Zardoz & o estranho mundo de Vortex
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 03 de janeiro de 1975
Inquietante, simbólico e, às vezes, até hermético para a compreensão do espectador menos atento, "Zardoz" (cine Ópera, 2a semana) é a confirmação do talento de John Boorman, admirável cineasta que desde sua violenta estréia no thrilling.
"À Queima-Roupa" (Point Blank, 66), vem realizando uma obra sólida, corajosa e de profundas preocupações sociais. Acumulando a produção, direção e roteiro neste seu primeiro Science Fiction, Boorman oferece um filme sério, de requintada produção e, principalmente, com uma estória que faz com que o espectador deixe o cinema pensando e discutindo as imagens que acabou de ver. Mesmo sem o impacto de "2001 - Uma Odisséia no Espaço" (2001, de Stanley Kubrick) ou o terrível pesadelo de "No Mundo de 2020" (Soylent Green, de Richard Fleischer), este "Zardoz" também joga com os fatos de uma cruel sociedade futurista - repleta de símbolos e indagações.
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Um "Mágico de Oz" sem Judy Garland (1922-1969) e a musicalidade tranqüila do filme que Victor Fleming realizou em 1939, do romance de Frank Baum - e onde ao invés de se ouvir "Over The Rainbow", "Fellow the Yellobrick Road", "If a only had a brain" e outras músicas de Herbert Sothart/E. Y. Harburg, há uma cortante trilha sonora de David Munrow eis uma imagem que poderia ser lembrada para esta estranha história de Boorman, de um mundo não admirável muito além de 1984 - e onde alguns atingiram uma imortalidade indesejável, enquanto no mundo exterior ao paradisíaco Vortex, os brutos cuidam de exterminar a raça humana que insiste em reproduzir-se. E de lá surge Zed (Sean Connery, numa expressiva interpretação), espécie de anjo vingador que rompe o delicado equilíbrio da redoma criada pelos cientistas - e dela liberta alguns exemplares, originando uma nova raça junto com a cientista May ( Sara Kestelman), na última e marcante imagem do filme.
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Suscetível a ser mal compreendido pelo público menos afeito a SF - e por isso mesmo sem possibilidade de repetir o êxito comercial de "2001" ou "2020", este filme de Boorman tem, entretanto, dignidade para figurar entre os melhores SF dos últimos anos - e só o fato de ter sido lançado na penúltima semana de 74, fez com que ficasse fora das relações dos melhores do ano.
LEGENDA FOTO 1 - Zardoz: o terrível mundo da imortalidade.
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