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Aramis

Uma premiação mineira para alegria de todos

Embora o mineiríssimo "O Grande Mentecapto" só tenha ficado com o Kikito do júri popular, os resultados do XVII Festival do Cinema Brasileiro de Gramado não poderiam ser mais mineiros. Carlos Reichenbach, que já na primeira reunião do júri de longa-metragem renunciou a sua presidência e propôs que o mesmo funcionasse de forma que todos pudessem votar (pelo regulamento, o presidente só teria votos em caso de empate), alguns minutos antes dos resultados serem anunciados dizia que "a angústia de júri é maior do que a do concorrente" - ele que já concorreu (e foi premiado) por três vezes em Gramado. Realmente, a indicação dos melhores é sempre difícil, e hoje, ao menos para os longa-metragens, a premiação de Gramado já é um dado considerável para a carreira, tanto profissional dos premiados - como para ajudar a bilheteria do filme escolhido como o melhor. A escolha dos premiados foi equilibrada e, embora, como sempre, tenha provocado algumas surpresas, não causou fissuras ou protestos. Ao contrário, vitoriosos e vencidos confraternizaram-se madrugada a dentro após o encerramento da festa do Cine Embaixador, numa generosa recepção no novo salão de convenções do Hotel Serra Azul. Ugo Giorgetti, desde a terça-feira - após a exibição de "Festa", tido como o favorito junto à crítica, confirmou as expectativas: levou os Kikitos de melhor roteiro e melhor filme, que ganhou ainda nas categorias de som, figurino e ator (dividido entre Antônio Abujamra e Adriano Stuart). Murilo Salles, tenso durante todo o festival, teve a alegria de sair de Gramado com o Kikito de melhor diretor - enquanto sua bela irmã, Maria Helena, ganhava o prêmio de cenografia e José Tadeu o de fotografia. "Doida Demais", exibido na sexta-feira e para muitos uma grande decepção, ainda conseguiu sair-se bem: obteve quatro Kikitos - ator coadjuvante (Ítalo Rossi); edição de som (Juarez Dagoberto); música original (David Tygel) e direção de arte (Clóvis Bueno). Contrariando as previsões, mesmo o decepcionante "1º de Abril, Brasil", para muitos o filme mais fraco em competição, valeu o Kikito de melhor atriz para Rosamaria Murtinho, segundo muitos um páreo fácil já que haviam poucas atrizes em destaque. A bela Vera Fischer, de "Doida Demais", esperava, no fundo, uma premiação. Como não foi lembrada, teve um consolo: seu amigo, de muitos anos, Walter Hugo Khouri, improvisou um "troféu de consolação" com uma orquídea num anel "para fazer justiça a Vera, que foi esquecida". Imara Reis, que há três anos já havia ganho o prêmio de melhor coadjuvante por "Sonho sem Fim", ganhou novamente o mesmo troféu por sua atuação em "Jardim de Alah". Eleita musa de Gramado, pela sua presença nos últimos festivais, Imara foi uma das atrizes escaladas para ser mestre-de-cerimônia, na democrática forma com que foram divididas as atrações presentes na hora da entrega dos prêmios. Dentro da filosofia de valorizar basicamente a classe artística, o presidente da comissão organizadora, Esdras Rubin, evitou a presença de políticos e autoridades no palco, privilegiando a comunidade artística e prestigiando principalmente os gaúchos que se dedicam ao cinema. Assim, a cada noite, o anchor-apresentador Bira Valdez convocava dois artistas gaúchos para fazer as apresentações dos convidados. Na noite de encerramento, discreto e seguro, Bira conduziu a festa - que decorreu na maior tranqüilidade, sem qualquer protesto ou improvisação, tão característica de festivais. A única irreverência foi do baiano Edgard Navarro, 35 anos, premiado duplamente com seu média "Superoutro", que ao subir ao palco e apanhara o Kikito, disse: "A maior alegria de um cineasta é agasalhar o croquete e conseguir levantar o Kikito".
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
20/06/1989

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