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Aramis

A vanguarda (dos sexagenários) que o Brasil ainda pouco ouviu

Se os Estudos, Prelúdios e Polonaises de Chopin, as Sinfonias de Tchaikowsky e Rachmaninof, os concertos de Litoff e Addinsell e especialmente de Gottschalk dos outros lançamentos em CD feitos pela Polygram trazem acordes e harmonias tematicamente conhecidas - embora em interpretações perfeitas e originais - a inovação, a proposta que, mesmo já não sendo tão recente, continua a justificar polêmicas exclamações é dada no CD "Wien Modern", trazendo alguns momentos do festival que teve lugar no outono de 1988 justamente na mais musical das capitais do mundo - a Viena das vastas, sinfonias e duetos. Como lembra Paul Griffiths, quase ao mesmo tempo em que a "música moderna" estabeleceu-se enquanto categoria, no início dos anos 20, ela ganhou uma instituição para alimentá-la, o "festival de música moderna". Mas hoje uma geração passada, o modernismo já parece em vias de tornar-se um fenômeno histórico e os festivais do modernismo começam, paradoxalmente, a assumir um caráter retrospectivo. Assim foi com o festival "Wien Modern", realizado há três anos e do qual temos aqui, alguns momentos através de compromissos que - exceto o alemão Rihm - já são homens sexagenários, distantes da imagem demolidora e jovem. As obras escolhidas para este concerto de abertura, são, segundo Griffiths, de certa forma críticas ao modernismo, "mesmo quando contribuem para o impulso modernista". Assim, o "Liebeslied" (1954) de Luigi Nono, 67 anos, a mais antiga das obras aqui gravadas, pertence a um dos mais intensos períodos de aventuras do modernismo, a época em que Nono, Pousser, Boulez e Stchausen estavam todos lecionando regularmente em Darmstadt e criando peças inovadoras - na época, obviamente, totalmente desconhecidas do Brasil (onde, aliás, passados 37 anos, estas peças continuam ainda com raríssimos registros, o que torna significativo edições como estas). Um ano mais velho do que Nono, Cyorgy Ligeti, compositor russo residente em Viena e Colônia desde 1956, aluno de Veress e Farkas e cujas primeiras obras mostraram influências de Bartok e Stravinsky, mas que na década de 50 rejeitou o serialismo total em favor da exploração das massas e tessituras de som, pode ser agora conhecido com dois trabalhos dos anos 60: "Atmospheres" (1961) e "Lotano" (1967), ambas composições para grandes orquestras, Ligeti foi o contemporâneo que desenvolveu a micropolifonia, estilo em que a forma é produzida por um complexo de detalhes submersos. Da mesma geração do italiano Nuigi Nono, mas o mais conhecido nome da música contemporânea o francês Pierre Bolez, 66 anos, discípulos de Messiaen e Leibowitz, é o mestre da música contemporânea que tem exercido maior influência, especialmente pelo seu trabalho na direção do Unstitut de Recherche et Coordination Acoustique do Centro Pompidou, em Paris, onde, entre outros brasileiros, estudou a pianista (e compositora) curitibana Berenice Zagonel. Boulez entre 1971/76 foi regente da Sinfônica da BBC e da Filarmônica de Nova York. No seu trabalho, nestes últimos 14 anos, desenvolveu uma linguagem musical totalmente serial (influenciado por Webern) e introduziu elementos variáveis em algumas de suas peças, explorando a relação entre a poesia e música; em obras recentes, ampliou a gama de texturas orquestras com o uso de música eletrônica. Neste CD, temos suas "Notations" em quatro partes, que mostra a evolução de seu trabalho pois foram desenvolvidas entre 1945/78. Finalmente, o mais jovem dos contemporâneos reunidos neste "Wien Modern" é o alemão Wolfgang Rihm, 39 anos, presente com "Départ", a obra mais recente do conjunto - 1988 - composta para coro misto, coro falado e 22 instrumentistas, sobre um texto do poeta maldito Arthur Rimbaud (1854-1891).
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Música
4
13/10/1991

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