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Aramis

As verdades nas telas da incompetência da Fundação

O chefe do Setor de Cinemas da Fundação Cultural de Curitiba, Paulo Roberto Rego Barros Biscaia Filho, em carta publicada ontem nesta coluna, tenta justificar os critérios (sic) para a programação das salas oficiais da Prefeitura, fazendo vários comentários sem, em momento algum, explicar os fatos mais graves que vêm ocorrendo. 1. De princípio, o sr. Rego se detém em apontar erros técnicos e de informação que aqui teríamos cometido no texto sobre o filme "Talk Radio: Verdades que Matam", publicado no último dia 30 de outubro. Se o sr. Rego tivesse algum conhecimento de jornalismo e em alguma vez de sua vida tivesse freqüentado uma redação, saberia que o jornalismo se faz de forma imediata aos fatos e quanto um filme da dimensão de "Talk Radio" está em exibição a primeira preocupação é passar imediatamente as informações possíveis aos leitores. Assim é que a rapidez na elaboração de um texto, com os dados citados de memória pode provocar pequenos erros - que inexistiriam se houvesse tempo para uma pesquisa maior - o que, entretanto, retardaria sua publicação. Sempre existiu (e existirá) uma margem de erros no jornalismo diário (fato, aliás, comum em toda a imprensa mundial) o que faz com que os grandes jornais e revistas mantenham espaços diários para correções. 2. Deixa o sr. Rego, entretanto, de explicar o que realmente é importante e que motiva nossas críticas: a total incapacidade da coordenação dos cinemas em saber promover filmes de grande importância cultural e mesmo política através de eventos paralelos. Sendo a Fundação Cultural mantida com recursos públicos e custando a sua área de cinema vários milhões de cruzeiros por mês, tem a obrigação de fazer um trabalho abrangente, motivando platéias a assistirem os filmes, promovendo debates, conferências e, especialmente, preocupando-se em divulgar, de todas as formas, os seus lançamentos. Nada disto, entretanto, ocorre. Seus "programadores" limitam-se a "marcar" filmes, utilizando-se de promoções organizadas por outras entidades, procurando capitalizá-las como "realizações locais", quando, na verdade, apenas estão utilizando o trabalho feito por reais animadores culturais de outras cidades. 3. Um filme como "Talk Radio: Verdades que Matam", pela seriedade e atualidade de seu tema interessaria, sem dúvida, a amplas faixas de públicos - e especialmente o ligado a comunicação eletrônica - se tivesse merecido algum trabalho promocional. Exibido no Cine Guarani, sala distante do centro e com a menor taxa de ocupação de todos os cinemas da cidade, está tendo, a exemplo de tantos outros bons filmes ali exibidos, uma freqüência reduzidíssima. Gostaríamos que o sr. Rego nos enviasse rapidamente um relatório completo da freqüência às salas de exibição mantidas pela Fundação, as relações dos empregados e custos - inclusive dos "coordenadores" (admitidos irregularmente sem concurso, em abril último) para que os leitores, a população e, especialmente a Câmara de Curitiba, possam verificar quanto custa a manutenção de atividades que, normalmente, estão a cargo da iniciativa privada. Numa época que o governo procura reduzir o gigantismo de sua máquina, estimulando a privatização, é estranhável que Curitiba seja a única Prefeitura do Brasil a manter quatro salas de exibição comerciais - que mesmo, eventualmente, com boa programação, não se justifica como investimento público. Opções mais econômicas e racionais podem (e devem) ser encontradas para difundir a cultura cinematográfica sem o município competir, empresarialmente, com os exibidores que gerindo este setor de atividades abrem emprego e pagam tributos à Prefeitura e ao Estado. 4. Também mais grave do que pequenos erros de datas ou nomes - facilmente corrigíveis - em textos sobre os filmes exibidos nas salas da FUCUCU (que, aliás, graciosamente, sempre teve o nosso apoio por sua divulgação), é o fato dos cinemas que o sr. Rego (bem como seu colega de função, Francisco Nogueira) deveria, supervisionar, funcionam com horários desconexos, prejudicando e sobretudo irritando o público conforme temos seguidamente aqui denunciado. Há 8 dias que o Cine Luz - que é programado pelo Circuito Belas Artes (São Paulo) vem obrigando os espectadores que chegam com atraso em suas 5 sessões aguardarem 30 minutos para assistir ao início do filme "Linda Demais Para Você", com metragem inferior a normal. Se houvesse competência, não só o Luz - mas as outras salas da FUCUCU - deveriam exibir curta-metragens de qualidade, pois embora a Lei que obrigava a sua projeção tenha deixado de ser cumprida, uma instituição que custa milhões/dia aos contribuintes e teoricamente voltada a cultura brasileira tem OBRIGAÇÃO de prestigiar nossos cineastas. 5. A irritação do público em relação aos intervalos injustificáveis nos cinemas da FUCUCU (cujos banheiros, aliás, deixam muito a desejar em matéria de higiene) é tão grande que nos próximos dias será encaminhado ao prefeito Jaime Lerner - com cópia ao cineasta e empresário Jean Gabriel Albicoco (que, como diretor geral do Circuito Belas Artes, exige respeito aos espectadores como condição básica com os cinemas conveniados) uma reclamação oficial. Entre os cinéfilos que encabeçarão o documento está o professor e artista plástico João Osório Brzezinski, que freqüentando há 40 anos os cinemas da cidade afirma que está cansado "de ter que aguardar longos intervalos nos cinemas da FCC". 6. O sr. Rego refere-se em sua carta de que lhe teríamos afirmado que nossa posição crítica deve-se a uma "questão pessoal" com o coordenador Francisco Carlos Nogueira. Independente de nossa opinião sobre o citado indivíduo, nossa posição SEMPRE FOI CLARAMENTE A FAVOR DO PÚBLICO e, na administração anterior, embora reconhecendo alguns méritos do ex-coordenador Francisco Alves dos Santos - ao contrário dos atuais, um profissional de boa formação cultura e ética - nunca deixamos de apontar erros e falhas em seu trabalho, sem que com isto houvessem ressentimentos pessoais. Nada temos contra o sr. Rego, jovem com pouco mais de 20 anos e que nos procurou ao assumir sua função, há sete meses, explicando que sua "paixão pelo cinema" havia "surgido" quando deslumbrou-se com "Caçadores da Arca Perdida", o que o fez passar a sonhar em "dedicar-se ao cinema" (sic). Só isto mostra o seu "preparo", "experiência", e sua "cultura cinematográfica" para ocupar um cargo que, dentro de uma administração séria, deveria merecer um profissional de nível. 7. Em tempo: jamais pretendemos qualquer função na área - pois em mais de três décadas de atividades ligadas a cultura nosso curriculum falar por si. Apenas não podemos aceitar o despreparo de pessoas que ocupam funções em que deveriam fazer um bom trabalho. Quando o sr. Rego nasceu já estávamos aqui na redação de "O Estado do Paraná". Jamais pretendemos nem posições pessoais e nem atribuímos posição de CRÍTICO. Nos orgulhamos, isto sim, de ao longo de 32 anos de ininterrupto exercício do jornalismo, termos procurado sempre apoiar quem tem valor e divulgar as boas atividades. Basta consultar as coleções de "O Estado" para comprovar nossas palavras. 8. Outras graves irregularidades e falhas da Coordenação de Cinema da FUCUCU seriam aqui lembradas se houvesse espaço na edição de hoje. Uma coisa é certa: continuaremos atentos e independentes, denunciando imbecilidades e principalmente, a incompetência nesta área oficial - subsidiada com dinheiro público.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
20
02/11/1991

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