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Aramis

Violonistas

São tão raros os discos de solistas de violão que os lançamentos merecem registros, mesmo quando ocorridos já algum tempo - como no caso dos álbuns de Turíbio Santos e Julian Breach, ambos do elenco internacional da RCA, interpretando as mesmas peças - 12 estudos para violão de Heitor Villa-Lobos (5 de março de 1887-17 de novembro de 1859) ou as avançadas propostas de Stênio Mendes, somando ao violão, também a craviola (invenção de seu tio, o consagrado Paulinho Nogueira), vozes e percusão. Aos 37 anos, Turíbio Santos é hoje o mais importante violonista brasileiro no campo erudito: a longa permanência na Europa, regulares apresentações em vários países, divididas hoje com a direção da Sala Cecília Meireles, tornam seu tempo bastante curto para se preocupar com gravações no Brasil, embora tenha feito alguns discos antológicos, como o << Choro do Brasil >>, produção de seu amigo estimulador Herminio Bello de Carvalho, gravado na Tapecar, e o melhor disco entre tantos álbuns instrumentais de choro feitos em 77. Na França, contratado de Erato, Turíbio tem uma dezena de elepês em catálogo, tendo inclusive inaugurado a série << Florilège de la guitare >>, posteriormente transformado em << Panorama da Guitarra >> - incluindo virtuoses como seu amigo (e extraordinário pessoa humana) Oscar Caceres, o cubano Leo Browerr, entre outros. A RCA, que detém a representação de Erato no Brasil, até agora somente editou o volume 1 desta série, gravado por Turíbio, há 12 anos passados, interpretando os 12 estudos na guitarra, que Villa Lobos começou a compor em 1929, e que só em 53 foram propostos para publicação, dedicados a Andres Segovia, que entusiasmado os definiu como portadores << ao mesmo tempo, (de) fórmulas de surpreendente eficácia para o desenvolvimento da técnica de ambas as mãos e belezas musicais << desinteressadas >>, sem finalidade pedagógica, valores estéticos permanentes de obras de concerto >>. Não é preciso ser um profundo conhecedor de música para se reconhecer nestes estudos de Villa-Lobos, uma das obras-primas da música contemporânea, que resistem ao tempo e que teve na sensibilidade de Turíbio uma interpretação perfeita. Lançada na França em 1968 - e no Brasil em 1975, este disco ainda pode ser encontrado em algumas lojas que sabem selecionara oferta (como a Sartori, na Rua Marechal Deodoro) e se trata de obra-de-catálogo: deve permanecer sempre. Só lamentamos que os outros discos de Turíbio, gravados no Exterior, aqui não tenham saído e que suas eventuais gravações, como as que fez para discos-brindes, tenham ficado restritos a um privilegiado grupo de pessoas que os receberam. No ano passado em seu prestigioso << Red Sead >>, a RCA incluiu a edição de interpretação que Juliam Bream deu aos 12 Estados Para Violão, que possibilita a comparação das mesmas obras na visão de dois virtuosos do instrumento. Bream incluiu ainda em complemento, ao lado 2, a chamada << Suite Populaire Brésilienne >>, composta de 5 pequenas peças, que Villa-Lobos criou entre 1908/1912. Com esta edição, a RCA prestou uma excelente contribuição a quem se interessa pela música do mestre Villa. Na sua coleção << Música Popular Brasileira Contemporânea >>, dedicada a dar oportunidade aos instrumentistas mostrarem seus trabalhos, a Philips/Polygram, edita o lp de Stênio Mendes. Sente-se neste jovem uma profunda influência de Egberto Gismonti: no texto de contracapa, fala dos índios xingús, suas crianças, seus ritos - temas que marcaram profundamente a Gismonti, há alguns anos e o levaram a fazer o internacionalmente consagrado << O Sol do Meio-Dia >>. Assim com Gismonti utiliza a percussão (do notável Naná Vasconcelos) em contrapartida ao violão (e, em seu caso, também a flauta e teclados), Stênio encontrou em Ubiraci de Oliveira (Bira) e José Eduardo Nazário, percussionistas identificados com suas propostas. Alternando-se na craviola e violão com arco, Stênio acrescenta vozes - somando inclusive a participação especial de sua mãe, Ruth Mendes Nogueira, em << Linhas Tortas >>. Com exceção de uma fusão de << Aquarela do Brasil >> (Ary Barroso) a << Also Sprach Zarathustra >> (Strauss) e o popularíssimo << Hara Nagilah >> (A . Z. Idelsohn), todas as composições são de Stênio: << Taquará>., << Espada de Anjo >> , << A Sonata Perdida >>, << Invação dos Monges >>, << Linhas Tortas >>, << A Barca dos Homens >> e << Rosário >>. Não é um lp fácil de ser consumido e nem será ouvido nas rádios. Mas é, sem dúvida, um disco-marco do início da caminhada de um novo forte e vigoroso talento, que não teme em aceitar os riscos de sofrer uma restrição comercial, preferindo ao invés de um repertório facilmente assimilável, a proposta de um som instrumental - somado a voz e a percussão, que o faz ser ouvido com maior atenção. FOTO LEGENDA- MPBC Stênio Mendes FOTO LEGENDA1- Julian Bream Villa-Lobos FOTO LEGENDA2- Oboe Und Orgel Musik Des 18. Jahrhunderts
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Jornal da Música
1
01/06/1980

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