Login do usuário

Aramis

VW LEVA AO MUNDO O DESENHO BRASILEIRO

Com textos em português, inglês e alemão, esta obra-de-arte (sem dúvida, uma das mais caras contribuições feitas à difusão de nossas artes plásticas) vem tendo, desde o final do ano passado, circulação internacional, não só junto às altas cúpulas empresáriais que se relacionam com a Volkswagen, mas com bibliotecas, pinacotecas e entidades de arte e cultura - tal a grandeza deste volume. Para a elaboração deste volume - a exemplo do que havia feito em "A COR na Arte Brasileiro" - Klintowitz optou pelo critério antológico, preferindo uma visão ampla do nosso desenho, que possibilitou o cotejo entre diversas tendências, linguagens e artistas. Em seu texto cristalino e didático. Jacob Klintowitz situa o desenho brasileiro, suas tendências e evolução. Fala de Percy Lau, como o ilustrador mais visto do Brasil (são deles as ilustrações dos livros de Geografia e História que formaram várias gerações). Assim Lau registrou minuciosamente as suas impressões do País e o seu trabalho é um verdadeiro guia da vida e dos grandes artistas plásticos brasileiros, aqueles que deram estrutura à nossa arte moderna. São artistas cuja obra forma um arcabouço seguro para o estudo e desenvolvimento da nossa arte: Portinari, Lasar Segall, Ismael Nery, Di Cavalcanti, Alberto da Veiga Guignard, Gomide. E cada um dos artistas selecionados é apresentado em palavras exatas e seguras. Livio Abramo (notável desenhista e gravador, que teve em São Paulo uma importância semelhante a de Goeldi no Rio), Flávio de Carvalho (modernista, estudioso do comportamento humano, arquiteto, escritor, desenhista, pintor, conferencista); Marcelo Grassmann (um dos mais notáveis desenhistas de nossa época); Guima - um artista envolvido com a problemática do homem, em especial a questão ecológica. Um caso especial - diz Jacob - é Aldemir Martins, grande prêmio de desenho na Bienal de Veneza, artista de grande atuação, com trabalhos na área do desenho industrial, ilustração, abertura de telenovelas, pintura, cerâmica e escultura. Caso toda a documentação desta época brasileira fosse perdida, a fauna e a flora brasileira e uma parte de nossa ecologia nordestina poderiam ser reconstituidas a partir do trabalho de Aldemir. Já numa linha de atuação paralela, registrando os movimentos religíosos e a vida da gente simples, está o desenhista Carybé, que documentou os cultos afro-brasileiros e a vida da Bahia. Cicero Dias ficou conhecido por sua linha fantástica e lírica. Na sua obra os seres vivem o seu sonho, e é o próprio uníverso deste sonho o assunto final da obra. Na mesma linha de Cicero Dias, mas a partir de um ponto de vista totalmente diferente, está o trabalho de Isabel de Jesus, artista espontânea, cujo processo criativo é associativo, uma imagem trazendo a posterior e assim sucessívamente. Mas o seu universo é onírico, fantasioso, ficcional. Glauco Rodrigues utiliza o assunto brasileiro, os temas tropicais para fazer o registro e a paródia do registro. Na mesma tendência intelectual, com um temperamento atiladamente crítico está o jovem desenhista Arlindo Daibert. Já Octávio Araujo é um desenhista capaz de realizar seu trabalho como clássicos, tal a sutileza, a clareza e a definição de sua obra. O desenho do catarinense Rodrigo de Haro trata da fígura humana, mas buscando especialmente o grupo e revelando uma situação de espectativa cruel. Wesley Duke Lee é o maior representante, no Brasil, de uma linha de realismo fantástico. Para isto utiliza todos os processos modernos - xerox, fotografia, inventa objetos - mas coloca todos estes instrumentos a serviço de uma visão delirantemente descritiva, onde se mesclam os dados da imaginação, da mitologia e do cotidiano. Henrique Léo Fuhro trata do objeto contemporâneo. O seu assunto é a figura que surgiu nas novas atividades. Já Darcy Penteado tratou como ninguém a família brasileira tradicional. Carlos Scliar também tem a preocupação do registro e da memória. Mas o assunto que ele quer registrar é a sua emoção de um momento que passa e o cuidado histórico. Scliar não abandona a delicadeza que traça, a capacidade de observação, o gesto certeiro da mão, mas ele grava uma situação que merece veracidade. No desenho, como na pintura, em suas várias fases, mesmo nas paisagens atuais, fica clara a preocupação do artista de não perder as do artista de não perder as qualidades plásticas inerentes à arte, mas de, igualmente, conferir ao seu trabalho um caráter rigoroso de veracidade. Servulo Esmeraldo, nome ainda pouco conhecido, trabalha com o fino pensamento de uma linha que se desdobra no espaço. Roberto Magalhães tem como assunto o mágico. Mesmo quando participou de um grupo que trouxe a art pop ao Brasil, a sua manifestação tinha esta ligação com o mágico, o irracional, a liberação de intuições e sonhos. Como diz Jacob Klintowitz em sua introdução, o Brasil tem mais de 27 grandes desenhistas - inclusive os selecionados para esta obra patrocinada pela Volkswagen - merecem espaços de discussão e descrição maiores. A escolha destes 27 artistas como representantes de várias tendências fundamenta-se no papel histórico que desempenharam e em critérios subjetivos. Esperamos que, a partir desta iniciativa, todos os bons desenhistas brasileiros, tenham a divulgação e o registro que merecem.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Nenhum
12/07/1984

Enviar novo comentário

O conteúdo deste campo é privado não será exibido publicamente.
CAPTCHA
Esta questão é para verificar se você é um humano e para prevenir dos spams automáticos.
Image CAPTCHA
Digite os caracteres que aparecem na imagem.
© 1996-2016. tabloide digital - 35 anos de jornalismo sob a ótica de Aramis Millarch - Todos os direitos reservados.
Desenvolvido por Altermedia.com.br