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Aramis

Um momento de magia para crianças de todas as idades

Brasília No domingo à noite, aplausos do público, em pé, que superlotava o Cine Brasília, indicou o filme favorito para a maioria dos prêmios desta 19ª edição do festival do Cinema Brasileiro no Distrito Federal: "A Cor de Seu Destino", um belo, profundo e atual filme que marca a estréia do premiado roteirista Jorge Duran. Com novos intérpretes - como os jovens Franklin Caicedo, Julia Lemmertz, Andréa Beltrão e Chico Diaz - a veterana Norma Benguel, e uma história atualíssima - os reflexos do golpe de Pinochet no Chile sobre uma família exilada no Rio de Janeiro - este filme tem condições até de repetir o que conseguiu "A Hora da Estrela", de Suzana Amaral, no festival do ano passado: receber o maior número de prêmios. Mas há outros filmes fortes em competição - o infantil - "A Dança dos Bonecos" e o belo "Vera". Com médias e curtas metragens que trouxeram aspectos da realidade brasileira - nem sempre agradável, mas sedimentada - o festival de Brasília encerrou-se ontem à noite, com um saldo positivo em favor do cinema brasileiro - mostrando a força de realizadores que trouxeram obras profissionalmente corretas, técnica adulta e com muita sensibilidade. xxx Ontem, antes da exibição de "Cidade Oculta", de Chico Botelho - estrelada pelo paranaense Arrigo Barnabé, o grande premiado no último Rio-Cine Festival, estarão subindo ao palco do Cine Brasília, os premiados com os troféus Candango e mais Cz$ 500 mil nas diferentes categorias. Entretanto, até na tarde de domingo era difícil arriscar previsões sobre quem seriam os premiados - escolhidos por dois júris (um para os filmes de longa metragem), presidido pelo jornalista Reynaldo Jardim (também presidente da Fundação Cultural do Distrito Federal) e outro para os curta e média-metragens. Sempre ocorrem surpresas nos resultados dos júris dos festivais - e em Brasília, tão importante quanto as escolhas dos jurados convidados pela FCDF e a do público, através da votação direta. Adilson Ruiz, paulista, realizador do ótimo "Divina Tropicália" - prejudicado na abertura do festival, na noite do dia 29, devido à péssima projeção (e, em setembro, o grande premiado na jornada de documentários da Bahia), afirmava num dos debates que, para ele, levar o Candango, de melhor média-metragem, referendado pelo público, seria "altamente gratificante". Forte candidato a receber a consagração popular é "A Dança dos Bonecos". do mineiro Helvécio Ratton, que já ganhou uma medalha de ouro no XV Festival de Filmes para Infância e Juventude de Giffoni, na Itália, e que, projetado na noite de sexta-feira, 31, foi demoradamente aplaudido pelo público que lotou o cine Brasília. Saudado como "um filme mágico", o resgate da poesia infantil, "o melhor filme já realizado para crianças", mescla personagens vivos e bonecos e, realmente, interessante e suave em suas imagens - podendo, inclusive ser um páreo bonito que para a próxima fita dos Trapalhões, nas férias de janeiro - quando deverá ser lançado nacionalmente. Grey, o astro - aos 63 anos, 204 filmes (atualmente trabalha no 205) de sua carreira, "Banana Split", de Paulo Sérgio de Almeida. Wilson Grey, coadjuvante com maior número de atuações no cinema brasileiro (e, segundo alguns pesquisadores, recordista mundial), finalmente tem um papel central em "A Dança dos Bonecos". Como Mr. Kapa, O Homem das Mil Capas - um misto de vigarista mambembe e mágico de terceira categoria - o veterano ator tem um trabalho de destaque, que talvez até valha uma premiação - mesmo que especial neste festival. Simples, modesto, Wilson Grey foi, nos três primeiros dias do Festival, o único nome conhecido a circular pelos corredores do Hotel São Marcos. O reconhecimento, afinal só ao seu trabalho de ator, como profissional dos mais responsáveis, admirado por colegas e diretores, o faz feliz. Em abril, no XIV Festival de Cinema Brasileiro de Gramado, Wilson havia sido uma das presenças, integrando o elenco de "As Sete Vampiras", de Ivan Cardoso - ocasião em que se homenageou também outra coadjuvante dos tempos históricos (e heróicos) das chanchadas da Atlântida: Zezé Macedo. Wilson Grey não alimenta ilusões. Sabe que apesar do diretor Helvécio Ratton o ter escolhido para o papel central de "A Dança dos Bonecos", o seu lugar no cinema brasileiro será sempre o de ator coadjuvante, com papéis maiores ou menores, mas sempre em segundo plano. Pela oportunidade que teve em interpretar um papel central difícil produção de "A Dança dos Bonecos", fala com ternura e emoção desta fita realizada com pouquíssimos recursos, que se estendeu por quase dois anos para ser concluída. Só as filmagens realizadas uma verdadeira cidade fantasma a 416 quilômetros de Belo Horizonte, chamada "Bici Birí" (que, em língua indígena, quer dizer, "Buraco do Buraco"), consumiram mais de sete meses. Ali, num cenário belo e agreste ao mesmo tempo - no qual já foram realizados outros filmes (inclusive "O Padre e a Moça", de Joaquim Pedro de Andrade), Mr. Kapa e Geléia (uma atuante marcante e até agora desconhecida Kumura Schettino), conheceu a menina Ritinha (Cíntia Vieira, na época das filmagens com 9 anos) e seus três bonecos. Mr. Kapa e Geléia apresentam um show e tentam vender seu elixir da saúde, "O Bálsamo da Minerva", preparado com a água encantada por Iara, a Rainha das Águas. Geléia dá um vidro para Ritinha, que passa o bálsamo em seus bonecos. No meio da noite, quando todos dormem, a magia acontece e os três bonecos, ganham vida, dançando um fantástico balé, e uma série de aventuras acontecem a seguir. Se Helvécio Ratton tivesse um esquema de marketing, os três bonecos criados pelo famoso titireteiro mineiro Álvaro Apocalypse poderiam ser industrializados com sucesso. Como disse o produtor Jarbas Barbosa - irmão de Chacrinha, que financiou filmes importantes na época do cinema novo ("Os Fuzis", de Ruy Guerra, "Deus e o Diabo na Terra do Sol", de Glauber Rocha), presente neste festival "os bonecos são tão encantadores que dá vontade de levá-los para casa". E, na hora, cunhou um slogan que pode até ser usado na divulgação do filme: - "A Dança dos Bonecos", um filme infantil para adulto nenhum botar defeito. LEGENDA FOTO - Julia Lemmertz - filha da atriz Lilian, recentemente falecida - e Franklin Caicedo em "A Cor de Seu Destino".
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
13
05/11/1986

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