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Aramis

Uma fascinante mulher no filme despercebido

"Uma Mulher no Espelho" é daqueles filmes-surpresa, que são lançados em Curitiba inesperadamente, sem qualquer referência maior e que se constituem em revelações fascinantes a quem busca um cinema de valores. Assim como "Quarteto Basileus" e "Encontro de Amor em Veneza", também modestas (e desconhecidas) producões italianas entraram nas relações dos melhores lançamentos de 1984 e 1985, respectivamente, para nós este "Una Donna Allo Specchio" tem condições para figurar entre os destaques do ano. Produção de 1984, dirigida por um cineasta até agora desconhecido - Paolo Quaregnia - "Uma Mulher no Espelho" é um dos filmes de maior sensualidade já vistos nos últimos anos. Uma sensualidade requitnada, de extrema ternura e dentro de um contexto que demonstra o bom gosto do realizador. Durante um originalíssimo carnaval realizado na pequena cidade de Ivrea, na qual batalhas campais de laranjas - lembrando o entrudo de nossos velhos carnavais - são travadas por coloridos grupos de foliões, reconstituindo uma tradição dos tempos medievais, há o encontro de duas pessoas em busca de um momento de amor. Manuela (Stefania Sandrelli), sensualíssima e frustrada mulher, visitando pela primeira vez a cidade e Fabio (Marzo Honorato), ali nascido mas há anos residindo em uma cidade maior. O encontro ocasional, à primeira relação sexual - segue-se um intenso e explosivo encontro de amor. Sem identificação de parte a parte, na importância de viver um breve momento, as relações de Manuela e Fabio vão do lírico ao dramático, com toques de um "Último Tango em Paris" mas sem um final trágico - ao contrário do filme de Bertolucci. O requinte de Paolo Quaregnia valoriza cada seqüência, cada fotograma - numa montagem primorosa e, especialmente, uma trilha sonora (de Gino Paoli, cantor também da música-tema ao final) que, tranquilamente, elegeríamos como o melhor sound track destes últimos três anos. Um ótimo elenco de apoio, uma linguagem deliciosa - todos elementos enfim para fazer de "Uma Mulher no Espelho" um filme que merece ser visto por um grande público não são suficientes, entretanto, para retirá-lo da categoria de "obra maldita" em termos de exibição. Lançado no final de fevereiro no cine Itália ali permaneceu apenas 4 dias. Retornou agora, para uma carreira no Cinema I, mas esprimido numa semana de múltiplas opções - Oscar, um festival Bergman e "Berlin Alexanderplatz", este filme não foi descoberto pelo público. E que perde assim a chance de conhecer uma obra que, tal como a proposta do título, oferece múltiplos reflexos de interpretação: desde um sensual filme erótico (com seqüências das mais excitantes) até um lirismo a Romeu e Julieta. Um filme nota 10.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
17
25/03/1986

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