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Zizi, o canto do adeus

Ao lado dos contatos comerciais estabelecidos nos dois dias que passou em Curitiba, o "record-man" Harry Zuckermann, vice-presidente da Companhia Industrial de Discos, do Rio de Janeiro, teve oportunidade de ouvir pelo menos duas belas vozes femininas: as cantoras Zizi Barnier e Eliana da Praia. Diretor há 10 anos de uma das poucas gravadoras totalmente nacionais, Zuckermann está habituado a ouvir diariamente novos intérpretes. Mas, mostrou-se surpreendido ao conhecer as interpretações de Zizi, que vai da dramaticidade de "Free Again" e "Folhas Mortas" aos mais tradicionais cantos franceses, e da brejeirice e suavidade de Eliana da Praia, uma jovem morena que começa a ser observada por quem se interessa por música popular nesta cidade sem portas mas, também, de poucos ouvidos musicais. Ao fundo, emoldurando as vozes de Zizi e Eliana, o piano agradável de José Acácio, doublê de professor de educação física e pianista de todas as madrugadas na Casa de Queijos & Vinhos. Zizi Barnier tinha razões para cantar de forma ainda mais sentida na noite de terça-feira: ontem à tarde, viajou para São Paulo, onde se fixará pelos próximos meses. Depois de dois anos em Curitiba - uma frustrada experiência de tentar movimentar uma boate (Bugati) e o sucesso do restaurante Chez Zizi, a artista francesa cansou de lidar com cozinha & máquina registradora. Aceitou o convite de seu velho amigo Abelardo Figueiredo, do "Beco", em São Paulo (onde por sinal teve o seu primeiro contrato artístico, ao chegar ao Brasil, em novembro de 1971) e ali vai estrear, dentro de algumas semanas, com um espetáculo em homenagem a Josephine Baker. Nascida em Marselha mas criada em Paris, uma vivência artística espalhada por muitas casas noturnas das maiores cidades - do "Moulim Rouge" ao Caesar's Palace, em Las Vegas, Zizi acabou ficando em Curitiba mais tempo do que pretendia. Para uma cantora de grande versatilidade - um estilo em que funde o melhor de Edith Piaff, Barbra Streissand e Judy Garland, que em Roma, em 1960, chegou a fazer algumas cenas na superprodução "Cleópatra" (que quase levou a 20th Century Fox a falência), Zizi não poderia ficar definitivamente em Curitiba. Onde poucos souberam entendê-la em toda sua dimensão, em suas múltiplas experiências, incluindo uma tentativa de fazer teatro no Bugatti, com a encenação de "El Grande de Coca-Cola". Jacques Coullet, 35 anos, formado em 1968, pela Escola de Florestas de Antibes, e que por amor a Zizi abandonou na França uma carreira de técnico agrícola, durante os últimos meses em Curitiba vinha dedicando-se a um projeto que mantinha em segredo: o cultivo de alguns pés de lavanda, cujas mudas importou da França - e que pretendia desenvolver, em escala industrial, numa chácara nos arredores de Curitiba. Agora, vai transferir o seu projeto para São Paulo. O restaurante Chez Zizi, inaugurado em fevereiro do ano passado abriu pela última vez na noite de segunda-feira. Mas, a simpática casa na Rua José de Alencar, não vai fechar definitivamente: com o nome de C'est Ci Bom" reabre em abril. Zizi o vendeu para uma família francesa, com negócios em Paris, Londres e África do Sul, que decidiu se fixar em Curitiba. Dois irmãos, Christian e Herbert, chegam nos próximos dias, vindos de Cape Town, onde residiam até há pouco. Os conflitos raciais em escalada naquele País os estimularam a trocar de País e a cidade escolhida foi Curitiba. Por indicação do cantor Gilbert, acabaram conhecendo Chez Zizi e o negócio foi fechado imediatamente. Falando em restaurantes, a Adega do Marquês está agora sob direção exclusiva de Ito Cornelsem, 22 anos, ex-fotógrafo de O ESTADO que, retornando após 8 meses de vivência em Londres, decidiu assumir o controle da casa. Reestruturou a firma e está partindo para um novo esquema de atendimento. Outro restaurante português da cidade, o Mouraria, tem a partir de hoje nova atração: a cantora Elisabeth.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
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10/03/1977

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