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Aramis

Viva, a Pablo retorna!

No ano passado, uma das mais tristes notícias que os apreciadores do bom jazz tiveram foi a de que a Pablo Records cessaria suas edições no Brasil através da Phonogram, que desde 1975 vinha colocando no Brasil as excelentes produções desta etiqueta fundada por Norman Granz (ex-Verve), com o nome em homenagem ao artista Pablo Picasso (1881-1973), que inclusive chegou a desenhar o seu logotipo, pouco antes de morrer. Devido a contratos internacionais, a Pablo passou a ter representação em todo mundo pela RCA, gravadora que, infelizmente, no Brasil, até hoje não se animou a investir com maior força no mercado jazzístico. A suspensão do contrato da Pablo/Phonogram, fez, inclusive, que um álbum com a extraordinária Mary Lou Illians, pronto para ser editado às vésperas do ll Festival Internacional de Jazz (SP, abril/80), fosse suspenso. Passaram-se os meses, e as negociações foram recicladas: Granz, homem inteligente e prático, reconheceu o belo trabalho que a Phonogram vinha fazendo - inicialmente com Maurício Quadrio, depois de 1976 com Ezio Sarvello (diretor internacional), de forma que exigiu que a RCA abrisse mão. Assim, os lançamentos da Pablo, no Brasil, continuarão a acontecerem através da Phonogram. Que já no mês de abril, lançou no mercado dois notáveis elepês, indispensáveis a todos colecionadores que se prezam. Possivelmente por falta de tempo, não houve condições de encarregar ao competente José Domingos Raffaelli de fazer as traduções das notas de contracapa, de forma que estes dois primeiros discos do reinício de atividades de Pablo aparecem em inglês mesmo. "The King", com o saxofonista Benny Carter, vibrafonista Milt Jacson, guitarrista Joe Pass, pianista Tommy Flanagan, baixista John B. Willians e baterista Jake Hanna é um daqueles discos que se ouve com um misto de emoção e razão: a sensibilidade dos instrumentistas, a beleza dos temas, só se equilibra a perfeição dos executantes, jazzistas dos mais conhecidos, quase todos com inúmeros lps - a maioria, em trabalhos de destaque, editados inclusive pela Pablo. Benny (Bennett Lester) Carter, 64 anos, novaiorquino, mais de 30 anos de carreira, tem sido chamado - na aristocracia jazzística, de "The King". por suas performances desenvolvidas ao longo das mais diferentes formações. Um dos grandes saxofonistas da época de ouro que continua em plena forma, atuando bastante em excursões, programas de televisão e discos, reuniu outros marcantes instrumentistas para a gravação deste álbum, feito nos estúdios da RCA, em Los Angeles, há 5 anos (11/2/1976). Sente-se em todas as faixas, de autoria do próprio Carter, os musicos maduros, competentes, incapazes de fraquejar em qualquer momento. Apenas duas faixas trazem parcerias de Carter: "My King Of Trouble Is You", com Paul Vandervoort e "Green Wine", com Leonard Feather - o mais famoso crítico de jazz e compositor bissexto. "Edison Light", também gravado nos estúdios da RCA, em LA, há 5 anos (5/6/1976), traz músicos de jazz menos conhecidos, no Brasil, do que "The King": Harry Edison, pistonista, nascido em Columbus, Ohio, a 10/10/1915, foi durante 13 anos um dos "side-man" (musicos acompanhantes) da orquestra de Count Basie, com quem trabalhou entre 1937/1950. Nos anos 60, entretanto, Harry "Sweets" Edison desenvolveria um trabalho de maior destaque, aparecendo em programas de tv como "Hollywood Palace", "Leslie Uggams" e especiais ao lado de Sinatra. Quando a vida de Billie Holiday (1915-1959) foi levada a tela por Sidney J. Furie em "The Lady Sings The Blues" ( O caso de Uma Estrela), Harry foi convocado para gravar a belíssima trilha sonora. Nos últimos anos, Harry Edison tem feito esporadicas atuações com Benny Carter, inclusive um concerto no Carnegie Hall, em Nova Iorque. Para a gravação de "Edison's Lights" - o título de uma de suas composições mais interessantes, há cinco anos, foram convocados músicos como Eddie Lockjaw Davis (sax-tenor), Jimmy Smith (bateria), John Heard (baixo), Dolo Coker e William Basie, (pianistas). Quatro das oito faixas são do próprio Edison - "Edison's Lights", e "E", ´Helena's The me", "Homegrown", ao lado de clássicos como "Ain't Misbehavin" (Fats Waller/ Razaf/ Brooks), "Avalon" (Jolson/ DeSylva/ Rose), "Spring Is Here" (Rodgers/ Hart) e o "On The Trail", trecho da "Grand Cannion Suite", de F. Groffe, aqui num especialíssimo arranjo jazzístico. Da nova geração de instrumentistas americanos - tão nova que seu nome ainda não consta da "The Enciclopédia of Jazz", bíblia de Feather, Tom Browne é uma gratíssima revelação em "Love Approach" (Artista/Ariola), lançado meio desapercebidamente no Brasil, no final do ano passado, mas que deve ser ouvida com atenção pelos que curtem o jazz instrumental.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Jornal da Música
25
10/05/1981

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