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Aramis

Zé e Cláudio, a melhor dupla - 85

José Renato (Moshkovich) (Rio de Janeiro, 1956) é um rapaz de sorte. Com a mãe (que até parece irmã, tão jovem é), Marlene, aprendeu as mais belas canções que ela, com sua bela voz, embalava-o em sua primeira infância. Com o pai, um jornalista de muitas histórias e amigos, Simão De Montalverne, hoje numa etílica aposentadoria mas ainda capaz de contar quem foi quem na noite carioca nos anos 40/50, herdou a simpatia, a competência e sobretudo, o entusiasmo pela qualidade musical. O resultado só poderia ser o que deu: um compositor, instrumentista e cantor de mão cheia. Em sua adolescência, ainda no Rio de Janeiro, começou a ganhar festivais de MPB em colégios, com tanta regularidade que acabou até sendo "proibido" de competir já que seu talento não deixava vez aos outros menos dotados. Em Curitiba, onde residiu algum tempo, Zé Renato fez uma boa parceria com Heitor Valente, hoje mais conhecido como "Hector Valentini" na área da alta costura, do que por seu passado de (bom) letrista. Como violonista dos bons, Zé também teve sua fase de chorinho, integrando alguns grupos instrumentais, mas logo a sua voz privilegiada o faria entrar em formações vocais: "Cantares" foi a primeira formação e o encontro com um outro talento imenso, Cláudio Nucci, que, quase 10 anos depois, com ele continua na estrada - e juntos acabam de fazer um belíssimo lp: "Pelo Sim, Pelo Não" (CBS), catapultado com duas faixas da trilha da novela "Roque Santeiro". Zé, Cláudio - mais Maurício Maestro e David Tygell formaram o Boca Livre, aquele excelente grupo vocal que surpreendeu todo mundo no final dos anos 70, vendendo mais de 90 mil cópias do lp independente e encantando a todos que o ouviam. Cláudio saiu e foi substituído por Lourenço Baeta e o grupo continuou, deixando até de ser independente para ganhar um milionário (na época) contrato da Polygram. No ano passado, o Boca Livre desfez-se de vez. Cada um de seus integrantes segue caminhos próprios: David, compondo cada vez mais para cinema ("O Espelho de Carne", o inédito "A Igreja dos Oprimidos"), Lourenço num trabalho solo, infelizmente meio esquecido nos últimos tempos; Maurício trabalhando bastante como arranjador e Zé Renato em vôos solos: dois lps na Polygram e, agora contratado pela CBS, novamente com Cláudio Nucci, que já em 1984 havia feito um elepê extraordinário na Odeon - para nós um dos 10 melhores daquele ano, mas que passou em brancas nuvens. Além de bons de música o duo também é bom de cama: Cláudio foi inspiração para Nana Caymmi (a melhor cantora do Brasil) durante algum tempo; Zé Renato não deve entrar em roda de jogo, tal a sua lista das mais desejáveis conquistas: Carla Camurati, Olívia Byghton e - atualmente - Patrícia Pillar, para só falar nos nomes mais famosos. Compondo juntos ou sozinhos - eventualmetne com outros parceiros (Juca Filho, Ronaldo Bastos), Zé e Cláudio têm uma produção esplêndida. São canções da maior suavidade, redondas, que fazem bem aos ouvidos, e à emoção. Por exemplo, de Zé e Cláudio, temos neste novo lp, "Pelo Sim, Pelo Não" e "A Hora e a Vez" (ambas da trilha de "Roque Santeiro"); "Mel da Ilha" (também com Maurício e Ronaldo Bastos); de Zé e Xico Chaves, "Papo de Passarim" e "Toda Luz"; de Cláudio e Xico "Manágua", enquanto só de Cláudio é "Piano" e só de Juca Filho, "Atravessando a Cidade". A dupla é tão afinada e de bom gosto que valoriza inclusive versões: "Quinhentas Mais" (Hedy West), em tradução de Márcio Borges e "De Nós", que Claudinho adaptou do "Agnus Dei", 2º movimento da suíte "L'Artesienne" de Bizet. A dupla tem trabalhado bastante: em "O Corsário do Rei" (Chico Buarque), defenderam o belo "Salmo"; Zé, solo, a capela, gravou um compacto maravilhoso, com "Modinha" (Hermínio Bello de Carvalho), como complemento do álbum "Lira do Povo", infelizmente de circulação dirigida. Zé e Cláudio: uma dupla da pesada. Excelente. Com um disco maravilhosamente honesto e bem realizado.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Tablóide
19
05/01/1986

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