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Aramis

Uma denúncia sobre o colonialismo musical

Um objetivo e corajoso documento, versando 9 pontos básicos sobre questões da música e da cultura brasileira, resultou de quatro painéis realizados durante os dias 8 a 10 de novembro, na cidade de Carazinho (60 mil habitantes, 284 km de Porto Alegre), reunindo nomes representativos da música brasileira. Um dos cinco festivais nativistas de maior importância entre os quase 50 promovidos, anualmente, no Rio Grande do Sul, a Seara incluiu, este ano, um Chamamento Cultural, com a finalidade de debater a problemática relacionada com a "Valorização dos regionalismos e independência da cultura musical brasileira", que, acima de fronteiras estaduais ou regionais, levantou problemas da maior importância, justificando que o documento ali elaborado, intitulado "Alerta do Chamamento", venha a ser entregue, nos próximos dias, ao ministro Aloísio Pimenta, da Cultura, em Brasília, e que, no próximo ano, no Rio Grande do Sul, aconteça um seminário para o aprofundamento dos debates de questões como o colonialismo cultural externo e interno, a expansão da cultura musical gaúcha e a valorização dos regionalismos, no mosaico cultural musical brasileiro. xxx Mesmo com a lamentável ausência dos representantes da Funarte (Hermínio Bello de Carvalho, diretor do setor de música popular do Instituto Nacional de Música, cancelou a presença horas antes), o Chamamento Cultural contou a participação de nomes da expressão de José Ramos Tinhorão, o nacionalistas crítico e pesquisador; Pelão (João Carlos Botezelli), radialista e produtor fonográfico voltado para as raízes brasileiras; Zuza Homem de Mello, de "O Estado de São Paulo" e Jovem Pan, e presidente da Associação de Pesquisadores da MPB; e Paulo Tapajós, 73 anos, mais de 60 ligados à música e ao rádio brasileiro. Somados aos animadores culturais, pesquisadores, letristas, músicos e intérpretes gaúchos convocados pelo Instituto Gaúcho de Tradição e Folclore do Rio Grande do Sul, coordenados pelos diretores dessa entidade Paula Xavier (presidente), Rose Garcia (diretora técnica) e Edson Otto (diretor administrativo), foram obtidos resultados práticos e oportunos, que, em forma de "Alerta do Chamamento", serão entregues em mãos ao ministro da Cultura, pelo próprio presidente da Associação Seara de Arte e Cultura Gaúcha, o publicitário Aylton Magalhães, que há 5 anos vem promovendo a Seara da Canção Nativista, hoje consolidada no calendário musical do Sul, como uma das mais importantes manifestações, ante a preocupação de "intercambiar traços culturais". xxx Muitos pontos foram demoradamente discutidos e analisados para se chegar ao documento objetivo e coerente, tocando o dedo na ferida de questões que embora há anos debatidos em reuniões semelhantes, estão à espera de solução. Assim, o Alerta do Chamamento lembra "ao público e autoridades para": 1) A existência de barreiras contra as manifestações de cultura regional; 2) A concorrência desleal da música estrangeira protegida através de benefícios, inclusive fiscais, em detrimento da produção nacional; 3) A falta de espaço, nos meios de comunicação, para retribuir a concessão que o governo lhes dá, em contradição com o espírito social do canal público (rádio e TV); 4) O risco de perda da identidade cultural pelas novas gerações, em função da descaracterização provocada pela massificação de modelos não brasileiros;,, 5) A predominância excessiva de uma visão cultural particular do eixo Rio-São Paulo, a partir de emissoras de abrangência nacional, que desfiguram os valores de comunidades regionais; 6) A falta de comunicação entre órgãos culturais das várias regiões brasileiras, o que impede o estabelecimento de uma política cultural global; 7) A falta de apoio oficial, nos âmbitos federal, estadual e municipal, aos festivais de música; 8) O desamparo total que os compositores, instrumentistas e interpretes enfrentam em relação ao mercado de trabalho, ao retorno de direitos autorais e artísticos, e à falta de respeito às suas produções, inclusive em propaganda; 9) A precariedade do ensino musical nas escolas de 1º e 2º graus, que não fomentam a sensibilização, o conhecimento e a prática da música pela criança e pelo adolescente.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Tablóide
14/11/1985

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