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Aramis

Uma semana que lembra Gramado

Na programação extra do circuito comercial, um filme da maior importância: o documentário "Açúcar Negro", do canadense Michel Regnier, 55 minutos, denunciando a situação de escravidão a que são submetidos os negros do Haiti, explorados nos canaviais das multinacionais da República Dominicana. Terá apenas três exibições na Cinemateca (hoje a domingo, 20h30), se constituindo em programação obrigatória por quem se interessa pelo cinema do real. Amanhã, na coluna "Tablóide", falaremos com mais detalhes deste filme que obteve o prêmio de melhor documentário no Festival de cinema de Havana, em dezembro/87. Cinema Nacional - A escolha de "Pagu", um dos mais importantes filmes do ano para a inauguração do Cine Guarani - o que trouxe a Curitiba a sua realizadora, Norma Bengell - coincide com a exibição de outros importantes filmes brasileiros nesta semana. No Condor, desde ontem, em exibição o injustiçado "Dedé Mamata", de Rodolfo Brandão. Baseado no romance (com toques autobiográficos) do jovem Vinícius Viana (primeira edição pela Anima, em 1985, agora reeditado pela Record), "Dedé Mamata" foi produzido por Renata Magalhães, esposa de Cacá Diegues (ela é neta de dona Flora Munhoz da Rocha Neto), com recursos privados. Ou seja, não teve qualquer participação da Embrafilme. Levado ao XVI Festival de Gramado, as comparações com "Feliz Ano Velho", de Roberto Gervitz (em reprise no Luz, há duas semanas) foram naturais: ambos enfocam a juventude nos anos setenta, tem a mesma atriz (a bela e sensível Malu Mader) e são filmes realizados por caprichosos estreantes jovens - Gervitz (28 anos) e Brandão (29), vindos de um aprendizado em diferentes funções. As aproximações dos dois filmes os valorizam e as críticas da imprensa italiana, na apresentação de "Dedé Mamata" como representante do Brasil no último Festival de Veneza foram injustíssimas. Deve-se ver estes dois filmes ("Feliz Ano Velho", já a disposição também em vídeo) para se conhecer um cinema novo e vigoroso, de excelente nível técnico e que busca tratar de assuntos ligados à juventude, revendo a nossa recente história. O público também pode julgar nesta semana se foi justo a superpremiação de "A Dama do Cine Shangai", do paulista Guilherme de Almeida Prado, que concorrendo em Gramado acabou levando as principais premiações - embora tivessem sobrado alguns Kikitos para os filmes de Gervitz, Brandão e Norma (melhor atriz para Carla Camuratti; melhor trilha sonora adaptada - Turíbio Santos / Roberto Gnatalli). "A Dama" está em reprise no Cine Groff. Nesta semana também acontece a estréia de outro filme brasileiro, de características muito próprias: "Rastros na Areia", de Hércules Brezeghello, que procura unir a popularidade do cantor-compositor Urbano Dalvan com um tema religioso. O único ator conhecido no elenco é o veterano Maurício do Valle e esta produção (em exibição no Plaza), parece ser tão amadora quando foi "O Milagre das Águas", projetado há duas semanas no Cine Luz. Não deixa, entretanto, de ser uma linha popular do cinema brasileiro, realizado com recursos próprios e que pode atingir segmentos mais humildes. Outras Opções - Na linha do cinema ação-violência que faz de "Inferno Vermelho" (Red Heat), de Walter Hill, o filme de melhor bilheteria na temporada (e que por isto continua em exibição no São João), estreará na próxima semana "Duro de Matar" (Die Hard), de John McTiernam (o mesmo diretor de "O Predador", com Arnold Schwarzenegger, em reprise no Morgenau), com um novo halterofilista ator, Bruce Willis. Terá uma pré-estréia às 22 horas de amanhã no Plaza. "Mais Forte que o Ódio", thriller com toques de filmes de caserna, com atuação do sempre excelente Sean Connery, começou com rendas fracas no Condor, há 3 semanas, mas acabou reagindo - de forma que agora passou para o Lido I. No Lido II, continua "Poltergeist III", cujo interesse aumentou a partir dos estranhos fatos ocorridos numa prova de que os "fantasmas brincalhões" imaginados nesta série de terror, produzida inicialmente por Steven Spielberg, estão mais próximos de nós do que se poderia pensar. Continuam em cartaz também "Monjas Pecadoras", de Dario Donati, que tem no elenco até Gabriele Tinti (ex-marido de Norma Bengell), em exibição no Cine Itália. Para quem gosta de terror, retorna ao Astor "As Bruxas de Eastwick", do australiano George Miller - que une erotismo e humor, numa produção sofisticada, com o excelente Jack Nicholson e as sensuais Cher, Susan Sarandon e Michelle Pfeiffer (Cine Astor). No Bristol, retorna "9 ½ Semanas de Amor", de Adrian Lyne, com a sensualidade de Mickey Rourke e Kim Bassinger. Das estréias internacionais, no Cinema I, uma produção espanhola - "Padre Nuestro", de Francisco Regueiro, com Fernando Rey e Francisco Rabal (atores valorizados pelo seu passado em obras de Bunuel). A verificar pelos que se interessam pelo cinema espanhol - fora do eixo Bunuel / Saura. Nos horários especiais, a programação mais importante é "O Selvagem da Motocicleta" (Rumble Fish), 1983, de Francis Ford Coppola - com um elenco reunindo um punhado de atores estreantes na época, hoje famosos (inclusive Mickey Rourke), num belíssimo filme, inspirado em romance de E.S. Cunningham (já editado no Brasil pela Brasiliense) que esteve entre as melhores bilheterias de 1987 e se destacou entre os 10 melhores do ano. Merecidamente, amanhã, às 24 horas e domingo, 10h30, no Groff. Casa lotada, com toda certeza... LEGENDA FOTO - "Feliz Ano Velho", com Malu Mader que também está em "Dedé Mamata".
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Cinema
8
21/10/1988

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