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Aramis

Vozes em discos

Se a iniciativa não fosse do vereador Mário Celso, líder da bancada do MDB e uma das promessas do partido oposicionista na política paranaense, talvez não houvesse o que acrescentar. Mas sendo Mário Celso um radialista profissional - aliás, com uma carreira das mais brilhares, conhecendo bastante o mundo artiístico e, principalmente, os meandros da fonografia, a sugestão que apresentou, dias atrás, no sentido de que a Fundação Cultural crie uma gravadora ou selo para lançar "valores paranaenses", exige algumas revisões. De princípio é preciso definir o que pretende: gravadora é um complexo industrial, com estúdios, fábricas para prensagem de disco, até gráfica para confecção e capas e encartes etc. Já etiqueta ou selo (do inglês "Label") é apenas uma marca, pela qual saem discos executados industrialmente nas poucas fábricas existentes no País. Assim, criar uma gravadora (fábrica) de discos é um projeto inexquecível, ao menos a curto prazo, ainda mais por parte do poder público. E com relação a selo ou etiqueta, a Fundação Cultural já tem: "Edições Paiol", que temos de ter criado, em março de 1973, para o lançamento do compacto duplo com as quatro principais musicas de "Cidade Sem Portas", composições de Paulo Vitola, interpretadas pelo Opus 4, grupo vocal que hoje não mais existe. Posteriormente sob outra direção, saiu um elepê da Camerata Antigua e o disco de música popular, produzido por Roberto Nascimento e Marinho Galera, para o extinto e finado MAPA (- Movimento de Atuação Paiol)., Sem discutir os méritos destas gravações, foram válidos pelos sentido de registro histórico de movimentos artísticos. E sempre fomos favoráveis a edição de livros e discos, realização de filmes, montagem de acervos fotográficos etc., que perpetuem a memória e a cultura de uma cidade, de uma geração. O que o vereador Mário Celso pretende é válido: entusiasmado com alguns com alguns compositores que têm surgido, alguns realmente de valor, e sabendo das regras mercadólogicas que comercializam o jogo fotográfico, saber que dificilmente os "talentos da casa" terão vez e hora nacionalmente. Um exemplo é Paulo Chaves, 25 anos, compositor e cantor de méritos inegáveis, ex-crooner do Aquárius Band e do SanJazz Trio, que, sem medir sacrifícios, vem tentando viver de sua coz. No ano passado fez um compacto duplo na Chantecler, que custou Cr$ 40 mil em produção (aluguel de estúdios, arranjos, cachês dos músicos etc.). Com boas musicas de compositores locais )Paulo Vitola/-Marinho, João Gilberto Tatara e o próprio Chaves) o disco vendeu mais de 10 mil cópias, chegou a aparecer na discutível "Parada Nacional" de Sucesso" e uma das musicas, por sinal a mais importante ("Receita", Vitola/Marinho) foi incluída na trilha sonora de "O Espantado", frustada experiência dos estúdios Silvio Santos no campo da telenovela. Apesar de tudo a gravadora não de a sustentação promocional que Paulinho merece e assim não aconteceu nacionalmente. Um pouco desiludido, pensa em radicar-se em São Paulo, para tentar "acontecer", poís, em termos nacionais, só no eixo Rio Rio-São Paulo que um novo compositor-interprete consegue o destaque necessário. E olhe para os méritos de Chaves que tem sido reconhecidos: ainda agora uma das faixas de seu compacto entrou no disco de sucessos do momento, montado para a série "Disco do Mês/Status", da Continental (gravadora ligada a Chantecler). Esse Exemplo nos parece bastante claro. Mas o que a Fundação Cultural ou o governo do Estado podem- e devem fazer não é imobilizar capital numa fábrica de discos, inclusive concorrendo com a iniciativa privada. É associar-se, em produções especificas, a, por exemplo, um jovem empresário chamado Percy Tamplim, que, com recursos próprios, está transformando o Sir-Laboratorio de Som & Imagem, já com o melhor equipamento de gravação da cidade, numa etiqueta, que lançara discos.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
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Tablóide
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29/04/1977

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