Login do usuário

Aramis

Um vídeo de Gil para denunciar Caso Lâmia

No mínimo, José Gil de Almeida é um homem disposto a brigar pelas suas idéias. Embora não seja filho de árabes, abraçou de corpo e alma, a causa dos palestinos. Já esteve duas ou três vezes na Líbia, escreveu um corajoso livro sobre El Fatah e, mesmo sabendo dos riscos que corre, tem se empenhado em denunciar o que considera atos criminosos contra os refugiados palestinos. Eleito presidente do Conselho Nacional de Cine-Clubes, inesperadamente renunciou, em julho do ano passado, ao cargo que lhe dava condições de comparecer a inúmeros eventos. Não deixou, entretanto, de atuar no movimento cineclubista e na condição de coordenador estadual da atuante Federação Paranaense de Cineclubes é que se decidiu a partir para um projeto audacioso: rodar nos dias 20 e 21, nos arredores de Curitiba, um vídeo de 40 minutos, sobre o "Caso Lâmia". Ou seja, sobre Lâmia Masruf Hassan, brasileira, 22 anos, mãe de duas crianças (nascidas no Brasil), presa como terrorista e condenada a prisão perpétua em Israel. xxx Gil de Almeida decidiu fazer o teipe da forma mais econômica: está convocando amigos do Interior, que, vindo a Curitiba, no próximo fim de semana, aqui ficarão hospedados em casas de cineclubistas ("as refeições são por conta de cada um"). Com uma dezena de personagens, vai fazer as filmagens mostrando os antecedentes do "Caso Lâmia", para um vídeo que será comercializado junto às locadoras e distribuído, gratuitamente, aos movimentos estudantis e sindicais. Uma introdução fará a colocação da questão palestina, lembrando que em 1948, quando se criou o Estado de Israel, "existiam na Palestina 700.000 judeus e 1.380.000 árabes palestinos, entre cristãos e muçulmanos". Acusa Gil - em texto que abrirá o vídeo: - "Um ano depois, os judeus invadiram o que restou da Palestina e criaram o Estado de Israel, em 15 de maio de 1948, às custas de massacres, assassinatos em massa da população civil árabe palestina". Sem temer represálias, confiando em informações de que dispõe, Gil vai mais longe em seu argumento: - "Para amedrontar o povo palestino, para que abandonasse sua terra natal, os judeus israelenses cometeram todos os tipos de atrocidades: aldeias foram incendiadas, edifícios foram dinamitados, trabalhadores foram decapitados e tiveram suas cabeças expostas em praças públicas. Desde então, o povo palestino luta pela libertação da Palestina ocupada, onde prosseguem os atentados e violações dos direitos humanos contra a população árabe palestina, cristãos e muçulmanos". xxx Antônio Gil de Almeida tem consciência dos riscos deste projeto. Sabe que a comunidade israelita vem vigiando seus passos e, há mais de um ano, chegou a ser ameaçado por um parlamentar israelita, numa situação constrangedora ocorrida num dos gabinetes da Assembléia Legislativa. Entretanto, se diz tranqüilo e, democraticamente, quer ter o direito de expor o seu lado da história - num videoteipe em favor da libertação da brasileira que está condenada a morrer numa prisão em Israel.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
12/02/1988

Enviar novo comentário

O conteúdo deste campo é privado não será exibido publicamente.
CAPTCHA
Esta questão é para verificar se você é um humano e para prevenir dos spams automáticos.
Image CAPTCHA
Digite os caracteres que aparecem na imagem.
© 1996-2016. tabloide digital - 35 anos de jornalismo sob a ótica de Aramis Millarch - Todos os direitos reservados.
Desenvolvido por Altermedia.com.br