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Violeta Arraes, a mulher que levou o FestRio para o Ceará

Fortaleza A realização deste sexto Festival Internacional de Cinema, Vídeo e Televisão na Capital cearense, com um esquema bem estruturado que possibilitou a transferência de um evento que tem o nome do Rio de Janeiro em seu logotipo, mas que não recebeu da cidade onde teve cinco edições o apoio oficial necessário, deve-se a muitas pessoas, que entenderam a importância do Brasil dar continuidade a uma promoção cultural, que desde 1984, já conseguiu ficar na chamada categoria A, ou seja, semelhante aos maiores festivais do mundo (Cannes, Berlim, Moscou etc.), no rigoroso controle de federação mundial de produtores de cinema. Afinal existem mais de cem festivais espalhados pelo mundo e ter uma vaga no grupo de primeira categoria é motivo para que este evento não seja interrompido. Bastará que não haja o festival por um ano para que a FIPC ceda a vaga para outras cidades do Continente que estão na boca de espera, como Buenos Aires (Mar del Plata já chegou a ter um famoso festival internacional) e Acapulco. Mais do que ninguém, em termos do governo cearense, o empenho para que o FestRio subisse para a ensolarada Fortaleza foi de uma das mais estimadas animadoras culturais, a psicóloga Violeta Arraes Gervaisseau, secretária de Cultura do governo Tasso Jereissati, cearense de nascimento, irmã do governador Miguel Arraes, de Pernambuco, tendo vivido mais de 20 anos na França, onde inclusive casou com o técnico em estatística Pierre Gervaisseau, Violeta tem muitas ligações com o Paraná, especialmente Curitiba, onde viveu por três anos (1953/55). Sua afetividade com a nossa cidade é tão grande que em setembro do ano passado, quando aqui esteve para uma reunião de secretários de Cultura, reservou uma tarde para em companhia da bibliotecária Maria Teresa Lacerda, sua amiga daquela época, fazer um roteiro nostálgico-sentimental não só revendo os amigos dos anos 50, que aqui ficaram, mas indo até na casa em que residiu na Rua Olavo Bilac, vizinha do médico Lisandro Santos Lima, onde, em 4 de fevereiro de 1954, nasceu Henri, seu segundo filho, e que a acompanhou em seu retorno a Curitiba. O casal Gervaisseau veio para Curitiba a convite do governador Bento Munhoz da Rocha Neto, que os conhecia pelo trabalho que faziam no planejamento humanista, área em que tanto Violeta como o seu marido, Pierre, trabalhavam na França, inclusive fazendo parte da equipe do Padre Louis Joseph Lebret (1897-1966), dominicano que desenvolveu toda uma escola da economia a serviço do homem a partir de 1941. Técnico do Centro Nationale de Recherches Statistiques, Pierre veio trabalhar numa pesquisa da Fundação de Assistência ao Trabalhador Rural. Maria Teresa Lacerda na publicação "Os franceses em Curitiba" (boletim informativo da Casa Romário Martins, volume XVI, nº 84, julho/89, 63 páginas), conta que "o projeto era uma antecipação da informática usada em trabalho rural social". Durante os três anos que aqui residiram, os Gervaisseau fizeram de sua residência um verdadeiro centro cultural, freqüentado por jovens artistas como o pintor Loio Persio e jovens intelectuais (Eduardo Rocha Virmond Uvaldo Puppi, Maria Tereza Lacerda, entre outros). Em 1955, retornariam a Paris de onde vieram para Recife, quando Miguel Arraes - foi eleito governador. Empenharam-se em programas sociais na administração popular e, em conseqüência, quando do golpe de 1º de abril de 1964 e a prisão do governador de Pernambuco, foram perseguidos e obrigados e retornarem, desta vez como exilados, para Paris. Na França, Violeta e Pierre foram até recentemente uma espécie de embaixadores culturais de todos os brasileiros que chegavam "no rabo de um foguete" como diz Aldir Blanc em sua canção. Generosos ao extremo, ajudaram centenas de exilados. Assim, há dois anos, quando Violeta aceitou o convite do governador Jereissati para ocupar a Secretaria da Cultura do Ceará, o prestigiamento que recebeu foi imenso, tendo em sua posse a presença de grandes nomes das artes brasileiras, além de quatro governadores do Nordeste e merecendo cobertura imensa, inclusive na revista "Veja", que destacou em duas páginas a sua grandeza humana e prestígio em vários círculos. Em 1986, ainda residindo em Paris, mas já pensando em retornar ao Brasil, Violeta foi convidada por Ney Sroulevich para integrar o júri de curtas-metragens do III FestRio, do qual também fizemos parte. Ligada sempre às artes, especialmente ao cinema, Violeta entendeu a importância do FestRio, ao qual voltaria nas edições seguintes e, sentindo as dificuldades da promoção continuar a ser realizada no Rio de Janeiro (o quinto festival só aconteceu devido a coragem de Ney e sua equipe, pois os recursos foram mínimos), acenou com a possibilidade do evento ser transferido para outros estados, começando por Fortaleza, mas nada impedindo que outras capitais possam abrigá-lo sucessivamente.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
23/11/1989

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