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"Ventania" nativista venceu o 14° Fercapo

Apesar da forte presença gaúcha na formação do sudoeste, o Nativismo não tem sido assumido integralmente pelos participantes do Fercapo, Selma Boschetto, a simpática supervisora da maior loja de discos, garante que 50% das vendas são de discos de intérpretes e eventos gaúchos, mas nem por isto até hoje houve condições de se realizar não só em Cascavel, mas em qualquer outra cidade da região, um festival ao estilo nativista, a exemplo dos mais de 50 que acontecem no Rio Grande do Sul a partir de Uruguaiana. Este ano, entretanto, foi uma música de raízes nativistas, com o grupo Cigarra, de Clevelândia, pilchados devidamente, que, desde a noite de quinta-feira, conquistou a simpatia do público e, no final, com a diferença de um ponto sobre a segunda classificada, foi a grande vencedora do Fercapo: "Ventania", de João Carlos Nascimento ("Paraná"), 35 anos e João Carlos Dorneles, 32 anos, com um forte e comunicativo refrão ("Leva boi/leva boiada/levanta poeira na estrada/Na garupa leva um anjo com a alma encantada/e no pensamento um sonho que sonhar não custa nada"). Entusiasmando o público - que já na primeira apresentação cantava, em coro, a bela letra de João Paraná. "Ventania" tornou-se a música de maior popularidade - merecendo, aliás, no final, os troféus também de comunicação, tanto do júri oficial, como do júri especial da TV Tarobá. Numa prova de que "o show não pode parar"- o grupo Cigarra - formado por Geraldo Antônio Vailliati, gaúcho de Guaporé, 33 anos; Newton Loures, - ambos advogados; Danilo Leão, dentista; Roberto Mezze, empresário e Sidney Massoch, bancários - todos fazendo música amadorísticamente - não se deixaram abalar pela trágica notícia que receberam na manhã de sábado. Viajando de Clevelândia para Curitiba, um grande amigo do grupo, Ilderico de Paula, tio da esposa do vocalista Geraldo Vailliati, acidentou-se com sua família vindo a falecer. A natural tristeza que o acidente trouxe não se refletiu, entretanto, na performance do conjunto que, na finalíssima, teve uma esplêndida atuação. Somente ao serem anunciados como os grandes vencedores, seus integrantes deram provas da emoção e tensão que se encontravam, chegando a chorar no palco. Afinal, não esperavam vencer o Festival, haja vista que outras quatro boas músicas também tinham sido bem recebidas pelo público. xxx Terceiro classificado no Fercapo 85, com "Tempo Destino", parceria com Vital Lima, o Nilson Chaves, paraense de Belém, voltou a Cascavel neste ano, para defender, como intérprete a bela canção "Nossa Verdade", de Luiz Fontana, 29 anos, carioca, cantor e músico da noite carioca, já com um elepê gravado. Além de ser escolhido melhor intérprete do festival, Nilson Chaves (que acaba de lançar um elepê dividido com Vital Lima, selo Visom) garantiu o segundo lugar a esta composição, cujo autor, também foi premiado defendendo "Quem Saberá? " (Omir Correa Alves Jr., carioca, ausente do Festival) música classificada em 4° lugar. Outro jovem compositor, também do Pará, Marco antônio Oliveira, 23 anos, com "Dor de Amor" - de grande comunicação ("tipo do sucesso para o estilo de Elba Ramalho", comentaria Zuza Homem de Mello) foi o terceiro classificado. Em quinto lugar ficou "Gabi", de Sergio Queiroz e Carlos Fábio, defendido por este - um jovem de 23 anos, da cidade de Dourados, Mato Grosso do Sul. xxx Se quatro das cinco primeiras premiações foram para autores e intérpretes de outros Estados, a compositora de Cascavel, Jeanine de Bona, jinglista, já com medalhas nacionais nesta área publicitária, mereceu uma premiação especial por "Vendavalsa", como autor regional, assim como o grupo que defendeu esta valsa suave e dolente. Entre as doze finalistas, ficaram também "Enigma", dos cariocas Paz Helena e Rico - defendida com sensibilidade por Rico (Ricardo Dorile), 33 anos, compositor já com músicas gravadas por Alcione. "Manhã", dos compositores Luciano Veronese e Cesar Nadal de Souza, de Cascavel, interpretada pela afinada Silvana - cantora amadora da cidade, também ficou entre as finalistas. Escolhida melhor intérprete em 1984 (quando também se classificou em 4° lugar), a gaúcha Denise Tonon, com "Asas do Amor", embora muito aplaudida, não conseguiu desta vez nenhuma premiação a não ser ficar entre as finalistas. Com uma bela letra de sentido ecológico, Osvaldo Zenqueta, da cidade de Terra Rica, teve bons aplausos ao defender seu "Voz do Verde" - uma das três canções concorrentes no Fercapo de apelo em favor do meio ambiente. Já veterano participante dos Fercapos, "Ceará" (Cícero Jerônimo da Silva), cearense de Juazeiro do Norte, 36 anos, músico e andarilho que viveu alguns anos em Guaratuba e hoje é artesão na cidade de 7 Quedas, Mato Grosso do Sul, veio competir e conseguir fazer com que seu fraternal canto "Amigos, Amigos", ficasse entre as finalistas. Satisfeito já por ter obtido esta vitória, o simpático Ceará dizia, ao final do Fercapo, aquilo que, de certa forma, identifica e marca o espírito de companheirismo e salutar competitividade desta promoção hoje vitoriosa: - "No ano que vem a gente volta. Mais uma vez e sempre!"
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
13
22/07/1986
Algumas correções: a letra não é somente de João Paraná, é também do meu pai João Carlos Dornelles. O sobrenome correto do Roberto é Melo e não Mezze, e o Sidney não era bancário, quem era bancário era o meu pai, que também fazia parte do grupo tocando violão.

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