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Aramis

Um western vietcongue na baía dos texanos

Embora em seus respeitáveis 30 anos de cinema Louis Malle tenha experimentado os mais diferentes gêneros cinematográficos - do erotismo de "Os Amantes" à descida nos infernos na solidão em sua obra-prima "30 Anos Esta Noite" (Le Feu Follet), só por uma vez - e assim mesmo na base da sátira - animou-se pelos caminhos de um semi-western: "Viva Maria", rodado no México, com Brigitte Bardot e Jeanne Moreau. Curiosamente é agora, em seu penúltimo filme - "A Baía do Ódio" (Cinema I, hoje, último dia em exibição) que abordando um fato de extrema contemporaneidade - as violências ocorridas contra refugiados vietnamitas na Baía de Alamo, México, no final dos anos 70, devido a raízes econômicas e raciais - que Malle constrói um filme com toda a estrutura de um legítimo western. Documentário disfarçado com uma love story mal sucedida entre uma mulher independente, Glória (Amy Madigan), que busca apoiar o trabalho dos refugiados vietnamitas - hábeis pescadores de camarão, contra a inveja dos pescadores brancos, liderados por seu amante, Shang (Ed Harris), o desenvolvimento de "Alamo Bay" vai num crescendo de violência como em um bom western até um confronto final - uma maniqueísta situação de brancos x amarelos, estes com a simpatia do público. Assim, a estrutura deste filme, baseado em reportagem de Ross Milley (publicada no "New York Times Magazine", abril/1980), adquiriu uma leitura dinâmica, longe daquela forma introspectiva e cerebral que caracteriza a nouvelle vague da qual Malle fez parte. Os 9 anos e 6 filmes que realizou nos Estados Unidos, mostram que absorveu uma nova linguagem cinematográfica de uma vibração excelente. Emotivo na proporção que revela (mais) uma intolerância americana contra minorias raciais, bem conduzido cinematograficamente, com um bom elenco - incluindo atores orientais (especialmente o jovem Ho Nguyen), "A Baía do Ódio" tem ainda uma das melhores trilhas sonoras do ano - na guitarra solitária e profunda de Ry Cooder, que já admirávamos em "Paris Texas" (em exibição no Groff, 3 sessões), com sua profundidade sonora tão identificada ao clima texano.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
13
21/05/1986

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