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Aramis

Xiquinho e a arte da diagramação na Tribuna

Um dos motivos que fizeram a TRIBUNA DO PARANÁ tornar-se um dos jornais de maior circulação do Paraná - e o líder natural em Curitiba - desde o primeiro número, há 29 anos passados, foi, sem dúvida, a apresentação gráfica. Quando o jornalista João Féder, primeiro secretario de redação do vespertino (que nasceu em outubro de 1956), assumiu a coordenação do projeto idealizado pelos então proprietários da Editora "O Estado do Paraná" (Fernando Afonso de Camargo e Aristides Merhy), o fez com uma idéia bem definida: a imprensa paranaense precisava de uma sacudida. Os jornais eram conservadores, cinzentos nas apresentações gráficas, uma leitura monótona. A imprensa brasileira, na época, começava a revigorar-se especialmente com as novidades que Samuel Wainer (1912-1980) havia introduzido na "Última Hora", no Rio de Janeiro, fundada cinco anos antes (12 de junho de 1951) e que, já em 1952, passava também a produzir uma edição paulista. DIAGRAMAÇÃO era, até então, palavra inexistente, nas redações. Os jornais eram fechados na base do olhômetro, com os chefes de oficina decidindo, na prática, o que "cabia" na primeira página e onde ficaria o resto. A "Tribuna do Paraná" foi o primeiro jornal do Paraná a disciplinar seus espaços, a criar atrativos visuais, a modificar a posição e as formas das fotografias - inovando também nas legendas, textos e, especialmente, manchetes. Com isso, desde a circulação do primeiro número, a 17 de outubro de 1956, o vespertino passou a ocupar uma faixa de leitores que até hoje se mantém com a maior fidelidade. xxx Entre tantos (recitá-los seria, forçosamente, cometer injustiças), profissionais que, ao longo de três décadas, trouxeram a melhor contribuição à Tribuna, em vários setores, há um, entretanto, que merece ser lembrado. Especialmente porque a ele se devem as novidades de renovação gráfica /visual que a "Tribuna" trouxe: o Xiquinho - no registro civil, Osman Zimmerman, de uma família de gráficos da maior tradição na imprensa paranaense (o pai, João Zimmerman, passou pelas oficinas de jornais como "A República" e "O Dia", por onde também iniciaram na linotipia, seus filhos, Mozart, Cid (Milciades), já falecidos, e o caçula Xiquinho, loiro e bem humorado, que ganhou esse apelido carinhoso ainda na infância, porque lembrava o personagem das pioneiras histórias, em quadrinhos de Luís Sá em "O Tico-Tico"). Xiquinho fez um rápido estágio na "Última Hora" do Rio de Janeiro e aprendeu muito. Inventivo, inovador, interessando-se também pela fotografia, foi, durante mais de 10 anos, peça importante dentro do esquema da Tribuna. João Féder, como [jornalista], mancheteava, diariamente, em corajosa oposição ao então governador Moysés Lupion, enquanto o departamento de promoções, sob a direção de Denísio Belotti e Constantino Viaro (hoje presidente de clubes - Santa Mônica Clube de Praia e Curitibano, respectivamente), faziam promoções intensas - do evigorosamente do Carnaval de rua até a Tribunascope, este idealizado pelo ótimo Julio Neto, e que merecerá, nos próximos dias, um registro à parte. xxx Dentro da história do jornalismo no Paraná, a renovação gráfica e editorial que a TRIBUNA trouxe merece, naturalmente, espaço e atenção especiais - inclusive pela continuidade na forma de ampla comunicação, que hoje tem no comando o experiente e talentoso Francisco Alfredo Dias Camargo. No aspecto da diagramação, a escola de Xiquinho foi profícua: deixou as marcas renovadoras, que, nas décadas seguintes, forram absorvidas por outros profissionais e que, 10 anos depois, na reestruturação de O ESTADO DO PARANÁ, tiveram também outra importante contribuição - que foi da experiente dona Clara, trazida da redação da "Última Hora", de São Paulo, pelo jornalista Mussa José Assis. A diagramação de jornais e revistas é, aliás, uma das questões com menor bibliografia especializada. O que torna dos mais oportunos o lançamento de "Diagramação - O Planejamento visual gráfico na comunicação impressa", de Rafael Souza Silva (coleção Novas Buscas da Comunicação, volume 7, 152 páginas, Cr$ 33.500, Summus Editorial). Resultado da longa experiência profissional do autor em diagramação e como professor universitário, preenche uma lacuna na escassa literatura técnica no campo da comunicação impressa. Rafael Souza Silva busca despertar a atenção dos estudantes e profissionais para a importância da linguagem visual contida no discurso gráfico, cuja função básica é orientar a leitura de forma rápida e agradável. Assim, inicia abordando princípios de percepção visual, estética e o processo histórico das artes gráficas, contribuíram de maneira marcante para o desenvolvimento da Imprensa. Traz, também, observações sobre pesquisas realizadas no campo da legibilidade e visualização da página imprensa. Rafael Souza Silva destaca os rumos que o jornalismo impresso precisou seguir para sobreviver, diante da concorrência dos poderosos veículos de comunicação de massa eletrônicos. Isso influi substancialmente na apresentação estética e na funcionalidade da leitura dos jornais. A fundamentação teórica completa-se com um receituário específico, em linguagem simples, sobre as técnicas de produção e [planejamento] visual gráfico. O autor fornece subsídios para que os interessados possam desenvolver projetos gráficos de modo racional, evitando os transtornos de planejamentos gráficos mal resolvidos. Inteligentemente, Souza Silva soube dosar, de forma eficiente, as duas partes, fugindo da exaustão teórica e do hermetismo técnico, utilizando uma linguagem simples e didática, além da farta quantidade de ilustrações. Acrescentou, também, um glossário de termos técnicos. Enfim, realizou um livro que se poderia chamar de excelentemente bem produzido e diagramado. Em forma e conteúdo.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Tablóide
22/10/1985

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