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Aramis

"Vera", a melhor estréia da semana

Duas ou três estréias apresentam-se como opções para quem já assistiu aos (bons) filmes em cartaz e, inteligentemente, prefere ainda a beleza ampla da tela larga do que o vídeo que limita (e prejudica) a projeção de filmes concebidos originalmente para o cinema. A melhor estréia da semana é o aguardado "Vera", do jovem Sérgio Toledo, que tem feito uma boa carreira em festivais: premiado em Brasília e Berlim, hors-concours na noite de abertura do 15º Festival de Gramado e programado para outras mostras internacionais. Um filme inteligente, com excelente fotografia e revelando uma atriz de grande talento - Ana Beatriz Nogueira, merecidamente premiada com o Urso de Prata em Berlim, em fevereiro último. As duas outras estréias são amercianas: "Onze Para o Inferno", de Eric Carson (Plaza, desde ontem) e "Dois Policiais em Apuros" ("Running Scared"), de Peter Hyams (Lido I). Vera, este filme (cine Ritz, 5 sessões), aborda um tema difícil: a crise de identidade sexual de uma jovem criada num internato tipo Funabem e a sua tentativa de encontrar afeto. Fugindo da linha "Pixote" ou evitando também a pornografia, Sérgio Toledo, filho de uma família importante - neto do pintor Lasar Segall, sua mãe é a atriz Beatriz Segall e seu pai o museólogo Mauricio Segall - realizou um filme que, em Brasília, no XIX Festival do Cinema Brasileiro, impressionou favoravelmente, como aqui registramos na ocasião. Ali obteve os prêmios de melhor atriz (Ana Beatriz Nogueira), trilha sonora (Arrigo Barnabé) e som (José Luis Sasso). Representando o Brasil no 3º Festival Internacional de Cinema e Vídeo do Rio, ganhou o prêmio da Associação de Críticos do RJ. Levado a Berlim, consagrou Ana Beatriz Nogueira - que repetiu o feito de Marcélia Cartaxo, que em 1976, pela sua emocionante "Macabeia" de "A Hora da Estrela" de Suzana Amaral, também havia sido escolhida melhor atriz naquele festival. Sérgio Toledo, 31 anos, ex-estudante de sociologia, 12 anos de cinema (trabalhou com Khouri, Capovilla, Jorge Bodonski e Ana Carolina), em 1978 realizou seu primeiro longa-metragem, o documentário "Braços Cruzados, Máquinas Paradas", co-dirigido com Roberto Gervitz (que está em fase de montagem de seu primeiro longa de ficção, "Feliz Ano Velho", baseado no livro de Marcelo Paiva). Com cursos no exterior e aprendizagem em filmes publicitários - o que explica o excelente acabamento estético de seu filme - Toledo se dedicou, nos últimos 4 anos a realização de "Vera", que define como "um mergulho na minha maneira pessoal de sentir e ver o mundo". "Vera" é um filme blue - assim como "Cidade Oculta", de Chico Botelho, é um filme dark. Mais do que adjetivos, é a própria observação. A (excelente) fotografia de Rodolfo Sanchez (que trabalhou com Hector Babenco, em "Pixote" e "O Beijo da Mulher Aranha"), é requintadíssima, perfeita. A cenografia utiliza os ambientes futuristas do Centro Cultural Sesc-Pompéia e todo o filme é extremamente bem acabado. Aliás, nem poderia ser diferente, já que Naum Alves de Souza e Simone Raskim trabalharam na cenografia. A trilha sonora de Arrigo Barnabé é inquietante, forte - com o compositor londrinense mostrando toda sua competência. O elenco é ótimo: além da revelação de Ana Beatriz Nogueira, 21 anos (ela veio do teatro, onde começou em 1983, com "Ubu Rei", no grupo Tablado), há a presença de outra ótima atriz da nova geração, a morena Aida Leiner (como Clara, por quem Vera se apaixona), que só agora começa a ser valorizada. Raul Cortez é o ator seguro de sempre, bem como Carlos Kroeber (como diretor do orfanato), Imara Reis, Norma Blum, Lina Duval e Abram Farc, veteranos convocados para marcantes papéis. Um filme adulto, sério e importante que merece ser visto. "Onze para o Inferno" Embora parta para um roteiro original (Hugh Carcoran), "Hell Camp" tem elementos que fazem acreditar tenha bases verídicas: o violento tratamento que um grupo de pilotos americanos se submete nas selvas das Filipinas e o sadismo de um comandante endoidecido. Rodado na mesma área em que, há 12 anos, Francis Coppola realizou seu "Apocalipse Now", "Onze Para o Inferno" pode surpreender em sua crítica ao militarismo exacerbado. Entretanto, tem que se conferir, pois o diretor, Eric Carson, vem do cinema publicitário e estreou em longa-metragem com "The Octagon", onde era lançado o campeão de caratê Chuck Norris. Portanto, sem maior recomendação. O elenco é basicamente masculino - com Tom Skerritt ("Mash", "Momento de Decisão", "Alien"), Anthony Zerbe ("Rebeldia Indomita/ Cool Hand Luck", "Momento de Decisão") e o marcante Richard Roundtree, lançado como o detetive "Shaft" e que fez depois "Terremoto". A única mulher no elenco é Lisa Eichorn, vista nos "Ianques Estão Chegando" e que fez também "The Europeans", inédito no Brasil. Afastada há anos do cinema, volta agora como Casey, uma jovem piloto que participa do duro treinamento nas selvas. Com ação e muita tensão. "Onze Para o Inferno" - que permanecerá apenas uma semana no Plaza (a Fox tem vários filmes inéditos para lançar nesta sala) também merece atenção do público. Outras opções Duas comédias nacionais permanecem em cartaz: "Sexo Frágil", de Jessie Buss - com Edson Celulari, Maitê Proença e Monique Evans, apesar de ingênuo e frágil em seu roteiro (lembrando "Tootsie", de Sidney Pollack), foi tão bem promovido que ganha uma segunda semana no Lido II. A crítica nacional até viu com simpatia esta comédia ingênua, recusada pela comissão de celeção de Gramado. Já "As Sete Vampiras", "terrir" de Ivan Cardoso, segura a barra no São João. Mesmo sem estourar a bilheteria, está atraindo um público que se diverte com este revival das velhas chanchadas da Atlântida, que no XIV Festival do Cinema Brasileiro de Gramado, ganhou os prêmios de cenografia, atriz coadjuvante (Andrea Beltrão), montagem (Gilberto Santeiro), direção de arte (Oscar Ramos) e no II Cine-Rio valeu uma menção honrosa para o fotógrafo Carlos Egberto, profissional competente que atualmente se encontra em Londres. Rodado em Quitandinha - cenário de tantos filmes da antiga Atlântida, "As Sete Vampiras" é uma nova experiência de Ivan Cardoso ("A Múmia", seu filme anterior teve boa repercussão da crítica) no universo do terror com riso. O roteiro de R. F. Luchetti (colaborador habitual de José Mojica Marins, o Zé do Caixão), cria boas situações. No elenco, belíssimas mulheres - Andréa Beltrão, Lucélia Santos, Nicole Puzzi, Simone Carvalho, Suzana Mattos, Tânia Boscoli - e veteranos como Colé, Bené Nunes, John Herbert, Wilson Grey e Zezé Macedo. O curitibano Ariel Coelho tem uma boa participação e o herói é o cantor-compositor Leo Jaime. Também a comédia "Por Favor...Matem Minha Mulher" prossegue em exibição no Lido I, enquanto que no Condor, o ecológico e surpreendente "Jornada nas Estrelas IV: A Volta a Terra", de Leonard Nimoey, agrada. É o melhor filme da série. "As Belas do Billings", um filme do sempre inventivo Ozualdo Candeias, abordando o lado pobre de São Paulo, ganha segunda semana no Groff. No elenco, Almir Satter - ótimo compositor e violonista, estreando como ator, a bela Claudete Joubert e, numa ponta, José Mojica Marins. "O Nome da Rosa", de Jean-Jacques Annaud, naturalmente, continua nos cines Itália e Palace Itália, assim como "Máquina Mortífera" ("Lethal Weapon"), de Richard Donner - repete em Curitiba as boas bilheterias que está obtendo nacionalmente. Ganha uma terceira semana no Astor. "Platoon", de Oliver Stone, só deixou o Ritz porque ali estreou "Vera". Mas já visto por mais de 110 mil pessoas em 12 semanas, vai continuar por mais algumas semanas, agora no Luz. Nas sessões especiais, no destaque fica para "O Maestro", de polonês Andrezej Wajda - amanhã à meia noite e domingo às 10h30min no Groff. E domingo, às 10h30min, no Luz, volta "O Carvalhinho Mágico", desenho animado russo que sempre agrada a garotada. LEGENDA FOTO 1 - Em cena as atrizes Ana Beatriz e Aida Leiner: "Vera", no Ritz. LEGENDA FOTO 2 - "Jornada nas Estrelas - IV: A Volta para a Terra".
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Seção de Cinema
19/06/1987

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