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Aramis

Vítola vai de Menezes e voltou ao Não Agite

Se não foi autor do primeiro samba-de-enredo do Carnaval curitibano – afinal o ex-industrial e hoje dirigente da Embaixadores da Alegria. Glauco Souza Lobo, reivindica tal pioneirismo – Paulinho Vítola tem o mérito de, há 12 anos, ter desenvolvido o primeiro grande enredo, com uma seqüência lógica, para a Escola de Samba Não Agite – 1970. O tema foi “Ciclos Econômicos do Paraná” e dentro de nossa tímida presença musical-carnavalesca o trabalho de Vítola ficou como um marco. Aliás, foi deste trabalho que ele retiraria, quatro anos depois, alguns temas para  “Paraná de Todas as Gentes”, a peça (texto de Adherbal Fortes de Sá Jr.) que inaugurou o auditório Bento Munhoz da Rocha Neto, em 12 de dezembro de 1974. Afastado há mais de uma década do Não Agite, Paulinho aceitou voltar a colaborar com aquela escola de samba por uma razão muito especial: o tema que o presidente Carlos Mazza escolheu para sair este ano lhe toca profundamente – Emílio de Menezes.   xxx   A gorda figura do poeta e humorista Emílio de Menezes (Curitiba, 5/11/1870 / Rio de Janeiro, 7/6/1918) entusiasma Paulinho Vítola há muitos anos. O poeta parnasiano-simbolista, o mais notável satírico da época, único paranaense eleito para a Academia Paranaense de Letras (porém, doente, morreu antes de tomar posse), deixou uma obra notável[,] mas  que permaneceria desconhecida das novas gerações se não fosse a feliz idéia da professora Cassiana Licia Lacerda Carolo, coordenadora editorial da Secretaria da Cultura, em reuni-la num excelente volume – lançado em 1980, com convênio com a Livraria José Olympio Editora. Ao ler o maçudo livro,  Paulinho teve seu amor pela poesia e humor de Menezes aumentado. Na época chegou a pensar num grande musical a respeito, para ser montado em teatro, mas [a] idéia não foi adiante. Mas quando, em fins do ano passado, Mazzinha, 34 anos, 26 de carnaval (aos 6 anos já sambava na avenida), assumindo a Não Agite e dispisto a lhe devolver seu período de florias, convidou Paulinho, este apesar de estar absorvido na Múltipla – onde é o principal homem de criação, não teve dúvidas:topou na hora. Até agora, Paulinho ainda não mostrou o samba de enredo que fez para o Não Agite, mas quem o conhece sua admiração por Emílio de Menezes, imagina que ele deverá transmitir a verve humorística do gordo poeta. Afinal, são muitas as estórias que se contam a respeito do autor de “Deuses de Ceroulas”. Certa feita, um sujeito gabava-se de ter troçado dos sonetos e do avantajado porte de Emilio, que respondeu-lhe com a troça: Morreu depois duma sova E como não tinha campa. Duma orelha fez a cova E da outra fez a tampa Outra vez desentendeu-se com um político, homem magríssimo e barbudo. Emílio fez lhe a observação: Magro, triste, macerado Frio, flácido, funéreo Parece um feto barbado Nascido num cemitério Apesar de um gritante engano geográfico histórico “o frevo é natural da Bahia” (afirmação para fazer os pernambucanos espumarem de raiva), “Muito Prazer”, um [esfuziante]  Frevo foi o vencedor do Abre Alas – 2º Festival de Música de Carnaval, na finalíssima realizada no entardecer de sexta-feira. A promoção idealizada por Cláudio Ribeiro, com apoio de Maria Elisa Paciornick, coordenadora da Secretaria da Cultura e Esportes, se firmou este ano e dentro de 3 semanas o compacto duplo, com as quatro qualidades músicas vencedoras estará sendo catituado para dar um som local em nosso Carnaval. Um romântico samba de Nelson Santos (que é o presidente da comissão de Carnaval de Curitiba 82) e Alaor de Flauta ficou em segundo lugar, enquanto “Protesto” de Lais Miranda, com um ecológico tema, entrou em terceiro lugar[,] a “Porquinha Maluca” de Nair Pereira dos Santos ficou em 4º lugar. No ano passado dona Nair, uma encantadora senhora de 65 anos, havia sido a vencedora com seu “Sambicura da Galinha” e este ano a torcida por sua irônica marchinha, defendida pelo comunicativo Bola (Reginaldo de Carvlho, 22 anos) era grande.   xxx   Válido principalmente por estimular os compositores a tentar a preservação de um gênero musical em fase de total enfraquecimento mesmo no Rio de Janeiro, o Abre Alas é uma promoção econômica e simpática  da Secretaria da Cultura que se integra aos esforços da Prefeitura, agora através da Fundação Cultural, em fortalecer esta festa popular. Houve marchinhas irônicas, bem característica do Carnaval, como “Se Um Dia a Sorte Muda” (Jurandir de Souza Lopes), “Nem o Diabo Pode” (Fabiano), “Me dá um Barão” (Fernando Carlos Kuster), “Romeu e Julieta” (Carlos Eduardo Mattar/Osval) e “De O Fim Na Inflação” (Júlio Cezar Amaral de Souza), mas a comunicabilidade do frevo de João Paraná/Panchito Arrabe, justificou a sua premiação. Lamentavelmente, a mais bela marcha rancho inscrita “Cheiro de Alecrim”, foi prejudicada pela interpretação (Pelicano), que não conseguiu passar toda a suavidade desta música que mereceria ser gravada tal como foi concebida originalmente por seus autores.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
7
10/01/1982

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