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Aramis

Voz e violão na perfeição de Ney Matogrosso e Rafael

A abertura de "Plural", com o violão perfeito de Marco Pereira e a voz maior de Gal Costa é tão suave que, os mais ortodoxos fãs de nossa MPB, dispensariam inclusive outros instrumentos (o que baratearia o custo por apresentação, hoje ao redor de Cr$ 4 milhões). Mas quem quiser se deliciar apenas com as (imensas) potencialidades voz-violão tem, neste final de semana (12 a 14, Auditório Bento Munhoz da Rocha Neto, ingressos a Cr$ 5 e Cr$ 3 mil) oportunidade para aplaudir outro espetáculo de primeira categoria: "À Flor da Pele", uma simbiose de Ney Matogrosso (Souza Pereira, Bela Vista, 1941) com o violão de 7 cordas (em alguns momentos, em outros o convencional) da maior revelação deste instrumento dos últimos dez anos: o carioca Rafael Rabello, 28 anos, 16 de vida musical, meia dúzia de elepês solos (incluindo os 2 que saem neste semestre) e presença em mais de 50 gravações do que de melhor se tem produzido no Brasil em termos de resistência musical. Para quem já se deliciou com o álbum "À Flor da Pele" (vinil, cromo e CD, lançado pela Sigla no final do ano passado), o espetáculo (imperdível) que Mozart Primo promove no Guaíra, traz o visual cênico de Ney Matogrosso, que sobrevivendo aos seus companheiros Gerson Conrad e João Ricardo dos Secos & Molhados, soube construir uma das mais rigorosas carreiras solos. Hoje um superstar, Ney tem sabido voltar-se ao que há de melhor na MPB - e após ter feito a bem sucedida experiência dividida com teclados do erudito Artur Moreira Lima, os sopros de Paulo Mora e as cordas mágicas de Rafael, Ney retornou no ano passado com uma produção ainda mais sintética e perfeita. À sua voz única - de contralto que poderia ter feito carreira operística - harmoniza-se ao ritmo de Rafael, cujo violão tal como na canção de Silvio Caldas, "de tanto roçar seu peito / tem hoje o timbre perfeito / das batidas do seu coração". Os aplausos ao espetáculo ao vivo se complementam com a felicidade de se dispor já desta gravação em LP - uma das melhores produções editadas pela Sigla nos últimos anos - que, a primeira audição, pode até assustar aos saudosistas ou modernos. João Máximo, co-autor da mais completa biografia de Noel Rosa (1910-1937) e um exemplar pesquisador das coisas da MPB, soube observar que "À Flor da Pele" exigiu, tanto no palco como no disco, "coragem e muita confiança nas próprias qualidades de intérprete - revisitar canções como as do cardápio deste disco (e show) a maioria antiga. Corre-se o risco de, por um lado, desagradar os tradicionalistas que vivem a comparar as versões de agora com as originais e do outro, de passar por velho perante a crítica e consumidor obsedado pelo novo. Ney teve essa coragem - e essa autoconfiança - e agiu certo em escolher Rafael como cúmplice: os dois parecem não ligar a mínima para saudosistas e modernos!".
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
24
12/04/1991

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