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Aramis

Na menor avenida, Mappim x Mesbla

Uma grande translação imobiliária era o assunto mais comentado ontem: a compra do Palácio Avenida pelo grupo Mappim, que assim viria a se instalar na Avenida Luiz Xavier – defronte à Mesbla. A notícia ainda não foi confirmada – nem pelo possível comprador, nem pelo grupo Bamerindus, dono daquele imóvel desde 1968, quando o adquiriu por apenas Cr$ 8 milhões dos herdeiros Ferez Merhy. Entretanto, mais do que uma transação imobiliária, a confirmação de que o Palácio Avenida terá novos donos tem grandes reflexos sobre o comportamento da parte mais central da cidade. O esvaziamento da chamada Cinelândia curitibana, iniciado no final dos anos 60 e que atingiu seu auge em janeiro de 1979, quando Husseim Hamdar vendeu parte de sua propriedade onde [funcionavam] os cines Opera/Arlequim, ao grupo Lojas Americanas. De um trecho onde existiram , durante mais de cinco décadas, os melhores restaurantes, bares e cinemas, para um espaço onde hoje há um único café – o Damasco, instalado no calçadão, a transformação da fisionomia urbana chamada menor avenida do mundo é tema que sempre merece registro. xxx Que o Palácio Avenida, construído por Ferez Merhy (1874 – 1946) entre os anos de 1927/1929, é um edifício integrado à fisionomia do centro de Curitiba não resta dúvida. O que se discute é a sua validade em termos arquitetônicos – pois com seus três andares, ocupando uma ampla área, não tem nada que o caracterize como obra de maior valor histórico – argumento que levou o Bamerindus a adquiri-lo há 13 anos passados, pensando em promover sua imediata demolição e construir um novo prédio – funcional e destinado a atender as suas necessidades bancárias. O que não se contava seria a verdadeira batalha judicial com os inquilinos que estando até hoje, já que a Fama Filmes, dona do Cine Avenida desde julho de 1965, vem esgotando, todos os recursos legais para permanecer no prédio até a decisão final do Supremo Tribunal Federal –em cuja instância o processo de despejo já se aproxima. Enquanto os velhos inquilinos do Palácio Avenida, que quando de sua inauguração, há 53 anos, era o mais sofisticado prédio de apartamento da cidade, brigaram na Justiça, iniciava-se um processo paralelo de esvaziamento da Avenida Luiz Xavier. Os restaurantes tradicionais foram fechados, o velho Bar – Confeitaria Guairacá cerrou suas portas em março de 1979, quando os seus últimos proprietários – os portugueses Miguel Martins Correia e Olímpio Andrade, aceitaram sua proposta. xxx No dia 9 de janeiro de 1979, às 13 horas, o advogado Roberto Lombari, junto com diretores das Lojas Americanas, entregou a Arnaldo Zonari Filho um cheque no valor de Cr$ 4 milhões, indenização acertada para que os cines Ópera e Arlequim desocupassem os prédios Carlos Monteiro e Heloísa, respectivamente. O bilionário libanês Husseim Hamdar, que em agosto de 1975, havia adquirido aqueles imóveis do professor David Carneiro por apenas Cr$ 18 milhões – vendendo menos da metade da área total – 2.600 metros quadrados, recebeu Cr$ 47.650.000,00 – que aplicou na compra de novos prédios no centro da cidade – onde hoje é dono de mais de duas dezenas de edifícios. Há dois anos, as Lojas Americanas inauguravam sua ampliação – onde antigamente existia o cine Arlequim, no Largo Frederico Farias de Oliveira. E o edifício Heloísa, entre 1980/81, transformou-se na Mesbla. Em mais um excelente negócio que sua luminosa estrela lhe proporcionou, Husseim teve o prédio totalmente reformado – investimento de mais de Cr$ 350 milhões, o nome mudou para Omar Hamdar – e a Mesbla ali funciona, o que lhe dá, mensalmente, um gordo percentual de seu faturamento – suficiente para fazê-lo figurar entre os 5 maiores contribuintes do imposto de renda no Paraná. xxx As Lojas Americanas ocupam hoje um imenso espaço, em forma de "L", entre a Rua Ébano Pereira e o Largo Frederico Farias de Oliveira. O edifício Heloísa, que David Carneiro construiu entre 1939/1941 – num custo de "230 contos de réis"- e que também foi, por uma década e meia, um sofisticado prédio de apartamentos (o próprio David habitou a sua cobertura até 1949, quando se mudou para a mansão Brigadeiro Franco) – transformou-se nos últimos 3 anos. Após marchas e contra marchas o Ippuc aprovou um projeto modernoso, com fachada em vidro raybann e com uma total transformação do aspecto externo. Em troca, a Mesbla se comprometeu em montar um café no térreo e um cinema. O café ficou na promessa e o cinema tem, legalmente, uma desculpa: no contrato feito em janeiro de 1979, para deixar os cines Ópera/Arlequim, a Fama Filmes exigiu que durante 20 anos nenhum outro cinema poderia ali funcionar. A opção dada pela Mesbla seria montar um "cine-hora", para os filhos dos fregueses, a exemplo do que existe em outras lojas de sua cadeia. xxx Se o Mappim – outra super loja [?]departamentos, efetivamente concretizar a operação com o Bamerindus e vir a ocupar o Palácio Avenida – naturalmente fazendo nele uma total reforma – estará provado de que Curitiba é uma praça fascinante em termos comerciais. Pois o número de grandes estabelecimentos comerciais que aqui se implantaram nos últimos anos contrataria as cassandras que vivem apregoando crise financeira. Paralelamente ao Shopping CenterPinhais, que vem tentando sobreviver na distância de 8 km do centro, as ruas centrais da Capital recebem novas lojas – enquanto empreendimentos de bilhões como a ampliação da C&A – construindo novo edifício na Rua Marechal Deodoro, o Shopping Center Itália, o desenvolvimento da Muricy e o futuro do Shopping Center Mueller – oferecem milhares de metros de lojas.  
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
6
30/01/1982
Pesquisando sobre a menor avenida do mundo, encontrei esta ótima matéria, contendo publicação de décadas atrás, e resgatando um pedaço da história de Curitiba, do Paraná, e "por que não?" do Brasil. Aplausos!

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