Login do usuário

Aramis

Um reencontro de Baden com o amigo de 40 anos passados

Para compensar o frio e o mau tempo da sexta-feira, 27, o violonista Baden Powell teve uma grande e inesperada alegria no último dia em que esteve em Curitiba: o reencontro de um amigo de infância que não via há 15 anos. Das 11 às 18 horas, o nosso maior violonista passou na residência do historiador Wilson da Silva Boia, que, há 40 anos passados, quando o garoto Baden tinha 13 anos de idade e morava com seus pais, numa modesta casa na rua São Januário, no bairro de São Cristovão, Rio de Janeiro, ali se conheceram e - mesmo com a diferença de 10 anos de idade - fizeram uma sólida amizade. O tempo passou, Baden se profissionalizou musicalmente, seguiu caminhos internacionais e Wilson, então um jovem médico formado pela Escola de Medicina e Cirurgia acabou fazendo carreira como oficial-médico, só se reformando há quatro anos quando veio morar em Curitiba. O encontro ao lado do aspecto das reminiscências familiares-musicais do Rio de Janeiro, do velho Lilo D'Aquino - o "seo" Tique, pai de Baden, e a sua irmã, Vera, teve um significado especial: Wilson Roberto, 21 anos, apaixonado por instrumento de cordas, após mostrar suas habilidades a Baden, executando violão, cavaquinho, bandolim e guitarra, ganhou um elogio-conselho, destinado ao seu pai: - "Wilson, pode desistir de ver o seu filho em outra profissão. Seu caminho é mesmo a música". xxx Através de um colega farmacêutico da Polícia Militar do Rio de Janeiro, onde estagiou antes de ingressar no Exército, foi que Wilson Boia ouviu as primeiras referências à genialidade de um garoto de 13 anos do violão. Apaixonado já pela melhor MPB, Boia foi procurá-lo em São Cristovão e se tornou amigo e médico da família Aquino. Viu, assim, os primeiros passos profissionais do garoto Baden, nascido em Itaperuna, interior do Rio de Janeiro, numa localidade chamada Varre-Sai, mas que ainda criança havia se mudado para São Cristovão, onde seu pai ganhava a vida como sapateiro. Lino, admirador do fundador de Escotismo e violonista amador, reunia chorões em sua casa, e, aos 8 anos, já acompanhava o menino Baden aos programas na Rádio Nacional. Quando Meira (Jaime Tomas Florence, 1908-1982) violonista do regional de Benedito Lacerda (1903-1958), e considerado um dos maiores virtuoses que o Brasil já teve, ouviu o garoto, não teve dúvidas: por 5 anos foi professor de violão de Baden. Atração nos programas de Renato Murcel, além da Rádio Nacional, o garoto Baden acompanhava um grupo de artistas que se apresentavam em cidades no interior - memórias que lembram sempre, especialmente das vezes em que esteve em Curitiba, conforme, contou, emocionado, em dois de seus concertos no Auditório Bento Munhoz da Rocha Neto, promovidos pelo empresário Mozart Primo. Silvia, a dedicada e apaixonada esposa de Baden Powell, que com todo o carinho administra sua carreira, lamentou que esta vinda a Curitiba de Baden não tivesse sido organizada por Mozart. Houve problemas com o empresário que intermediou suas apresentações no Paiol - dentro do projeto "Moraes, Vinícius" e, na hora em que foi receber o cheque, a agência bancária alegou que o mesmo não poderia ser liberado. Silvinha ligou para a Fundação Cultural - que o havia contratado e só encontrou um assessor que não deu solução imediata. Só mais tarde, após ter ameaçado de que caso não tivesse a importância liberada, Baden não faria o show de quinta-feira, o dinheiro foi pago. Silvia e Baden Powell tem razões de sobra para estarem ressabiados com "contratos". Recentemente, um cidadão chamado Paulo Martins Lelis, contratou Baden para dois concertos num teatro em Goiânia e simplesmente desapareceu no dia do show. O violonista teve que arcar até com as despesas do hotel. Em compensação, internacionalmente, o conceito de Baden o faz cada vez mais disputado - e só por razões de saúde não tem aceitado viajar mais regularmente a Europa e mesmo Japão. Fonograficamente, uma nova etiqueta, a Caju, do alemão-carioca Peter Klein, comprou de Aluisio Falcão, da Idéia Cultural, os direitos do elepê "Violão em Seresta", que está editando agora, enquanto programa, para CD, um novo álbum, com gravações ao vivo, feitas no Free Jazz. A discografia de Baden Powell é imensa, incluindo gravações feitas na Europa nos muitos anos em que residiu em Paris e, posteriormente, em Baden-Baden, na República Federal da Alemanha. Seus discos - grande parte já existente em CDs, na Europa, Estados Unidos e Japão, são considerados fundamentais e, sem nenhum favor, está hoje entre os artistas brasileiros mais conhecidos de todo o mundo. Pela simpatia que tem por Curitiba - e a cordialidade com que sempre foi tratado no Teatro Guaíra e atenções do empresário Mozart Primo, Baden voltou a falar de um projeto muito carinhoso que há tempos pensa em aqui desenvolver: um recital de violão e quarteto de cordas, mais um percussionista, com peças arranjadas pelo maestro e compositor César Guerra Peixe, 74 anos completados dia 18 de março, por quem tem a maior admiração. A grande dificuldade, entretanto, em produzir este recital, está na falta de patrocínio, "especialmente agora, com a cultura em crise maior, sem maiores perspectivas para projetos realmente sérios e importantes", queixa-se Silvinha. Entretanto, a idéia levado ao secretário René Dotti, da Cultura, em um projeto detalhado, poderá ainda acontecer este ano. Pelo menos é o que se espera, em termos de se ter a felicidade de, no Guaíra, aplaudir Baden Powell, em sua genialidade, num grande e original concerto. Outra idéia, que já apresentou anteriormente - e que, infelizmente, não prosperou, seria a de fazer solos das "Bachianas Brasileiras" de Villa Lobos, acompanhado pela Sinfônica do Paraná, regida por Guerra Peixe. LEGENDA FOTO - Baden Powell: um dia curitibano com o amigo carioca dos tempos de infância.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
31/07/1990

Enviar novo comentário

O conteúdo deste campo é privado não será exibido publicamente.
CAPTCHA
Esta questão é para verificar se você é um humano e para prevenir dos spams automáticos.
Image CAPTCHA
Digite os caracteres que aparecem na imagem.
© 1996-2016. tabloide digital - 35 anos de jornalismo sob a ótica de Aramis Millarch - Todos os direitos reservados.
Desenvolvido por Altermedia.com.br