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Aramis

Veja o álbum, escute a estória com boa música

Tão importante quanto a produção editorial destinada às crianças é a realização de discos para o público infantil. No boom da música infantil com a "explosão" do Balão Mágico, que estimulou dezenas de gravações semelhantes - catapultuadas [catapultadas] por especiais de televisão - tem também surgido álbuns com relação a livros e fascículos, ampliando assim a faixa de interesse nesta área. Por exemplo, dois dos melhores álbuns lançados no ano passado - "Verde que te quero Ver" e "Brincando de Roda" foram espécie de complementações sonoras de livros destinados ao público infantil. Outras vezes, naturalmente, os discos são produtos adicionais de programas de televisão ou cinema - como é o caso de "Os Trapalhões", cujos filmes são invariavelmente acompanhados de novos discos - repetindo fonograficamente o sucesso que obtém nas telas. O estúdio Eldorado, uma das empresas do grupo "O Estado de São Paulo", tem se preocupado em resgatar as delicadas e líricas tradições brasileiras: cantigas e brincadeiras de roda foram novamente reunidas num disco, "Brincando de Roda", uma espécie de complemento da série iniciada em 1983 com "Brincadeiras de Roda, Estórias e Canções de Ninar". Neste segundo disco, com interpretações de Solange Maria e Coral Infantil, 22 canções foram selecionadas entre 230 recolhidas pela professora carioca Íris Costa Novaes, que fizeram pesquisas envolvendo informantes e coletores de canções de vários pontos do País e as reuniu num livro já publicado (Editora Agir), com o mesmo título do disco. Aluíso Falcão, diretor artístico do Estúdio Eldorado - e a cuja sensibilidade se deve este trabalho - "Brincando de Roda" é uma conseqüência do trabalho iniciado com o primeiro disco, especialmente junto às escolas. Ele representa um esforço para levar às crianças informação sobre a música de origem popular. Porque a música que nossas crianças ouvem com mais freqüência nem sempre têm sido brasileira e é necessário e importante que a criança descubra, através da informação, inclusive musical a sua própria identidade". As músicas de "Brincando de Roda" cobrem várias regiões brasileiras. Assim, "O Trem de Ferro" foi recolhida em Pindamonhangaba, SP; "Meu Bandolim" é de Paratinga, às margens do São Francisco, assim como a segunda versão de "Bela Pastora" e a poética "As Ondas do Mar". De Minas Gerais vieram "Na Loja do Mestre André" (de Mariana), "Amanhã é Domingo" (de Manhuaçu), "O Padeirinho" (Também de Manhuaçu); "Olha o Macaco na Roda" e "Aí Vem Chuva" (as duas de Belo Horizonte); de Cuiabá, Mato Grosso, é "Mando Tiro" (na qual o verso é completado por um nome de pessoal que esteja na brincadeira); "Formiguinha da Roça" é de Fortaleza; "Bela Roseira" é do Recife; "Onde Vai, Morena?" é de São Luiz do Maranhão. Como se vê, um mapeamento musical, que só não é completo pelo esquecimento do Sul - injustificável num trabalho que pretende ser nacional. Mas será culpa da professora Íris ou pobreza do folclore regional? "Brincando de Roda" é apresentado como um álbum-livro: além da capa colorida, um encarte com as letras, histórico das canções e ainda uma descrição sobre a forma de cada coreografia adaptada a ela. Um trabalho gráfico mais uma vez brilhante do artista plástico Ariel Severino, responsável por quase todas as capas do Selo Eldorado. xxx Paulinho Tapajós, 40 anos, herdou não apenas o nome, mas também o talento e sensibilidade do seu famoso pai - o modinheiro, produtor radiofônico e, sobretudo, grande pesquisador Paulo Tapajós (Gomes), 72 anos bem vividos, por mais de 40 ligado a Rádio Nacional. Arquiteto, Paulinho preferiu a música e como produtor e compositor tem uma obra marcante, registrada também como intérprete em três belíssimos elepês. No ano passado, convidado a produzir um "Especial" de televisão na Globo, chamou seu parceiro de muitas "Andanças", Edmundo Souto Neto e juntos realizaram um excelente trabalho - resultando o programa de televisão, um elepê (lançado pela WEA, que infelizmente não deu qualquer promoção especial) e um livro lançado pela Record: "Verde que te Quero Ver". Mais do que a criação de músicas em torno de um tema de grande apelo e necessidade de conscientização da infância e juventude - a Ecologia - o resultado final, em termos musicais, foi esplêndido. Canções belíssimas, de grande melodia e belas (mas simples) poesias, em interpretações de primeiríssimo nível - Jane Duboc, Cor do Som, Beth Carvalho, Lucinha Lins, Cristina Conrado, Viva Voz, Marcelo, Aretha, mais instrumentistas como Antônio Adolfo (responsável por vários arranjos e regência), Reinaldo Arias, Ricardo Silveira, Jamil Joanes, Ary Dias etc., valorizaram as músicas que formam este sensível e emocionante "A Lenda de Luana". Há inclusive participações curiosas, como a do grupo Magazine e de Kid Vinil no divertido "Boto Desbotado", ou de um coral intitulado "A Turma do Verde", formado por Lizzie Bravo e sua musical filha, Marya (o pai é Zé Rodrix), Ana Silveira, Carolina Saboia, Sonia Ferreira, Paulinho Pizzial e Pedrinho Albuquerque. Paulinho Tapajós é autor de todas as faixas - tendo Edmundo Souto Neto como parceiro em oito faixas e nas outras, encontrando em Aécio Flávio ("Doce Doce"), Beth Carvalho ("Acalanto de Luana"), Mu ("Canção de Fadas") e Ary Sperling, do grupo A Cor do Som ("Quando eu Ficar Grandão") o companheiro ideal. Entre tantos projetos infantis desenvolvidos em 1984, "Verde que te Quero Ver" foi, sinceramente, talvez o mais perfeito em termos musicais mas, ironicamente, o que teve menor promoção. Beth Carvalho, com sua voz perfeita, participou com entusiasmo da faixa "Raio de Luar" e compôs também "Acalanto de Luana" com muita emoção: afinal Luana é o nome de sua filha de 3 anos e "Verde que te Quero Ver" tem o subtítulo de "A Lenda de Luana". O texto de Paulinho e Edmundo foi também criado para representação teatral - e seria interessante que algum grupo da cidade cuidasse de sua montagem. Afinal, está na hora de ser dado às crianças algo mais do que as mediocridades (com raras exceções) que vêm inundando os nossos palcos nestes últimos anos.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Leitura
23
24/02/1985

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