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Wilson, último dos malandros no Paiol

Numa semana de ótimos programas - a estréia de "A História Oficial" de Luiz Puenzo (Oscar 86-melhor filme estrangeiro), no cine Palace Itália; o início da temporada da peça "De Braços Abertos" de Maria Adelaide Amaral (auditório Salvador de Ferrante) - se complementa com um excelente musical: a temporada em homenagem a Wilson Batista no Teatro do Paiol (sexta a domingo, 21 horas). Massacrado pela indiferença da Fundação Cultural em relação à programação que, no passado, fazia do Paiol o principal espaço cultural de Curitiba, submetida hoje a uma dieta de "espetáculos" (sic) com roqueiros e amadores da MPB que não atraem maior público, finalmente acontece no teatro do município um espetáculo importante. E isto graças exclusivamente à Funarte, que, lembrando-se de que Curitiba também merece assistir as boas programações normalmente levadas as suas salas no Rio, São Paulo e Brasília, decidiu começar, desta vez por nossa cidade, um show em homenagem a um dos compositores mais importante dos anos 30/40, injustamente esquecido das novas gerações: Wilson Batista (Campos, RJ, 3/7/1013 - RJ, 7/7/1968). Como diz o simpático release distribuído pela Funarte, "ele é do tempo da Lapa cheirosa, das cantoras de tangos argentinos em cabarés, da navalha no bolso, camisa de seda e brilhante no dedo. Nunca trabalhou, como todo bom malandro, mas andava bem alinhado e com bons mil-réis no bolso. O dinheiro vinha da sua incrível facilidade de fazer músicas de sucesso. Wilson Batista - a exemplo de Geraldo Pereira (Juiz de Fora, MG, 23/4/1918 - RJ, 8/5/1955), por sinal seu parceiro em "Acertei no Milhar" (precursor samba de breque, 1940, sucesso na voz de Moreira da Silva) pertenceu a uma geração de sambistas cariocas, que uniu espontaneamente o social à ironia, em dezenas de composições - feitas com diferentes parceiros (Nássara, Roberto Martins, Ataulfo Alves etc.) e que, pela qualidade e inventividade, resistem ao tempo. Assim como Geraldo Pereira teve morte trágica, numa briga com o histórico e folclórico Madame Satã, primeiro gay-macho dos tempos da Lapa, também o final da vida de Wilson Batista foi melancólico. O pesquisador Jairo Severiano lembra que no final dos anos 50, proporcionalmente ao declínio da produção da música de Wilson, havia sua decadência física. O outrora mulato sestroso, protagonista de farras memoráveis, transformava-se aos cinqüenta anos num velho alquebrado, cheio de achaques. Como agravante da situação, sua única fonte de receita, o direito autoral - ele sempre relegou a um plano secundário, a atividade de cantor, que exerceu em dupla com Erasmo Silva (1913-1985), tornara-se insuficiente para assegurar-lhe condições de sobrevivência. xxx Paralelamente ao show com os cantores Joyce e Roberto Silva e participações especiais de João de Aquino e Maurício Carrilho, direção de Túlio Feliciano (hoje a domingo, 21 horas), estará sendo lançado o livro "Wilson Batista e sua época" de Bruno Ferreira Gomes e o elepê ("Salve a Lapa"), com Joyce e Roberto Silva, ambas edições da Funarte - além de um caderno de partituras. Um projeto completo, desenvolvido pela Divisão de Música Popular do INM/Funarte, que graças à competência de Hermínio Bello de Carvalho, vem, há dez anos, resgatando a obra dos mais importantes nomes da MPB. Através do Projeto Lúcio Rangel de Monografias, anualmente são feitos concursos de textos - dos quais 21 já se transformaram em livros. Pelo Projeto Almirante, discos com o fundamental da obra dos grandes autores tem sido editados, em gravações preciosas - enquanto outros projetos são desenvolvidos simultaneamente: "Ary Barroso" divulgando nossa música popular fora do Brasil: "Airton Barbosa", promovendo edição de partituras inéditas levantadas nas pesquisas de projeto Lúcio Rangel ou de acervos particulares e o Pixinguinha, que aciona desde 1976 uma enorme massa de intérpretes levando-os a todos os pontos do Brasil.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
13
01/05/1986

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