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Aramis

Uma equipe jovem para tirar poeira do palco

Não se deve fazer comparações, mas a proposta que Marcelo Marchioro desenvolve neste "Do Outro Lado da Paixão", com base nas primeiras informações - e antes mesmo de assistir ao espetáculo (que estreou sexta-feira), lembra aquilo que Antunes Filho tem feito em São Paulo: trabalhar exaustivamente sobre um tema, em torno do qual há uma recriação pessoal. Assim foi feito com "Macunaíma", do texto de Mário de Andrade, Nelson Rodrigues e, mais recentemente, "A Hora e a Vez de Augusto Matraga", de Guimarães Rosa. Este teatro de suor e criação, sem preocupações imediatistas com os aplausos (mas que surgem naturalmente) e a bilheteria, dá um significado especial a montagem. Portanto, não será de estranhar que muitos "entendidos" saiam com pedras nas mãos contra "Do Outro Lado da Paixão". Mas também pode acontecer do mesmo se transformar um play-cult, chegando aos corações e mentes de uma geração aberta e descompromissada, capaz de aceitar linguagens inovadoras, que fogem do tradicionalismo no teatro com início, meio e fim. Não há uma linha cronológica no espetáculo e, como diz Marcelo Marchioro, a preocupação foi questionar "não só o público, mas a nós mesmos", arriscando os padrões estéticos e propondo, "ao menos para aqueles que nele trabalhassem, alguma coisa nova". Para esta viagem liberta - e sem auxílio de drogas - ao imaginário de pessoas, fotos, imaginação, Marcelo convocou gente jovem e bem intencionada, desconhecida ainda, mas que tem o vigor e o idealismo que fazem o teatro se reciclar sempre: a coreógrafa Sandra Zugman, com formação que vai do ballet clássico a boidança e vários trabalhos em espetáculos infantis; João Marcelo Soares, co-autor, diretor musical e ator, estudante de Música e Belas Artes; Raul Cruz, cenógrafo e figurinista, cujo primeiro trabalho foi para o ballet, "Como 3 e 3 são 7", e que, em São Paulo, concebeu o figurino e cenário para "Uma Caixa de Outras Coisas". No elenco, atores e atrizes tão jovens que ainda usam sobrenomes verdadeiros, desafios para qualquer memória ou divulgação. É o caso de Marly Gottschefsky (parece atriz de filme russo), formada há três anos pelo Curso Permanente de Teatro e que em 1985 já recebia o troféu Gralha Azul como revelação por "Vamos Transar", espetáculo no qual também apareceu Carlos Daitschmann; Denise Sartori, atriz e cantora; Carlos Manuel Nascimento, Renata Bevilacqua e Vera Karam de Chueri, são os outros jovens que mergulharam, de corpo e alma, em "Do Outro Lado da Paixão". Um espetáculo que pode desagradar, provocar críticas e polêmicas - aliás, o que Marcelo deseja. Mas não pode ser ignorado. LEGENDA FOTO - João Marcelo, Sandra e Marcelo: Um mergulho no novo para sacudir a poeira do teatro local.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
42
02/08/1987

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