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Welles inédito abre hoje o III FestRio

Marcel Ferreira Leite, jornalista e artista plástico que tanto marcou a nossa imprensa numa época dourada, estará em nossa memória hoje à noite. Afinal, Marcel foi o único dos jornalistas de nosso Estado que, em 1942, teve um raro privilégio: conhecer, se tornar amigo e até tomar homéricos pileques de caipirinha com o gênio Orson Welles (1915-1985). Quando Welles veio ao Brasil para aqui filmar "It's All True", produção de RKO financiada pelo Departamento de Estado dentro da política de boa vizinhança, Marcel estava - sabe-se lá porque? - no Rio e acabou conhecendo o diretor de "Cidadão Kane". Ficaram amigos e Eddy Isabel, hoje colunista social do "Correio de Notícias", viúva de Marcel, lembra, que Welles, chegou até a dar a Marcel um mobile de Calder, que até hoje ela conserva, naturalmente, com todo o carinho. xxx Welles revive hoje à noite na tela da Sala Glauber Rocha do Hotel Nacional, no Rio de Janeiro. Para abrir a III FestRio, seu diretor-geral Nei Sroulevich, não poderia escolher um filme mais atraente: a montagem feita a partir dos fragmentos de "It's All True", que Welles nunca conseguiu concluir. Interrompidas as filmagens em meio a muitas confusões reconstituídas por Rogério Sganzerla em "Nem Tudo é Verdade" (que, teve sua primeira projeção, justamente há um ano do FestRio) e que também está merecendo um livro de Heloísa Buarque de Hollanda. O filme de Sganzerla, catarinense de Blumenau, trouxe Arrigo Barnabé, 35 anos, paranaense de Londrina, vivendo Welles - com quem o autor de "Clara Crocodilo" é muito parecido (em sua juventude, é claro). Lançado no Groff, na última semana de outubro, o filme - interessantíssimo, aliás, teve pouco público. Agora, depois de ter sido levado ao festival de Veneza, o que foi possível recuperar das sequências que Welles rodou no Rio de Janeiro e Fortaleza - e que estiveram perdidas por anos nos depósitos da RKO, depois Paramount - será mostrado. A Kodak ajudou a reconstituir o filme, que no mínimo trará a emoção de mostrar um jovem Grande Otelo e Pery Ribeiro, aos 2 anos, filho de Herivelto Martins e Dalva de Oliveira, em algumas sequências feitas no estúdio da Cinédia, em Jacarepaguá. Herivelto Martins, compositor, na época integrante do Trio de Ouro, foi uma espécie de assistente de produção de Welles. A homenagem ao Welles traz ao Brasil a sua viúva, Oja Kodar, e o assistente de direção do cineasta, Richard Wilson, além do fotógrafo que integrava sua equipe - (ver a completa reportagem de Sérgio Augusto, nesta mesma edição). xxx O Festival Internacional de Cinema, Televisão e Vídeo do Rio de Janeiro, um verdadeiro porre de imagens para cinéfilo nenhum botar defeito, inicia hoje, com uma sessão de gala, na qual haverá, entre outros programas, um curta da ONU, "It's All True" e o longa-metragem (hors concours) e "A Roo M With a View" ("Uma Jornada Para o Amor"), do cineasta britânico James Ivory, realizador de "Quarteto" e do belo " Os Bostonianos", exibido recentemente - no cine Luz. A partir de amanhã, começa a maratona: filmes em competição e uma dezena de mostras paralelas em várias salas, com um panorama do cinema up-to-date, na qual a escolha é difícil. Tudo foi feito para que os resultados sejam ótimos, pois Nei Sroulevich, admite que se der certo, a promoção estará consolidada (em 1965, houve o Festival Internacional do Filme, repetido em 1969 e que não conseguiu mais continuidade). Cz$ 18 milhões de custo, programação internacional, dezenas de nomes importantes entre os convidados e, especialmente, filmes atraentes. Uma equipe apaixonada, de gente que se integra ao cinema, nos vários setores - desde Cosme Alves, diretor (licenciado) da Cinemateca, que mesmo em convalescença de problemas cardíacos, é uma espécie de assessor coringa, enquanto Fabio Canosa, o homem do cinema brasileiro em Nova Iorque, trouxe seu know-how para este tipo de eventos. Executivas coordenam múltiplos aspectos da promoção - como a sra. Maria Helena Freitas, na área da recepção, ou a jornalista Elisabeth Vasconcelos, na imprensa, pois o FestRio é, a partir de agora, o grande acontecimento cultural do País. Merecidamente.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
13
20/11/1986

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