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Aramis

Uma estratégia para privilegiar a inteligência dos espectadores

Acompanhando o cinema internacional há mais de 20 anos a jornalista Susana Schild, do "Jornal do Brasil" - uma das mais respeitadas críticas que comparece anualmente a inúmeros festivais no mundo, a propósito do reaparecimento do cinema francês no Brasil, em texto exclusivo para o catálogo da Belas Artes, lembrou que no início dos anos 60, o lema "Uma câmera na mão e uma idéia na cabeça" aproximou de uma forma inédita realizadores e cinéfilos brasileiros e franceses, identificados pela busca de um cinema autoral, independente das motivações pessoais e do contexto social dos dois países. Enquanto o cinema novo de Glauber Rocha, Nelson Pereira dos Santos e Cacá Diegues era celebrado pela crítica francesa, toda uma geração brasileira se deliciava com a ousadia e a originalidade dos filmes de Jean Luc Godard, François Truffaut, Alain Resnais, símbolos da cultuada Nouvelle Vague. Do lado brasileiro, porém, esta aproximação também só foi possível por um motivo óbvio: os filmes franceses eram presença constante nas telas de nossos cinemas, uma opção na programação valorizada pelo espectador adepto de um cinema "de arte", como se dizia na época. Embora a freqüência do filme francês nas telas brasileiras diminuísse um pouco nos anos 70, ainda assim era possível, naqueles anos, acompanhar boa parte da produção com razoável assiduidade. Nos anos 80, no entanto, esta aproximação do público brasileiro com o cinema francês foi mais difícil. Mesmo com algumas safras um pouco mais generosas, apenas uma cota muito pequena da produção francesa dos anos 80 chegou ao público brasileiro, e mesmo assim, com considerável atraso em relação à data de lançamento. Por isto mesmo, a sacudida que Jean Gabriel Albicoco dá agora no cinzento mercado cinematográfico - dominado pela pior produção americana (salvo honrosas exceções) e com o cinema brasileiro na maior crise, encontrou uma grande acolhida na imprensa brasileira. Considerando trabalhos notáveis que alguns programadores de salas alternativas vem fazendo em algumas capitais - Gilberto Gerlach, em Florianópolis; Romeu Grimaldi, em Porto Alegre; Jorge da Mata, em Brasília e Pedro Martins Freire, em Fortaleza - Albicoco decidiu reativar um circuito aberto não só ao cinema francês - mas às produções de outros países que encontram dificuldades de chegar ao público. Prova disto é que entre os 24 títulos que abrirão a programação, estão produções do Canadá ("Jesus de Montreal", de Denys Arcant), da África ("E a Luz se Fez"), da Índia ("Os Galhos da Árvore / Shakha Proshakha", do lendário - mas desconhecido no Brasil - Satyjit Ray), Itália ("A Boêmia", de Luigi Comencini) e URSS (o premiado "Taxi Blues", de Pavel Lounguines). Albicoco, com sua experiência de mais de 40 anos de cinema - nasceu e cresceu no meio, e desde 1970 no Brasil, é otimista: - "Os "malucos" que ainda acreditam no cinema de qualidade são mais numerosos do que se imagina. Formam um seleto grupo de gente que ainda hoje e diante da veloz evolução dos novos meios de difusão audiovisuais, continua a acreditar não existir nada de mais emocionante do que 200 pessoas reunidas numa sala escura para vibrar junto diante de uma obra de um Godard, de Wim Wenders, Kurosawa, Truffaut e Carlos Diegues". Assim, ao deslanchar a "Operação França" (apesar de sua abrangência ser para outras cinematografias), trazendo ao Brasil uma delegação formada pelos artistas Miou-Miou, Anne Parillaud, Carole Bouquet, Hippolyte Giardo e Tcheky Karyo, de diretores como Jean Claude Brisseau, Michel Deville e Patrice Leconte, de produtores e jornalistas - que agora estão retornando a Paris - representa um sopro de esperança para que, ao menos visualmente, 1991 seja um ano auspicioso. LEGENDA FOTO - "Jesus de Montreal", de Denys Arcar, já levado a vários festivais internacionais entre 1988/89, chegará finalmente ao Brasil, em distribuição da Belas Artes.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
23/12/1990

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