unmarried Woman, 78, de Paul Mazuesky) ter conquistado prêmios, valido indicações ao Oscar-79 (inclusive o de Jill Clayburgh, como melhor atriz) e encontrado grande receptividade junto ao público, Alan J. Pakula, 52 anos, ex-produtor, há 17 também na direção, homem descasado >>. É possível que este << Starting Over >> não tenha o mesmo envolvimento sentimental de << Uma Mulher Descasada >>, embora a tentativa de analisar como reage o homem - e não a mulher - após a separação, dê uma empatia universalista ao filme, inspirado no romance de Dan Wakediel. O tratamento como comédia não retira, em nenhuma seqüência, a seriedade do assunto. A cada dia aumenta o número de relações que chegam ao final - e a própria instabilidade dos sentimentos faz com que não seja gratuito que não só o cinema, mas também o teatro e a literatura, como formas de cultura/comunicação, se voltem a análise destes desencontros amorosos, Phil Potter (Burt Reynolds), um homem de meia idade, jornalista, na primeira seqüência despede-se de sua esposa, Jessica (Cândice Bergen). Assim como << Esposas Abandonadas >> ou << Uma Mulher Descasada >>, não há maiores explicações porque o casamento terminou. O salto é para outra cidade - Boston, onde Potter encontra, em princípio, apoio na casa de seu irmão - Michael (Carles Durning), casado com Marva (Frances Sternhagen) que o apresenta a Marilyn Holmberg (Jill Clayburgh), também divorciada, mas de personalidade forte e que por isso torna o relacionamento mais inquietante e mesmo provocativo. Uma aventura com outra divorciada, Marie (Mary Kay Place) apenas faz com que Phil e Marilyn tentem um relacionamento ao estilo Sartre-Simone de Beauvoir: cada um mantendo seu apartamento. O retorno de Jessica, fazendo já então fazendo carreira como cantoras, balança o equilíbrio, mas o final acaba sendo feliz... até onde é possível entender um << happy ending >> nos dias de hoje. Desde que estreou na direção, dirigindo Liza Minelli em << Os Anos Verdes >> (The Sterille Cukoo, 69), Pakula demonstrou ser um homem preocupado com os sentimentos humanos - mesmo ao abordar temas políticos (<< A Trama >>, 74, << Todos Os Homens do Presidente >>, 76). Neste << Encontros e Desencontros >> partiu para um desafio maior: afinal, homem - deixa - esposa - encontra - mulher não é novidade como temática. O que pode ser novo é a forma de colocar isto em imagens, questionar a validade das relações homem-mulher no dia-a-dia na rotina - e o desejo, justo e normal, de se buscar um enontro maior. No fundo, << Encontros e Desencontros >> é, como a grande maioria dos filmes do gênero, uma fita extremamente romântica e bem condicionada. Se << Kramer x Kramer >>, de Robert Benton (Cinema 1,9ª semana), não coloca maniqueisticamente a situação - procurando entender tanto a posição do marido, como da mulher que não suportando mais a monotonia e a indiferença diária, parte para uma auto-realização também em << Starting Over >>, houve a honestidade de não se colocar etiquetas ou placas identificando os << certos >> e << errados Aliás, nesta década de tanto liberalismo - e ao mesmo tempo uma solidão interior cada vez maior - seria ridículo se pensar em rótulo e mesmo julgamentos. A valorização da mulher como personagem nos filmes lançados na segunda metade dos anos 70, o questionamento do casamento, como instituição, a busca de um novo << approach >> das relações humanas, fazem com que o cinema reflita, cada vez mais, uma realidade. Se << Uma Mulher Descasada >> teve um bom público e << Kramer x Kramer >> ficará entre as melhores bilheterias do ano, << Encontros e Desencontros >>, surpreendentemente, fracassou na bilheteria: hoje terá suas últimas exibições. Por coincidência, em breve, no mesmo cinema, chega outro filme americano, com uma temática semelhante: << O Último casal da América >>, 79, de Gilbert gates, com George Segall e Natalie Wood. Além do tema atual, do elenco atraente, << starting Over >> tem fotografia do mestre sueco Sven Nykvist e na trilha sonora de Marvin hamisch, para compensar ter que se ouvir Cândice Bergen cantando << Better Than Ever"" e << Easy for You >> (letras de Carole bayer Sager), se escuta, como música incidental, a excelente << The way We Were >>, do mesmo Hamlisch (letras do casal Marilyn Alan Bergman), tema de um filme também sobre desencontros de um casal (<< Nosso Amor de Ontem >>, 73, de Sidney Pollack). Para quem gosta de filmes com temas atuais e sabe sentir as inquietações de nossos dias, << Encontros e Desencontros >> pode ser recomendado.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
1
11/06/1980

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